Mario Guimarães e o 2° Rodeio Nacional

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Mario Guimarães e o 2° Rodeio Nacional

Em 30/11/2012, por Odilon Garcez Ayres


ODILON GARCEZ AYRES[1]


O primeiro Rodeio Nacional de Integração Gaúcha tinha sido um sucesso estrondoso, e tão logo terminou, começamos a agilizar para sair o segundo, pois a fama de Passo Fundo, de que só se fazia aqui o 1° evento cultural, e foram tantos só com o primeiro, que todo mundo tinha medo do terrível segundo evento, não sem razão, porque já estávamos no crepúsculo de agosto, e a decisão equivocada de largar nas mãos de uma agência de propaganda, nos fez andar de quatro, mendigando patrocínios.

Foi nessa ocasião que apareceu, na Passotur, com o aval do Prefeito Carrion, a figura de Mario Pereira Guimarães, homem da época da Revolução de 64, vaqueano, que viajara pelo Brasil afora, irmão do Promotor Público, e na ocasião Diretor Presidente da Caixa Econômica Estadual, Lauro Pereira Guimarães. Embora, como diz o gaúcho, “queimasse campo uma barbaridade”, o Plínio Mena Barreto é minha testemunha: retomamos da Agência publicitária a missão, e fomos atrás de duas de suas indicações.

Na Caixa, o seu irmão o recebeu, mas não a mim, e indicou o finado Cândido Norberto, que demonstrou pouco interesse, alegando que a Corag não podia dar o papel para impressão dos cartazes, que o trabalho era vazado, que ainda precisava arte final, enfim, daquele mato não saiu um coelho sequer.

Dali fomos à RBS. E o amigo dele, sua indicação, Walmor Bergesk, nos recebeu muito bem, e se comprometeu a agilizar a doação do palco coberto, Maurício Sirotski Sobrinho, bem como a trazer a direção da empresa televisiva, como de fato vieram: Ernesto Corrêa e a viúva de Maurício Sirotski Sobrinho, a Passo-Fundense, Sra. Ione Pacheco Sirotski, que discursou e fez o descerramento da placa inaugural do 2º Rodeio Nacional de Integração Gaúcha.

Mas nós precisávamos de um montão de coisas mais. Os troféus conseguimos com a própria RBS; brindes com o comércio; mas, na Óptica Brasil, conseguimos do Marco Stefani, um bom patrocínio para os cartazes, a troco de um “Poço Artesiano”, que arrumamos para ele através da Cemapa,um verdadeiro negócio da China, pois o material promocional estava orçado em 70.000 “cruzados”, a moeda da época.

A água para o Rodeio era fundamental, e enquanto o CTG Lalau Miranda fazia a rede d’água, de janeiro a setembro, o Mário empenhou-se em conseguir, através da RFFSA (ex-VFRGS), a caixa para 30.000 litros de água, que fomos buscar na antiga Estação Barro.

Até hoje, falo porque é preciso, mas essa expressão “Caixa d’Água”, proferida mil vezes pelo Guimarães, me dá arrepios, pois foi um parto para consegui-la e trazê-la de Gaurama.

As perspectivas de um segundo Rodeio, já para mais de vinte mil participantes, exigia uma demarcação dos espaços para acampamento e comércio, naquele aprazível mato nativo do CTG Lalau Miranda. E uma equipe de cinco servidores públicos, liderados pelo diretor de Cultura, bivacaram dois meses, e nada, até que tomamos as rédeas, com o Prof. Mauro Simão, o Serpinha e o Mário, agrimensor de profissão, corremos trena e batemos estacas, até que, numa semana, ficou marcado e desenhado o primeiro Mapa do Acampamento.

A bem da verdade, sem eles nem sairiam as provas campeiras. O Plínio Mena Barreto e o tio Oscar Vieira, que viera trabalhar conosco na Secretaria de Turismo, saíam de manhã e voltavam à noite, batendo estradas de chão, centenas de quilômetros, proseando, argumentando e pedindo bois para laçar, graciosamente, ficando a nosso encargo apenas o transporte de ida e volta.

As coisas andavam a galope, tivemos apenas três meses para preparar tudo, mas o atraso na confecção dos cartazes, pela demora do aporte de patrocínio, quase nos fez dar com os burros n’água, pois, além disso, os funcionários da EBCT entraram em greve, e nós tínhamos depositado na Agência sede, em Passo Fundo, os convites, a programação e os cartazes para o Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, São Paulo e Mato Grosso. Por sorte, dias antes, postáramos para a região norte do Rio Grande do Sul, os quais foram os únicos a serem entregues, para um evento de tal envergadura.

Cientes do perigo de um fiasco, que corríamos, mercê dos percalços que passamos, pois no episódio da tal Agência de Propaganda, que conseguiu apenas um patrocínio e justamente de um dos promotores do evento, (a Pampa do Sr. Nilo Fernandes), o Secretário Flávio Benvegnú chegou a demitir-se do cargo, mas foi instado pelo Eluyr José Reschke, a agüentar tirão. E logo após, tive a feliz ideia, e com justiça, de convidar o CTG Porteira do Rio Grande para “Padrinho” do 2º Rodeio.

