Um sonho libertário
Um sonho libertário | |
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Descrição da obra | |
Autor | Alberto Antônio Rebonatto |
Título | Um sonho libertário |
Assunto | Romance |
Formato | E-book (formato PDF) |
Editora | Projeto Passo Fundo |
Publicação | 2019 |
Páginas | 178 |
ISBN | 978-85-8326-403-3 |
Impresso | Formato |
Editora | Projeto Passo Fundo |
Publicação | 2019 |
Um sonho libertário é uma obra de ficção. Como tal, permite devaneios. No entanto, no decorrer do trabalho, procuramos manter a maior proximidade possível com os registros históricos. A vida de Luigi e Nives – personagens fictícios – pode ser comparada com a de tantos imigrantes que aportaram neste País em busca de dias melhores. A narrativa procura ajudar a entender uma filosofia que pontuou na longa caminhada da humanidade: o Anarquismo, que, embora para muitos, não passe, hoje, de um mero símbolo de desordem, influenciou a sociedade humana nos últimos séculos da nossa era. Foi concebido e propagado por pensadores e filósofos ilustres como Proudhon, Bakunin, Tolstoi e tantos outros. É uma corrente filosófica que prega a liberdade em sua essência, que busca a igualdade de direitos entre homens e mulheres, pobres e ricos, nobres e plebeus, que ataca os privilégios das classes dominantes, que defende o princípio de que a terra, como o ar e o sol, deveria ser usada livremente por todos, não sendo propriedade de apenas alguns. Quando o comunismo, nascido na mesma família socialista do Anarquismo, começou a se insurgir contra os detentores do poder, propondo a ditadura do Estado em detrimento das liberdades individuais, foi prontamente confrontado pelo Anarquismo
Apresentação
Primeiro Capítulo, pelo Autor
Naquele domingo, Luigi sentia-se particularmente bem. Enquanto percorria os poucos quilômetros que separam Verona de Sirmione, admirava a paisagem que entrevia através da janela do trem. Casas modestas, sem pintura e sem cercas. As pequenas propriedades ao longo de todo o caminho mostravam a face pobre e a vida difícil daqueles agricultores, a maioria agregados, trabalhando na base da terça ou da quarta parte, cedendo ao dono da terra parcela expressiva do que produziam com seu trabalho. De vez em quando, podia ver crianças brincando no pátio das casas, homens cortando ou empilhando lenha e mulheres atarefadas na lida com as vacas, algumas ordenhando, outras retirando os animais do porão das casas, onde haviam passado a noite. Quase esquecera o velho e prático costume de recolher durante a noite os animais para que dormissem nos porões das residências, a fim de abrigá-los e protegê-los do frio intenso que fazia no inverno. Em contrapartida, esses mesmos animais prestavam inestimável ajuda no aquecimento das casas durante as noites frias, quando a lenha era pouca e as cobertas escassas. Era um procedimento corriqueiro também em sua casa, em Bovolone, onde nascera e se criara.
Repassava em sua mente, também, as transformações por que passara ao longo dos últimos anos. Saíra de casa menino e agora, anos depois, sua vida sofrera uma transformação completa.
Segundo filho de uma família de pequenos produtores rurais, Luigi vivera uma infância relativamente feliz e crescera sem conhecer privações ou necessidades. Seus pais, Giuseppe e Gelsemina Romani, eram proprietários de uma pequena gleba de terra, que Giuseppe herdou de seu pai Guglielmo. Cultivavam cereais e hortaliças para sustento próprio. Criavam algumas vacas para o leite e o queijo e porcos para a banha e a carne. As galinhas também eram importantes porque, além da carne e dos ovos, forneciam as penas, tão úteis e tão práticas no enchimento de travesseiros e acolchoados. A maior atividade da família concentrava-se em um pequeno vinhedo localizado nas proximidades da casa. Era a principal fonte de renda, para não dizer a única. O parreiral, zelosamente tratado, produzia um dos melhores vinhos da região. Em pouco tempo, a fama do vinho de Giuseppe Romani espraiou-se pelas comunidades vizinhas, extrapolando a região de Bovolone e atingindo a própria capital da província: Verona.
A produção era insuficiente para atender à demanda. No entanto, Giuseppe jamais deixou de abastecer o seu principal comprador, a Congregação dos Padres Dominicanos, que usava o vinho na missa e no refeitório. Um dos orgulhos dele era saber que o vinho por ele produzido seria utilizado nas cerimônias religiosas oficiadas no maior templo da cidade de Verona, a Basílica de Santa Anastasia, cuja construção fora iniciada pelos próprios Dominicanos em 1290 e só concluída em 1481. Edificada sobre um terreno que outrora abrigava uma pequena capela dedicada a mesma santa, constitui-se nos dias atuais, no maior templo católico de Verona. Santa Anastásia não era, para Giuseppe, apenas a catedral de Verona, era, também, o seu mais importante veículo de propaganda. Sentia-se gratificado por saber que, depois de consagrado no Santo Ofício, o seu vinho transformar-se-ia no próprio sangue de Cristo. Por ser católico fervoroso, emocionava-se cada vez que pensava a respeito.
Índice
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Referências
- ↑ REBONATTO, Alberto A. (2019) Um sonho libertário, -Passo Fundo, Projeto Passo Fundo. 174p. E-book