Usuários de coletivos urbanos são recebidos com poemas

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Usuários de coletivos urbanos são recebidos com poemas

Em 30/04/2004, por Paulo Domingos da Silva Monteiro, Jurema Carpes do Valle e Santina Rodrigues Dal Paz


Usuários de coletivos urbanos são recebidos com poemas[1]


Em Passo Fundo, os usuários dos coletivos da Coleurb já se acostumaram com os poemas que são expostos nos ônibus daquela empresa.

Inicialmente, os poemas eram escritos por um grupo de jovens poetas passo-fundenses. Com o tempo, a origem dos trabalhos foi sendo ampliada. Até que foi posto em prática o projeto Poemas nos Ônibus, que culminou, no final do ano passado, com o lançamento de livro, reunindo poemas selecionados nos últimos dois anos.

O vereador Juliano Roso tentou, através de projeto de lei, que os poemas fossem expostos em todos os ônibus urbanos da cidade. O projeto não foi aceito. Apenas uma empresa, por iniciativa própria, expõe poemas. Melhor para os seus usuários.

A Coleurb está satisfeita. Recebe muitos elogios dos passageiros, que vão continuar lendo bons versos escritos por poetas de Passo Fundo e de toda a região. É o que disseram Cristiane Maria di Primio Gonçalves, psicóloga, e Verônica Arregui, relações-públicas da empresa, em entrevista aos acadêmicos Paulo Monteiro, Jurema Carpes do Valle e Santina Rodrigues Dal Paz.

APL - Como começou o projeto Poemas nos Ônibus?

Cristiane - Começou em 1999, com a divulgação de poemas produzidos por um grupo muito bom de jovens poetas. Eles nos procuraram e, como tínhamos esta idéia, foi tudo mais fácil. Depois de alguns meses, o grupo se dissolveu e continuamos divulgando outros autores, inclusive retirados da internet. Para um melhor controle de qualidade, surgiu a idéia do concurso, contribuindo para o surgimento de novos talentos, além de fixar critérios para a divulgação.

APL - Como tem sido a participação?

Verônica - Muito boa. Da primeira edição, em 2002, participaram 172 poetas, com 320 poemas; e da segunda, em 2003, 140 poetas, com 172 poemas. A procura e a qualidade nos surpreenderam.

APL - Qual a idade dos participantes?

Cristiane - A faixa etária predominante é dos 20 aos 35 anos, mas encontramos poetas dos 12 aos 82 anos. Muita gente que participa das oficinas do CREATI tem concorrido, com isso encontramos vários autores com mais de

60 anos. Os conteúdos são os mais diversos possíveis.

APL - Então a empresa está satisfeita?

           Verônica - A intenção era modesta (mesmo tendo partido de uma direção que entende que a cultura é importante), mas a coisa cresceu, com os autores se sentindo prestigiados. Muita gente também ligou, sugerindo que o concurso fosse aberto para a região. Outros ligaram, solicitando telefones dos autores, pedindo cópias dos poemas e exemplares dos livros. Pessoas chegam aos fiscais da empresa, para elogiar a iniciativa.

APL - Em Porto Alegre, há bastante tempo, há uma iniciativa parecida?

Cristiane - Sim. Mas é diferente. Lá é um projeto oficial, do município. O nosso é pioneiro como iniciativa de empresa, inclusive patrocinando a publicação em livro. Nossa grande festa do ano passado, maior do que a apresentação de ônibus novos, foi o lançamento do livro.

APL - A Coleurb pretende dar continuidade ao projeto?

Verônica - A empresa vai continuar com o projeto. Em maio próximo, divulgaremos o regimento do próximo concurso. Vamos selecionar mais 15 poemas; e, em 2005, será lançado outro livro.

APL - Qual a importância de uma comissão julgadora?

