Os cinemas de nossa cidade

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Os cinemas de nossa cidade

Em 31/05/2011, por Santina Rodrigues Dal Paz


O Cinema[1]

Santina Rodrigues Dal Paz[2]


Quero falar nos cinemas de nossa cidade (Passo Fundo), porém devo fazer algumas considerações, pois o assunto é deveras apaixonante.

O cinema apresenta arte, indústria, comércio. É constituído pela produção, difusão e repercussão de sua obra. O filme, o local, são semelhantes ao teatro: apresentados ao público, e a sala é provida de uma tela, onde se projetam as imagens por meio do aparelho cinematográfico.

O inventor do primeiro projetor moderno, conhecido por vitascope, foi Thomas Armat em 1895, faz parte de trás de uma câmara Pathé de 1906. Era acionada por uma manivela e o filme saía da caixa colocada sobre a máquina. Era um dos primeiros projetores de 16 mm, construído em 1923.

A princípio, o cinema foi uma curiosidade científica. Depois um espetáculo de feira, passando então ao plano dos negócios. E, como arte, foi reconhecido na segunda década do século XX. Foi denominada Sétima Arte, nome dado por Canudo.

Analisando, o cinema tem aplicações importantes. E é um poderoso veículo de propaganda. Através da produção cinematográfica, é possível conhecer e avaliar os costumes e estilos de vida das pessoas, de qualquer parte do mundo.

Os precursores e inventores, para a descoberta do cinema, precisavam de dados que enriquecessem a sua pesquisa, ex.: a lanterna mágica, capaz de projetar imagens fixas, já conhecida no Egito dos Faraós. Em todas as épocas, houve a preocupação dos estudiosos do assunto, com o problema da projeção da imagem. Entre eles: Roger, Bacon, Da Vinci, Cellini. Mas no século XVII a história dos precursores do cinema começou com o jesuíta alemão Athanasius Kircher (1601-1680), que construiu a primeira lanterna mágica.

O tempo passa e as descobertas continuam. O cinema “nasceu das possibilidades de expressão conjugada da imagem e do som”, afirma André Malraux. O cinema tem linguagem própria, autônoma, quando ocupa um lugar entre as artes, ao contrário da televisão, que apresenta um cinema sem por disputar o público, mas por apresentar outros fatores, entre os quais o comodismo das pessoas e interesse por certos programas, seriados, etc;.

Durante a primeira guerra mundial (1914), o cinema, nos Estados Unidos, difundiu-se espetacularmente com Mack Sennett, criador da comédia americana, Chaplin. Na mesma época, a indústria americana instalou-se na Califórnia, e o cinema americano tornou-se o dono do mercado mundial, ao término dessa guerra. Destacaram-se também os cinemas de outros países, como a Suécia, Alemanha, França, Dinamarca, Itália e outros.

O cinema sonoro apresentou-se, pela primeira vez, falando ao público, no dia 06 de outubro de 1927. Foi um grande acontecimento, a estreia de The Jazz Singer – O Cantor de Jazz. E foram surgindo as descobertas, os demais ajustes, e apareceram também as censuras.

O cinema brasileiro veio mais cedo do que se esperava. Em 1900, foi rodado o primeiro filme brasileiro fora do país, com um documentário do presidente Manuel Ferraz de Campos Sales (o quarto presidente da República, no Brasil - 1898-1902), em uma viagem a Buenos Aires. Mas o primeiro filme brasileiro a obter destaque internacional (1951) foi “O Cangaceiro”, de Lima Barreto, e também “Vidas Secas” (1963), extraído do romance de Graciliano Ramos, e dirigido por Nelson Pereira dos Santos. E aos poucos o cinema brasileiro foi mostrando sua arte.

Ficamos então com uma pálida introdução sobre “Cinema”, pois o foco é rever como esta arte chegou a Passo Fundo - RS.

