Uma Época, sinais de desenvolvimento

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Uma Época, sinais de desenvolvimento

Em 12/12/1989, por Delma Rosendo Gehm


Uma Época, sinais de desenvolvimento (GEHM, Delma R. (1989). pág. 178-184)[1]


Coches

Eram carros de praça, usados para passeios e, mesmo, transporte fora da cidade. Existiram desde o começo do século e desapareceram na década de 1930.

Eles enfeitaram a vida da cidade com o tilintar de suas campainhas, que avisavam a chegada, quando chamados.

Eram puchados por tração animal, com parelhas de ca­valos (caprichadas).

O ruído de suas rodas, o trote cadenciado dos ani­mais, marcaram uma época de comunicações, nesta Passo Fun­do e região.

O valor da corrida, sem distância determinada, na zo­na da cidade, era de 2$000 (dois mil réis).

A parte do carro ocupada pelos passageiros era co­berta e, em caso de mau tempo havia uma lona que protegia a parte dianteira dos fregueses.

Comportava quatro passageiros em 2 bancos (um fron­teiro ao outro), sendo um mais confortável (como o banco na mesma posição dos carros, ou automóveis atuais, atrás do chefer); o outro mais estreito ã frente.

O boleeiro (dirigente), ficava em posição mais ele­vada, assentado na boleia, com mãos firmes nas rédeas, chicote ao lado, para fazer uso quando necessário. O boleeiro não possuía nenhum resguardo. Duas meias portas, uma de ca­da lado dos passageiros, era o amparo que existia. Os ban­cos eram estufados, bem como os encostos.

As empresas desses carros de praça, que temos conhe­cimento foram os seguintes: de Feliciano Trindade, cujas cocheiras e residência do proprietário, situavam-se à Av. Brasil Leste, local onde hoje se encontra a casa do Dr. Odaglas Salgado e redondezas; de Teleopholo Muller, cujas cocheiras e residência eram no Boqueirão, à Rua Cel. Miran­da entre Morom e Av. Brasil.

Conhecemos um fato de viagem do Juiz da Comarca de Passo Fundo, para Soledade (primitivo nome Sul idade), em carro da época (tração animal) e, que, para acelerar a via­gem foram usadas 2 parelhas de cavalos, transformando-se o percurso em "excelente viagem".

A fobia da velocidade, na década de 1910, já afetava Passo Fundo. Havia um carro de propriedade de Zeferino de Tal, que apostava com outro colega de nome Claro Santos, cujo veículo era puxado por uma parelha de rozilhos bran­cos (dizem que eram da raça inglesa "Pecheron"), para subirem a rampa da Rua Cel. Chicuta, saindo da Paissandú até a rua Morom.

Esse sensacional evento, na época, foi festivo para a cidade, quando as apostas foram polpudas.

Naquele tempo a Rua Cel. Chicuta ainda não estava nivelada. Era uma subida íngreme e acidentada.

Coche - Sinônimo de carruagem, mas no Passo Fundo da época esse nome era bastante usado, embora deveriam ser aceitos como Carros.

Automóveis

A partir de 1910, Passo Fundo começou a receber os primeiros carros. O primeiro tinha a cor preta e o outro cinza. Um era de marca Bentz e outro não conse­guimos conhecer a sua procedência. A gasolina usada (im­portada), vinha em latas de 20 litros, contendo, um caixo­te, 2 latas, à razão de dez mil réis, portanto cada litro custava duzentos e cinqüenta réis.

Na moeda atual parece inviável comparar valores.

Nessa mesma época o ilustre cidadão Armando Araújo Annes comprou um carro Ford. Nas manhas ensolaradas o car­ro era tirado da garagem, permanecendo algumas horas, afim de aquecer o motor. Logo, apôs, era o motor acionado com maniveladas (segundo informações uma das rodas do automó­vel, devia estar acima do chão para que o motor ligasse mais rápido); esse trabalho devia ser feito por pessoa com prática, pois, quando o motor ligava o carro dava pinotes, e saltava, correndo; o manivelador corria sérios perigos.

A pessoa encarregada desse mister, não se colocava, bem ã frente e, sim, em posição que lhe favorecesse sair rápido da frente do carro.

Matadouro

Na zona oeste da cidade, boqueirão, on­de se encontra o Posto Brasil, existiu no começo do século um matadouro particular, em cujo local uma frondosa árvore "Umbu" oferecia bela sombra para o trabalho de abates.

A carne do gado aí abatido era vendida no local. Os restos dos animais mortos ficavam entregues aos urubus, que em poucos minutos limpavam a área. (Quando o abate começava já as aves negras iniciavam o sobrevoo do local, o que já servia de aviso aos compradores da mercadoria.)

Moinho - No período de 1900 a 1915, havia na Av.Bra­sil, esquina 7 de Setembro ala sul (hoje, lojas Pinguim - 1983), uma forte fonte de água, resguardada por taipa de pedras, onde lavadeiras aproveitavam a correnteza para lavarem as roupas das famílias da cidade. Essa água corria em direção à Rua Morom, esquina com a 15 de Novembro, onde ha­via um Moinho que muito serviu a população da época.

Olarias

O local onde se encontra hoje a Cervejaria Brahma e suas redondezas foi um sério banhado até o come­ço do presente século. Ali houveram olarias que para serem visitadas pelos compradores de tijolos não era fácil al­cançar o local, tal o atoleiro, mais ou menos na baixada da Rua Paissandú com a Cel. Chicuta e imediações.

