Vacaria dos pinhais
Vacaria dos pinhais | |
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Descrição da obra | |
Autor | Fidélis Dalcin Barbosa |
Título | Vacaria dos pinhais |
Assunto | História |
Formato | E-book (formato PDF) |
Editora | Projeto Passo Fundo |
Publicação | 2014 |
Páginas | 320 |
ISBN | 978-85-8326-060-8 |
Formato | Papel 15 x 21 cm |
Editora | Edições EST |
Publicação | 1978 |
Vacaria dos pinhais VACARIA, em castelhano baqueria, era nome dado a grandes extensões de campos naturais, onde os missionários jesuítas das Reduções e dos Sete Povos das Missões colocavam seus rebanhos, para se criarem soltos, alçados, formando reservas para as suas estâncias. A Vacaria do Mar, situada entre a Lagoa dos Patos e os rios Jacuí e Negro, havia sido pilhada por espanhóis e portugueses. Para fugir à sanha predatória destes conquistadores, o superior provincial dos jesuítas, Pe. Lauro Nunes, em 1702, resolveu criar a Vacaria dos Pinhais, numa região que parecia inacessível a espanhóis e portugueses. Era uma vasta região privilegiada, fortemente cercada por fronteiras naturais: ao Levante, a gigantesca muralha dos Aparados; ao Norte, o caudaloso rio Pelotas; ao Sul, o profundo rio das Antas; e, ao Poente, a imensa floresta mais tarde denominada Mato Português e Mato Castelhano. Região de incomparáveis belezas, de verdes campos ondulados, com abundantes matas e capões, quase sempre dominados pelo altivo pinheiro-araucária. Os missionários conheciam a região há cerca de meio século, quando principiavam a catequese entre os índios. Percorrera-a o Pe. Cristóvão de Mendonza, mais tarde assassinado pelos próprios indígenas, no dia 26 de abril de 1635, na localidade hoje conhecida por Água Azul, em Santa Lúcia do Piaí, município de Caxias do Sul..
Apresentação
Primeiro Capítulo, pelo Autor
SOU VACARIANO Eu vim de São Paulo. Vim de Laguna, de Portugal, do Arquipélago dos Açores. Vim de Minas Gerais, do Rio de Janeiro. Vim de outros recantos.
Vim abrindo caminho pelo sertão agreste e bruto, galgando montanhas, vadeando rios caudalosos, enfrentando as setas do índio guaianá, do botocudo, do coroado, do caingangue. Por mais de um século resisti audacioso à pertinaz perseguição dos primitivos donos dos Campos de Vacaria.
Para minha defesa, levantei meu primeiro rancho no topo da coxilha, ponto de vigia contra a agressividade indígena. Aqui cheguei, para me estabelecer nos sertões do Planalto, quando o sol da civilização principiava a despontar nos horizontes do Continente de São Pedro.
Nos tormentosos primórdios de minha implantação, como uma bênção do céu a Virgem Nossa Senhora da Oliveira me apareceu milagrosamente. Entronizei então sua linda imagem em modesta ermida, numa prece a implorar proteção sobre minha família e meus campos.
Mas a minha celestial Padroeira merecia um trono mais digno. Então, pedra por pedra, levantei-lhe um templo soberbo, do mais subido valor artístico, autêntico orgulho de um vacariano.
Fui abençoado. Como dádiva de Deus, encontrei aqui, nesta amplidão da campina sem fim, imensos rebanhos, providencialmente introduzidos outrora pelos Padres das Missões.
Domestiquei e aquerenciei estes rebanhos e tornei-me criador de gado. Ao longo do caminho da serra, aberto por Francisco de Sousa e Faria e Cristóvão Pereira de Abreu, escrevi a epopeia das tropas, arrostando todos os perigos, em demanda de Sorocaba.
Por longos anos, toquei o rosário da tropa de cargueiros rumo do litoral, transpondo a truculenta Serra dos Aparados e, mais tarde, a Serra das Antas, em busca de Torres, de Conceição do Arroio, de Santo Antônio da Patrulha, de São Leopoldo, de Taquara do Mundo Novo...
Minha fazenda, perdida no descampado, tornou-se aos poucos uma pequena cidade, de portas abertas, dia e noite, para quantos demandassem as distâncias.
Meus campos eram virgens, enfeitados de capões e restingas de altos pinheiros gemedores. Campos abertos, onde meu gado se entreverava com o gado do vizinho, na maior liberdade, fraternalmente.
Montado no meu pingo, cortava a campina deserta, imensa, pontilhada de reses a pastar, emoldurada ao longe por altivos pinheiros. Ah! os pinheiros da minha Vacaria dos Pinhais, que ofertavam, generosamente, a madeira para a construção do meu rancho! Pinheiros que no inverno atapetavam o solo de frutos para engordar o meu porco e a minha vaca.
Ao entardecer, quando o sol acendia uma fogueira por trás do pinhalão, como eu me enternecia ouvindo o canto da perdiz, o canto da seriema que enchia de nostalgia infinita a vastidão da campinai.
Já noite, chegava eu então na primeira fazenda. Fosse embora desconhecido o seu proprietário, eu era sempre recebido com festa, sorrisos e abraços, tornando-me alvo da mais carinhosa hospitalidade.
Hoje é diferente. A bela paisagem de pastagem nativa desapareceu, para dar lugar à lavoura de trigo ou de soja. O velho pinhal tombou e com ele desapareceu a beleza que engalanava os horizontes, nos confins da fazenda.
Ah! os insultos do progresso, que acabaram com os encantos da Vacaria dos Pinhais!...
Índice
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- 2014 - A versão e-book foi lançada na III Semana das Letras da Academia Passo-Fundense de Letras realizada em 8 de abril de 2014.
Referências
- ↑ BARBOSA, Fidélis D. (1978) Vacaria dos pinhais -Passo Fundo: Projeto Passo Fundo, 2014 320 páginas. E-book