A cidade de Passo Fundo recebeu, em 1910, por aí – Roberto Silva – (Robertinho), que foi o primeiro na apresentação do cinema, instalando a primeira sala de cinema em um Galpão Velho, de propriedade do Capitão Jovino Freitas(pai do Dr. Jovino Freitas), na Rua General Netto, local onde hoje está o Banrisul. Ficou instalado então o “Cinema Pathé”. Robertinho instalou outras salas de cinema, entre elas a da Rua Morom, defronte à Praça Marechal Floriano, onde hoje é a casa “Paula Calçados”. Nesta mesma época, a família Reichmann, proprietária do “Cinema Central”, localizado na Avenida Brasil esquina com a Avenida Sete de Setembro.

Mais tarde, no dia 06 de março de 1920, foi inaugurado um luxuoso cinema – “Cinema Coliseu”, com capacidade era para umas 500 pessoas, situado na Rua General Netto, cujo proprietário era Florêncio Della Méa. Os ingressos estavam à disposição em três modalidades: plateia (cadeiras de palha), frisa (cadeiras quase ao nível da plateia) e luxuosos camarotes. Para maior brilho, foi instituído um prêmio para o camarote ornamentado com mais gosto e arte. Anexamos o convite para a inauguração e o ingresso do Camarote. O Cinema Coliseu iniciou suas exibições com obras do cinema mudo, isto é, ainda não tinha sonorização. Então contratavam orquestras que tocavam antes do início do filme, durante ele e no intervalo. Destacavam-se entre as orquestras: Claro Pereira Gomes, Ormi- no de Freitas Ubaldo, Querino Barbosa e Felipe Pacce.

Em 1931, os filmes já apareciam com sonorização parcial. O Cinema Coliseu aproveitava o espaço e também apresentava shows com teatro de revista e artistas famosos: Vedete – Virginia Lane que com suas pernas perfeitas, encantava o público; o ator Procópio Ferreira; o cantor Vicente Celestino, com suas belas canções; Francisco Alves, considerado o rei da voz. Este mesmo cinema apresentou grandes clássicos, como Maria Antonieta, O Vento levou, Luzes da Cidade e muitos outros. Sem esquecer dos filmes de Charles Chaplin (com suas sábias mensagens).

O Cinema Coliseu, em 1948, foi destruído por um incêndio, que queimou também o Café Colombo que se encontrava ao lado. Reconstruído, voltou às suas atividades normais até 1953. No mesmo ano, a Empresa de Cinemas Rossi, situada em Porto Alegre, aproveitando a oportunidade comercial, comprou o cinema e trocou o nome para Cine Real. (Quem também se destacou como proprietário do Cinema Coliseu foi a família Pretto – Angelo Pretto e seu filho Arthur Pretto e João Magi de Césaro).

Já findando os anos 30, Eduardo Valandro inaugurou o Cine Imperial (Imperialzinho, segundo o Senhor Modesto da Silva), situado na Rua Bento Gonçalves/ esquina com a Rua General Osório (Ughini). Modesto acompanhou o crescimento da cidade e a história do cinema, até chegar às máquinas de projeção, como funcionário em vários cinemas. E conta que, algum tempo depois da inauguração do Imperialzinho, um incêndio acabou com a sala de cinema. Mas Eduardo Valandro não desistiu e, em 1940, instalou um novo Cinema Imperial, no edifício Rotta, situado na Rua General Netto, ao lado da Catedral.

No decorrer dos anos de 1930, havia o Cine Avenida, na Rua Moron (centro), mas sua atuação foi passageira. No entanto, no Cine Rex, localizado na Avenida Brasil, na quadra entre as ruas General Netto e Bento Gonçalves, os filmes eram apresentados em forma de seriados. A curiosidade surgia, quando o filme estava no auge de um grande acontecimento, e era suspenso até o próximo domingo. Esse cinema continuou a existir por mais de cinco anos, e bem frequentado aos domingos, pois era a única programação dominical, além da missa na parte da manhã.

A Empresa Rossi, chegando a Passo Fundo e vendo que o cinema era um negócio bom, acabou comprando, além do Coliseu/Real, também o Cine Imperial. E o Cine Real foi ampliado, obtendo uma linda sala com largas dimensões e com mil cadeiras, onde ia oferecia ao público a oportunidade de assistir a grandes espetáculos. Este cinema encerrou suas funções em fins dos anos 70, quando cedeu o espaço para a instalação de um Banco.