O Mário entregou o convite em mãos, e os vacarianos, liderados pelo Patrão Percy Guerreiro, nos honraram com uma Delegação daquela região, com mais de cento e oitenta (180) integrantes, sendo que, destes, mais de três dezenas acamparam no Itatiaia Palace Hotel, o qual motivou-se a ser nosso patrocinador no 3° Rodeio Internacional.

Ah!.... Como se tudo isso não bastasse, o carcará de plantão, daquele tempo até hoje, nos primórdios da “Iradylândia” (o termo e registro histórico é meu), tirava o pão da nossa boca (do Rodeio), para angariar patrocinadores do Pórtico, que está lá, graças a muita gente boa de Passo Fundo. Além disso, fomos à Capital pleitear, junto ao DAER, o asfalto para a Iradylândia. O poço artesiano foi perfurado pela Sudesul, enquanto o patrão Adão Nascimento instalava a bomba d’água, e cuidava da rede. A Expositur S/A, autorizada pelo presidente, cuidava da nova rede elétrica, e construía, com os pedreiros e carpinteiros da Secretaria de Obras, um galpão de 12 x 25, que serviu de restaurante de dia, e salão de baile à noite, e que batizei de Galpão Bragado.

Nosso Rodeio causou impacto nos Vacarianos, pois eles não tinham quatro tablados e uma cobertura, e tampouco um salão de baile nas dependências do Rodeio, o que os agilizou nesse sentido, e acordamos , depois do 3° Rodeio, que eles seriam intercalados, de dois em dois anos, entre Vacaria e Passo Fundo.

Hoje, são passados apenas vinte e seis anos, destas breves reminiscências, de alguns fatos acontecidos naquela escaramuça, que culminou com êxito, na realização do 2º Rodeio Nacional de Integração Gaúcha, (afastando de vez a pecha e a mácula), promovido pela Prefeitura Municipal de Passo Fundo, por sua Secretaria de Desporto e Turismo (Passotur), pelo CTG Lalau Miranda e pela Expositur, Empreendimentos Turísticos S/A., cuja direção estava composta pelo Presidente de Honra:

Prefeito Fernando Machado Carrion;

Presidente Executivo: Flávio Benvegnú;

Vice-Presidente: Nelson Quadros;

2° Vice-Presidente: Nilo Fernandes; Tesoureiro:

Eluyr José Reschke, e Secretário

Geral: Odilon Garcez Ayres. Esses eram secundados por muitos e muitos outros da Invernada Artística (Busch, Odalgiro, Paiva, Elmo, Flori) e da Campeira (Serena, Quadros, Rossal, Kampitz, Machado), de quem muito nos orgulhamos, e que um dia serão decantados, mas hoje, cumpre-me o dever (por ter sido companheiro e amigo de trabalho, e agora testemunha ocular desta história), de prestar esta homenagem “post mortem” a Mario Pereira Guimarães, e recomendar que este peão do Rio Grande tenha um lugar de destaque na nominação dos entes do Rodeio Internacional de Passo Fundo, juntamente com Antoninho Serena, Adão Nascimento, Oscar Vieira e outros, pois foi um dos construtores do segundo, do terceiro e do quarto Rodeio.

Mario Pereira Guimarães Gaúcho, pilchado, sempre a caráter, topógrafo de profissão, churrasqueiro, assador, proseador, contador de causos, de “cosas y losas”, mas um altruísta decidido, trabalhador, sem hora e sem quartel, dinâmico, visionário e sonhador, tradicionalista que nos deixou dia 12 de janeiro de 2012, com 81 anos de idade, em consequência de problemas cardíacos. Durante muitos anos, em companhia do poeta e político, Deputado Federal Lauro Pereira Guimarães, palmilhou o centro-norte brasileiro.

De tradicional família de cidade açoreana, era filho do ex-delegado e ex-prefeito, Ricardo Guimarães, e da professora Felisbina. Fez os estudos fundamentais, no Instituto Estadual de Educação Pereira Coruja. Depois frequentou escolas secundárias e técnicas, na região e na capital. Ligado à terra, ao trabalho e ao lazer, exerceu por anos, até o fim da vida, a profissão de topógrafo.

Tinha a tarefa de ajudar ruralistas a regularizarem a situação de suas terras. Nas últimas duas décadas, casado, fixou residência na Vila Vera Cruz, em Passo Fundo, dedicando-se, além das lides profissionais, ao culto do tradicionalismo autêntico, participando dos eventos mais expressivos do calendário pampeano – os Rodeios de Passo Fundo, Vacaria e Lagoa Vermelha (de onde trouxe para Passo Fundo a iguaria da linguiça campeira, para acompanhar o churrasco). As cidades mencionadas eram seu chão preferido. Assador experiente, bom anfitrião e inesgotável contador de “causos”, sentia-se feliz ao comandar churrascos para mais de cem pessoas.

Além da esposa, a professora aposentada, Iracema Vieira Guimarães, deixou três filhos: o gerente bancário Cassiano, a empresária Clarissa e o autônomo Thomaz, mais netos, genro e nora. Teve seis irmãos: João (falecido), José, Lauro, Maria, Lúcia e Ângela. Mario Pereira Guimarães * Taquari – RS. +12.01.2012 - Cuiabá – MT.

Referências

  1. Odilon Garcez Ayres é escritor e membro da Academia Passo-Fundense de Letras.