Os animais éramos nós

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Os animais éramos nós
Descrição da obra
Autor Álvaro de Souza Gomes Neto
Título Os animais éramos nós
Assunto Romance
Formato E-book (formato PDF)
Editora Projeto Passo Fundo
Data da publicação 2014
Número de páginas 142
ISBN 978-85-8326-091-2
Impresso Formato 15 x 21 cm
Editora Projeto Passo Fundo
Data da publicação 2014

Os animais éramos nós O livro conta a história de um escritor francês que vai para Madri escrever sobre as contradições humanas e acaba descobrindo, que, antes de tudo, precisa se conhecer primeiro antes de escrever sobre os outros. Como pano de fundo aparece o Grupo Separatista ETA, aterrorizando a vida dos cinco personagens que aparecem no enredo. Um romance Existencialista, bem típico dos anos 50 e 60. Boa leitura.

Apresentação

Capítulo Primeiro, pelo Autor

Madri, julho de 1986...

Nojo. Era o que eu sentia. Não havia uma explicação cabível para tudo aquilo, a não ser aquela falta de sentido e aquele embrulho no estômago, que me revirava as tripas, que me fazia sentir um cadáver em decomposição. Não, não havia sentido. Eles estavam mortos. Todos eles. Um pacote esquecido debaixo de uma mesa. Talvez feito com um papel encardido e sujo, ou disfarçado com uma bela fita vermelha. Na verdade não importava, já que tudo havia voado pelos ares e consumido os corpos que agora jaziam carbonizados, espalhados por todos os cantos daquele maldito bar.

A náusea aumentava à medida que me lembrava de tudo aquilo. Mas como ignorar, se entre aqueles que morreram estava Juan? O meu amigo Juan? O tipo do sujeito que jamais se esquece. Incisivo, sincero, quase ingênuo. Pele mourisca, de um bronzeado penetrante. Juan havia morrido a poucas ruas daquele lugar onde eu estava agora. Pousei os olhos sobre o livro que ele me emprestara na noite anterior. O livro estava mudo, como ele. Era como se tudo ali, naquele quarto, de repente emudecesse, se escondesse nas sombras, se perdesse na escuridão do vazio que ficara.

O atentado na Calle de Hortaleza teria certamente um único responsável: o grupo separatista ETA. Era a segunda bomba que eles haviam deixado pela cidade naqueles últimos meses. Haviam matado mais de cem pessoas nesses dois últimos anos. Da maneira mais covarde possível, se escondendo. Elas explodiam aleatoriamente, como frutos que despencam sem aviso e se esborracham no chão, abertos, chagas pelos lados, deixando escorrer as sementes, como vísceras. Eu não estava mais interessado em descobrir a razão da irracionalidade da destruição. A liberdade não se conquista derramando o sangue dos justos. O ser humano era um porco, chafurdando no sangue alheio para buscar o seu próprio alimento.

Havia ido parar em Madri na intenção de escrever. Não sabia exatamente que tipo de livro, mas teria de ser um que retratasse as contradições do comportamento. Um testemunho da inconstância. Isso me preocupava: as atitudes, as violências, os amores, as carícias. A questão do desejo me fazia sentir o impulso da descoberta. O tempo passara. Os meses se sucederam, e viver naquela cidade tornara-se um desafio. Um desafio de morte. O que observara e que poderia tomar como apontamentos positivos para o meu trabalho, me revelava que o novelo não tinha pontas, que não existia um princípio, e o primeiro capítulo apenas poderia ser escrito a partir do meu interior. Eu era a primeira página do meu próprio livro. Buscando dentro de mim mesmo as primeiras indagações e descobrindo, aparvalhado, que havia um labirinto, e que eu estava bem no meio dele.

As pessoas morriam. Quando eu saía a andar a esmo, via refletido o pavor nos rostos, a angústia revelada em algum traço perdido. Aquela cidade estava morta de medo. A vida anda de mãos dadas com a morte, mas a esperança de um tempo longo permanece sempre, dentro do mais cético, do mais senil. Morrer assim, de repente, ao sentar num café qualquer, ou andar pela calçada perto de um carro que explode torna a vida insuportável. E o labirinto não tinha fim. As pessoas viviam suas vidas e tratavam de resolver os seus problemas, de repente, não estavam mais lá, e deixavam um vazio no meio daquele dia que começara normal e virara fatídico.

(Segue...)

Índice

  • I Nojo. Era o que eu sentia 7
  • II O homem iria bater 16
  • III Abri os olhos 17
  • IV Alguns meses antes 23
  • V Não havia como conter 28
  • VI O sol batia direto 31
  • VII Como anda o seu livro? 37
  • VIII Não havia elos 46
  • IX Ao entrar no apartamento 47
  • X Havia terminado 53
  • XI Andar a esmo 55
  • XII Hesitei 61
  • XIII O despertar do dia 71
  • XIV Nas últimas semanas 80
  • XV Uma vez 83
  • XVI Entrei no apartamento 86
  • XVII Enquanto eu tomava 92
  • XVIII Certa vez 98
  • XIX O Alianza 101
  • XX Achava que não sabia 105
  • XXI Os dias que se sucederam 107
  • XXII Por que os Jardins Sabatini 110
  • XXIII Vejo a vida assim 113
  • XXIV Ouvi alguém bater 115
  • XXV Alguns dias depois 121
  • XXVI Juan estava morto 123
  • XXVII Estava no Alianza 125
  • XXVIII Meus olhos ardiam 128
  • XXIX Tentei não ser como os outros 133
  • XXX Sentei-me na cabine do trem 135

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  • O livro foi lançado na 28ª Feira do Livro de Passo Fundo ocorrida de 31 de outubro a 9 de novembro de 2014

Referências