Atualmente, é uma Casa Comercial: “a Tumelero”.

Em 1967, foi inaugurado o Cine Coral, localizado na Rua Senador Pinheiro, próximo à Praça Capitão Jovino (Vila Rodrigues – Igreja Santa Terezinha). Ele foi idealizado pela empresa Rossi, que monopolizava a rede de Cinemas, tentando servir também àquele Bairro da cidade. Lembro do filme que foi um sucesso total, em sua inauguração: Dr. Givago. Eu estava lá, apreciando aquela beleza de filme.

O Cine Teatro Pampa foi inaugurado em 1962, pela empresa Turismo Cine e Hotéis Reunidos. Seu proprietário, o empresário Tadeu Nedeff, entregou a obra aos passo-fundenses, junto ao hotel luxuoso, havia uma sala de cinema, também luxuosamente equipada com cômodas cadeiras, para duas mil pessoas. O Cine Teatro Pampa foi palco de shows, com excelentes artistas, e maravilhosas peças teatrais.

Em dezembro de 1968, a Casa de Espetáculos incendiou com chamas violentas, ficando desativada, em reconstrução, mas o Hotel foi salvo. Felizmente, no Natal de 1970, o Cine Pampa voltou às suas atividades normais e, em 2005, fechou definitivamente. Mais tarde foi reformulado, servindo apenas para estacionamento. Foi lamentável. Mas tudo tem seu tempo.

Os grandes cinemas foram fechando suas portas. Temos hoje as salas de cinema dos shoppings, Bella Cittá e Bourbon. São salas modernas, confortáveis, mas menores, naturalmente.

Charles Spencer Chaplin, O Carlitos, nasceu em Londres (1889-1977). A casa onde viveu seus últimos 25 anos, em Corsier-Sur-Vevey, na Suíça, foi trans- formada em museu, para homenagear o ator. E ele nos deixa, uma de suas mensagens: “Cada pessoa que passa em nossa vida, passa sozinha, é porque cada pessoa é única e nenhuma substitui a outra! Cada pessoa que passa em nossa vida passa sozinha e não nos deixa só porque deixa um pouco de si e leva um pouquinho de nós. Essa é a mais bela responsabilidade da vida e a prova de que as pessoas não se encontram por acaso.”

Os cinemas deixaram muita saudade. Foram anos gloriosos. Assistíamos muitos filmes maravilhosos, em horários diferentes, aproveitando as sessões da tarde (matinê) e da noite. Na época, o cinema era umas das diversões que mais atraíam o público.

Ver filmes como Sissi..., O Vento Levou, Dr Givago, (com Richard Burton, e Sophia Loren), O Gordo e o Magro (a maior dupla cômica do cinema), Oscarito (que nasceu na Espanha e veio com dois anos para o Brasil), Mazzaroppi (com suas histórias de humor), Charles Chaplin, foi muito agradável.

Por fim, gradativamente, houve uma diminuição na procura do público aos cinemas.

Toda esta caminhada, eu vivi. Lembro ainda dos passeios ou “futing” na calçada da praça Marechal Floriano, defronte aos cinemas Coliseu (Real) e Imperial, antes ou depois de assistir ao filme. Os rapazes parados a observar as mocinhas com seu charme e beleza. Mal sentíamos falta dos olhares... e de algumas frases poéticas inesquecíveis. A agonia era não transparecer para os pais. Mas tudo era saudável. Foram realizados muitos casamentos.

Referências

  1. Este  trabalho contou com a colaboração do Sr. Modesto  Bonifácio da Rosa e do acadêmico Marco Antônio Damian. Todas  as fotos foram cedidas pelo acervo do Museu de Artes Visuais Ruth Scheider - Publicado na Revista Água da Fonte de 31/05/2011
  2. Santina Rodrigues Dal Paz é professora e vice- presidente da Academia Passo-Fundense de Letras