O procurador
O procurador | |
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Descrição da obra | |
Autor | Agostinho Both |
Título | O procurador |
Assunto | Família |
Formato | E-book (formato PDF) |
Editora | Projeto Passo Fundo |
Publicação | 2013 |
Páginas | 204 |
ISBN | 978-85-64997-84-4 |
O procurador Trata-se de um romance no qual se apresenta a ideia de as circunstâncias oferecerem condições para realização das pessoas. O texto aborda a vida de um pintor de paredes que, ao se separar da mulher, na audiência, o juiz percebe sua honestidade, convidando-o para pintar sua casa. As condições pessoais e as oportunidades dão conta do bem-estar pessoal e profissional. Arrisca, então, modificar seu estilo, aplicando uma nova alternativa em suas pinturas. As paredes se transformam em quadros qualificados da vida do habitante. Não somente se qualificam os quadros bem como o quadro de sua vida. Isso leva a novas possibilidades profissionais e novas alternativas de vida. A arte não tem limites em suas iniciativas, tampouco sua percepção de mundo.
Livro escrito por Agostinho Both, publicado em 2013
Apresentação
do Primeiro Capítulo, pelo Autor
O procurador
Ando preocupado com as explicações sobre a presença divina em minha vida. Sou um procurador de razões. Sempre busquei com toda a honestidade avaliar meu caminho, sem encontrar as devidas respostas, mas acredito piamente que, desde a flor da laranjeira até os primeiros passos de uma criança, Deus ajusta tudo de acordo com as circunstâncias e suas palavras não se pronunciam longe dos acontecimentos. Sou, então, um procurador de explicações, e o que me dá a direção para encontrá-las são as circunstâncias. A sorte final, porém, depende de minhas decisões em torno dos fatos e do esforço em tirar o que de melhor pode ser feito tendo a solidariedade como princípio. Começo, pois, pelo filho de Israel, que tanto procurou buscar e tantas vezes avançou no seu tempo.
Gabriel anunciou a Maria e ela concebeu do Espírito Santo, e José, após o acontecido, aceitou que era tudo providência do Senhor. Por certo, não o acompanhava qualquer outro sentimento, senão o da confiança em sua mulher. Pelo meu parco entendimento das escrituras, José não capitulou diante de qualquer tentação que a traição costuma provocar. Se assim não sucedeu, pouco importa, as circunstâncias foram ditas dessa maneira. E dela nasceu um homem de causar espanto. E põe homem nisso: pobre que era, conseguiu impor o princípio da reciprocidade num mundo de violências. Do lado sul do Mediterrâneo nasceu esse homem dizendo que no amor e na fé residia a verdade e, por esse entendimento, desafiou o poder que o levou à morte. Do lado norte do Mediterrâneo nasceu Sócrates, um homem que dizia estar no pensamento e no discurso sincero a última palavra sobre a verdade e, por esse entendimento, desafiou o poder que o levou à morte. Essas duas verdades, porém, nunca se encontraram. Todos os dois nasceram num tempo que requeria a ambos. É isto que eu penso: mais que os indivíduos, é a história que marca as virtudes, tornando piores ou melhores os homens e as mulheres. Me atenho mais ao homem de Jericó. Propôs um jeito diferente das violências de um tempo. Sua sensibilidade e seu talento contribuíram, entretanto, muito mais em razão dos discursos de profetas e de heróis do lugar, todos crentes da maior justiça social. O Espírito Santo não sopra onde quer. Sopra sobre um tempo que se formou para recebê-lo ou será o tempo que pronuncia o Espírito? Outras vezes, sopram demônios. As virtudes maiores coexistem com o tempo e no tempo certo. A bem de minha pequena verdade tenho a dizer que Jesus nada escreveu, muito mais que ele falaram os saudosos discípulos que traduziram, à sua maneira, o que ouviram o filho do homem falar. Por exemplo: vejamos Mateus. Aproveitou-se e muito bem para esbravejar contra os judeus ortodoxos, fechados como uma porta. Cristo na boca de Mateus parece um homem de poucos amigos. Está mais preocupado em desaforar seus antigos adversários que mostrar o que efetivamente fora dito. Não digo essas palavras por conta própria. Rigorosamente de acordo com a crença de que nossos pensamentos não são nossos: eles são próprios de um tempo. Quando nascemos, as ideias que aprendemos estão embutidas nas comunidades de nossa inserção e nós apenas as carregamos, e, ainda que as contradigamos, elas se inspiram na oportunidade do momento. Rigorosamente de acordo com o Nicolo Machiavel, com quem simpatizo, até certo ponto: Não ignoro que muitos foram e que tantos ainda são de opinião de que as coisas se sucedem no mundo e de tal forma governadas pela fortuna e por Deus que os homens, com sua sabedoria, não poderiam retificá-las e que nem sequer haveria meio de remediá-las.
Índice
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- 2014 - A versão e-book foi lançada na III Semana das Letras da Academia Passo-Fundense de Letras ocorrida de 08 de abril de 2014.
Referências
- ↑ BOTH, Agostinho. (2013) O procurador -Passo Fundo: Projeto Passo Fundo, 204 páginas. E-book