A olaria do Schneider situava-se entre a Rua Cel. Chicuta, 7 de Setembro, Av. Brasil e Paissandú. Nessa épo­ca, primeira e segunda década do presente século, o trem de carga estacionava na 7 de Setembro, quando havia carga pa­ra carregar ou descarregar para os proprietários ali residentes. Por essa razão, essa olaria fazia, nesse local, os seus carregamentos.

A olaria do Severiano estava instalada entre as ruas Cel. Chicuta, Gal. Neto e Uruguai.

A olaria de Gabriel Bastos ficava na Rua Paissandú, entre Gal. Neto e Cel. Chicuta.

Na Rua Independência, no trecho hoje compreendido en­tre as ruas Cap. Eleutério e Benjamim Constant e Gal. Osó­rio, mais ou menos, existiu uma olaria, desaparecida na primeira década do presente século, cujo local foi um gran­de banhado. As águas desse banhado também foram utilizadas para tanques de lavadeiras (rua Independência). Esse lavadouro, quando do prolongamento dessa rua, em direção ao nascente da cidade, desapareceu.

Curtumes

Os primeiros curtumes de Passo Fundo fo­ram de propriedade dos Srs. Frederico Graeff e Antonio José da Silva Loureiro.

O primeiro se situava no local onde hoje se confluem as ruas Paissandú com Al feres Rodrigo.

O segundo se localizou no local que foi chamado "Ma­to do Barão" zona essa que hoje, totalmente povoada, situa-se atrás do Quartel da Unidade Federal, 39/59 RCMEC, aqui sediada (1983).

Clubes Políticos

Em 1891, o tumulto político de duas facções - republicanos e maragatos, movimentaram a cidade e a região (Passo Fundo foi elevado ã categoria de cidade em 10 de abril de 1891).

A sede dos republicanos era na antiga Câmara de Ve­readores, posteriormente primeira Intendência, sita ã Av. Brasil, Boqueirão, onde hoje se ergue o prédio de n9 1.268.

A sede dos Maragatos era na quadra da Av. Brasil, en­tre a Cap. Araújo e 7 de Setembro, num casarão de madeira, em cujo local hoje se encontram as casas de n9s 1111 e 1.121.

Dessas duas agremiações surgiram os chefes que se degladiaram durante a fratricida Revolução de 1893.

Lagoas

Passo Fundo desfrutou de gostosas lagoas que marcaram, também sua época.

Lagoa do Sátiro - Existiu no local onde se encontra a Av. Presidente Vargas, entre a atual rua Gal. Canabarro e 7 de Setembro. Segundo informações de pessoas mais anti­gas, o local dessa lagoa teria sido no local (mais ou me­nos), onde hoje se encontra o prédio n° 43 da Presidente Vargas. Seu desaparecimento já era consumado na década de 1910.

Outras duas lagoas já desaparecidas foram: uma delas existente no terreno, onde hoje se ergue o Quartel da Uni­dade Federal aqui sediada 3°/5° RCMEC (fundos), foi co­nhecida como Lagoa do Barão; outra, paralela à fronteira a anterior, localizava-se na face norte do trecho que era cortado pela via férrea primitiva, cuja existência tivemos o prazer de conhecer.

Com o prolongamento da Rua Teixeira Soares em dire­ção ao cemitério e conseqüente aterro, essa lagoa desapa­receu. Todas elas foram as piscinas do velho Passo Fundo, para os jovens daquela época (homens, pois mulheres não ti­nham vez).

Biquinha da Cadeia - Chafariz da Biquinha da Cadeia

No Dicionário Geográfico de Pas­so Fundo, encontra-se registrado o "Arroio da Biquinha", "o qual se localizava " segundo consultas feitas com pessoas aqui nascidas e já com idade avançada", entre as guadrasl5 de Novembro, Marcelino Ramos, com Morom e Gal. Osorio. Es­sa fonte era proporcionadora da Biquinha da Cadeia, que se localizava, exatamente, na esquina da Rua Independência com Teixeira Soares", onde hoje se encontra o prédio do Sindi­cato dos Trabalhadores na Indústria de Alimentação, n° 1166.

Essa Biquinha teve sua história: Em 1898 fora cons­truída a Cadeia Municipal, à rua Independência com Marcelino Ramos; com remodelações teve suas funções ativas até 1977, quando foi inaugurado o Presidio Municipal sito à rua Anna Nery s/n9, na Vila São Luiz Gonzaga.

A partir da construção da Cadeia em 1898, a " Biqui­nha" passou a servir a referida Cadeia, quando os deten­tos, menos perigosos, acompanhados pelos carcereiros ou guardas, carregavam em baldes de latas, água para servir as necessidades da Prisão (água para beber, alimentação e higiene em geral).

A utilização dessa água proporcionou o batismo de "Biquinha da Cadeia".

No local, junto à Biquinha foram construídas, pela municipalidade, tanques de madeira, mais tarde cimento, que serviram às lavadeiras e famílias residentes nas redonde­zas. Em 1930, já a Biquinha estava perdendo o seu valor, os tanques desaparecendo e hoje nada mais, desse passado, existe.

Referências

  1. GEHM, Delma R. (1989). Passo Fundo através do tempo - volume 3: enfoques gerais -Passo Fundo: Projeto Passo Fundo. 2016. Vol.3. 272 páginas. E-book