Antonino Xavier, Interino

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Antonino Xavier, Interino

Em 28/09/1952, por Celso da Cunha Fiori


Recordar é Viver

Programa de Celso Fiori levado ao ar na Rádio Passo Fundo, ZYF-5

Data: 28 de setembro de 1952, Domingo, 12 horas


(Antonino Xavier - Interino)


Senhoras e senhores: por impossibilidade de sua presença, passo a ler alguns comentários sobre fatos do antigo Passo Fundo, escritos pela pena brilhante de Celso Fiori, membro destacado do Grêmio Passofundense de Letras, que os escreve especialmente para este programa, sempre ouvido com prazer, todos os domingos, pelo maior número de escutas que talvez até hoje conseguiu reunir um programa desta emissora.

I

Temos recebido ultimamente uma série de contribuições a este programa: ora são histórias, ora são notas, e outras vezes autênticas colaborações. É tudo recebido com satisfação e as idéias acolhidas com o mais vivo carinho. Mas, às vezes, nos aparecem coisas que nos trazem complicações e nos deixam sem compreender bem os fatos.

Recebi  do Sr. João de Azevedo Lopes umas notas que me deixaram meio complicado, mas estou certo que também vão complicar a vida dele e do Sr. Percival Silveira.

Conta-nos o Sr. João de Azevedo Lopes que em 1919 existia nesta cidade, exatamente no local onde está sendo construído o moderníssimo e imponente edifício do Sr. Maggi de Césaro, um café denominado Café Kreich., que era atendido por duas moças chamadas Bertha e Elsa. A Elsa era namorada do Percival (e aqui já se complica a vida deste).

Certa vez, numa tarde de verão, estavam eles tomando cerveja no referido café quando entrou porta adentro um pica-pau, pois a cidade ainda era rodeada de matas densas e semi-virgens. Neste ponto da história o Sr. João de Azevedo Lopes nos mandou perguntar o resto da história para o Percival, mas este disse que só quem poderia informar era Bertha e João Lopes (e aqui já se complica a vida deste lá por casa).

Quem souber direito esta história é favor enviar cartas para a residência daqueles senhores, aos cuidados de suas senhoras.

Como primeiro número, reservado para a abertura deste programa, vamos ouvir a valsa “Soou a hora de extinguir-se nosso amor

II

Você já pensou alguma vez, prezado ouvinte , nas profissões e ramos de negócio de muita gente de Passo Fundo? É interessante recordar as antigas profissões ou meios de vida de nossos velhos conhecidos.

Constitui motivo de orgulho, por certo, o início humilde de muitas pessoas que alcançaram o sucesso. Parecem valer mais aqueles que se fizeram pelo seu trabalho, sendo oriundos de classes humildes.

Poderia alguém duvidar que o grande capitão de indústrias da atualidade, Evaristo Tagliari, foi carpinteiro das oficinas da Viação Férrea? Quem poderia imaginar que Múcio de Castro foi vendedor do jornal vespertino do qual hoje é proprietário? Há 25 anos, quem quisesse tirar uma fotografia tinha de contratá-la com o Sr. Benjamin Dagnoluso. Um bom café, naquele tempo, era o marca Pureza, da pequena fábrica do Sr. Píndaro Annes. Para comprar gêneros alimentícios por preços módicos e com peso certo, tinha-se que ir ao Armazém Economia Doméstica do Sr. Ervino Crussius. Quem precisasse de um remédio tinha que procurar o farmacêutico Rui Vergueiro. E para uma barba bem escanhoada ou um corte de cabelo bem feito era indispensável procurar o Sr. Salvador Mancuso. Aperitivo bom mesmo só o que o Nicolau Galichio servia no quiosque. E se quisessem, há 25 anos, arrumar um professor de português ou de latim eu estaria às ordens, prezados ouvintes.

Os nossos bons amigos vão brindar-nos com outra valsa de seu repertório “Porque me desprezas

III

Há uns 30 anos atrás foi juiz em Passo Fundo o nosso muito prezado e distinto amigo Sr. Francisco Antonino Xavier e Oliveira, que se cingia a um grande formalismo e deixou no foro um grande número de anedotas.

Para fazer uma audiência nas medições judiciais, que eram realizadas nos locais dos imóveis, precisava-se ter um cuidado danado.

Conta-se que, certa vez, a caravana judicial, dado o mau estado das estradas, atrasou-se um pouco no caminho, e chegou ao local da audiência 10 minutos atrasada. O Sr. Antonino, tomando seu relógio, declarou que a audiência não mais se realizaria. Foi preciso que o Dr. Junqueira Rocha fizesse atrasar o relógio de todos os presentes para convencer o juiz que o relógio dele é que estava adiantado.

Outra vez, ao chegarem na fazenda onde se realizaria a audiência, o oficial de justiça verificou que esquecera a campainha. Pronto! Não sai a audiência porque o Código do Processo mandava fazer os pregões ao toque de campainha. Mas o advogado salvou a situação: mandou tirar o cincerro de uma égua que pastava no potreiro com o qual o Prócuro e o Henrique fizeram os pregões, pois a lei não determinava a forma e o som da campainha.

Em outra oportunidade, cravava-se o marco primordial da medição de uma sesmaria e o Sr. Antonino exigiu que os pregões fossem feitos sob toque de campainha, formalidade que era já letra morta para quase todos os juizes. Era meio dia. O sol tinindo. O agrimensor Luis Magalhães, suando em bicas, fazendo cravar o marco inicial. E os interessados todos reunidos assistiam aquela solenidade. O Leão Nunes de Castro batia a sineta e dizia: “Está sendo cravado o marco primordial da Medição da Posse de Dona Maria Angélica de Jesus”. Belém! Belém! Belém! “Está sendo cravado o marco primordial da Medição da Posse de Dona Maria Angélica de Jesus”.  “Está sendo cravado o marco primordial da Medição da Posse de Dona Maria Angélica de Jesus”.

Quando terminou a solenidade e estavam todos ainda em silêncio, um alemão que assistira tudo aquilo, exclamou: “Ta batizada a pau!” E foi uma gargalhada geral.

Wordel e seus companheiros da “Orquestra Serenata” vão executar, dedicada a este grande passofundense e benemérito cidadão, Sr. Francisco Antonino Xavier e Oliveira, “Chora”, que forçosamente tem que ser um choro.

IV

E agora alguma coisa de estatística.

É verdade que esta coisa de estatística é muito perigosa e por isto a gente tem certo receio de lidar com ela. Haja vista o caso daquele solteirão, que tendo ouvido dizer que no país havia duas mulheres para cada homem, saiu dizendo que estava sendo logrado porque alguém tinha quatro.

O nosso caso, porém, é o seguinte.

Em 1928 foram abatidas e consumidas nesta cidade 2.572 rezes, dados exatos do relatório da “Intendência Municipal”. Neste ano, a população da cidade não era nem a metade da de agora. Atualmente estão sendo abatidas 10 cabeças por dia, menos 2 dias na semana em que não se abate. Logo, estão sendo abatidas 2.610 rezes para uma população 3 ou 4 vezes maior. A conclusão a que chegamos é de que os passofundenses estão se tornando vegetarianos ou tem muita gente que não come...


Para encerrar este nosso programa de hoje a valsa “Izolina”  que Wordel e seus companheiros reservaram para finalizar.