Cristiane - A preocupação da empresa é que a escolha dos poemas tenha credibilidade. Por isso, convidamos uma comissão isenta, com representantes da Academia Passo-Fundense de Letras (que tem dois representantes), Secretaria Municipal de Educação, Sétima Coordenadoria Regional de Educação e Universidade de Passo Fundo. Quando se verifica que, inclusive autores com livros publicados participam do concurso, isso vem comprovar sua respeitabilidade. O anonimato, através do uso de pseudônimo, é importante. E estamos vendo autores sendo incentivados a publicar livros, a partir do concurso.

APL - Também é uma forma de valorização dos poetas?

Verônica - Os poetas se sentem valorizados ao terem seus nomes reconhecidos. É a transformação da lagarta em borboleta. Como não há prêmio em dinheiro, as pessoas se inscrevem, unicamente, buscando o reconhecimento de seus trabalhos.

APL- O livro também é importante ...

Verônica - Quem lê o livro sente a diversidade de sentimentos e inspirações.

APL - Poemas nos Ônibus é um projeto isolado?

Cristiane - Não é um projeto isolado na Coleurb. Ele não surgiu do nada.

Foi antecedido pela pintura dos muros da empresa, com murais de artistas locais. Estamos pensando em um concurso de desenhos e pinturas, entre as crianças de Passo Fundo. A empresa mantém biblioteca, inclusive com bibliotecária. Temos dado apoio ao Festival Internacional de Folclore e ao jornal interno. Mantemos o Projeto "Diploma na Mão", com cursos profissionalizantes, e o "Pescar", reunindo pessoas sob vulnerabilidade social.

Depoimentos de alguns poetas

Eloy Fiebig, 56 anos, professora de Língua Portuguesa, poema selecionado "Vida":

"Foi a primeira vez que participei do concurso e foi minha primeira poesia. Minha inspiração partiu de um momento, quando minha neta olhou a lua cheia e se entusiasmou. A partir daquela cena percebi que a vida era aquilo ali, que a vida é feita desses momentos. E então escrevi sobre a vida".

Liciane Duda Bonatto, 48 anos, programadora visual, poema selecionado "Canto":

"Para mim foi um desafio! Escrevi minha poesia a partir de uma inspiração, de um momento de encantamento, quando nosso coraI saiu cantando pelos corredores da empresa, após o ensaio, e nosso canto ecoou, chamando a atenção e contagiando a todos".

Keli Mara dos Santos, 16 anos, estudante, poema selecionado "Você":

"Eu já tinha um poema pronto, mas não sabia como participar do concurso. Então, minha professora levou a ficha de inscrição para eu preencher e participar. Dei um grito tão grande no telefone, quando me ligaram avisando que eu tinha sido selecionada! Fiquei super-contente" .

Maria Ione Harres, 59 anos, vendedora autônoma, poema selecionado "Reencontro":

"Eu ando muito de ônibus e sempre escrevo as poesias do ônibus. Este ano, ouvi no rádio e me perguntei por que não participar?’. E comecei a me inspirar, pois sou muito romântica, leio muito ... E fiz oito poesias! Mas pude inscrever apenas duas. Quando soube que tinha sido urna das selecionadas, foi uma alegria tão grande, tão grande, que até hoje aquela emoção não passou ainda. Custo a acreditar que fui selecionada em meio a tantas pessoas talentosas, 48 anos após ter deixado de estudar. Quando nascemos com um dom assim, ele flui dentro de nós. Eu pretendo estudar um pouco mais de literatura e ainda quero escrever um livro de poesias".

Aide Teresinha Treméa, 29 anos, funcionária pública, poema selecionado "O Ônibus":

"Eu escrevo poesias desde os 11 anos de idade, incentivada pela minha professora de Língua Portuguesa. Em uma oportunidade, ela solicitou que escrevêssemos um poema. E o fato de ter escrito um recado: "continue escrevendo!", me estimulou ainda mais a continuar com as minhas poesias".

Referências

  1. Entrevista publicada na revista Água da Fonte nº 1, com Verônica Arregui e Cristiane Gonçalves