Linha Divisa

From ProjetoPF
Revision as of 14:25, 3 October 2023 by Projetopf (talk | contribs) (→‎Apresentação)
(diff) ← Older revision | Latest revision (diff) | Newer revision → (diff)
Jump to navigation Jump to search
Linha Divisa
Linha Divisa[1]
Descrição da obra
Autor Agostinho Both
Título Linha Divisa
Assunto História
Formato E-book (formato PDF)
Editora Projeto Passo Fundo
Publicação 2017
Páginas 124
ISBN 978-85-8326-316-6
Formato Papel 15 x 21 cm
Editora UPF
Publicação 1983

Linha Divisa Num estilo claro e agradável, o autor aborda questões importantes para a compreensão do processo de colonização realizado pelos imigrantes europeus e seus descendentes. Ê o caso, por exemplo, do papel da Igreja (aqui a Católica) acompanhando, organizando, disciplinando e integrando os colonos em sua evolução social. Polêmicas a par­te, é inegável que a Igreja desempenhou um importante papel na vida destas comunida­des, como podemos perceber nesta obra.

da Apresentação

Livro escrito por Agostinho Both, publicado em 1983

Apresentação

Apresentação por Antônio Kurtz Amantino

No século passado, o desenvolvimento capitalista em países como a Alemanha e a Itália provocou a ruína de milhares de camponeses e artesãos devido ao processo de con­centração da propriedade do solo e ao surgimento da indústria manufatureira. Grandes contingentes de camponeses e artesãos ficam assim sem terra e sem trabalho. Além dis­so, tinha crescido a lavoura de cereais fora da Europa Centro-Ocidental: os trigais, por exemplo, se expandiram nos EUA, na Ucrânia, na Argentina e no Canadá, concorrendo com a pequena lavoura europeia. Os progressos nos transportes, além de encurtar as distâncias, baixavam o preço dos fretes. Os progressos tecnológicos intensificavam cada vez mais a mecanização das lavouras e das fábricas, aumentando progressivamente o número de desempregados e despossuídos.

A presença destes camponeses e artesãos sem terra e sem trabalho tomava-se in­cômoda: geravam tensões sociais e políticas ao pressionarem as estruturas internas de seus países. A solução para este problema, sem alterar as estruturas sócio-econômicas, foi a emigração, ou seja, o deslocamento destas pessoas para outras áreas. Aliás, estamos assistindo a processo semelhante em nossa região, o episódio da Encruzilhada Natalino é o exemplo mais conhecido e comentado. Trata-se, aqui também, de colonos expulsos da terra pela concentração da propriedade e pela mecanização. Até o momento, procura-se resolver o problema também sem alterar a estrutura fundiária e a política agrícola, mas através do deslocamento destes colonos para outras regiões do país. De certa forma, não deixa de ser mais uma das cruéis ironias da história o fato de que o Rio Grande do Sul que antes dava oportunidade à famílias sem terra e sem trabalho, esteja, hoje, ex­pulsando-os.

Dessa maneira, milhões de europeus (60 milhões de 1840 a 1940) foram embar­cados com destino a outros continentes, principalmente para a América. Embora o li­vro do Agostinho trate de um aspecto da colonização alemã, vale lembrar aqui, já que não dispomos de outro exemplo, o rancor de muitos europeus que foram “expulsos ” de suas pátrias expresso nesta canção que os italianos entoavam nos vapores que os le­vavam para terras desconhecidas (neste caso, o Brasil):

“Noi, italiani lavoratori,

Allegri andaimo nel Brasile

E voi altri, d’Itália signori

Lavoratello ill vostro badile

Se volete mangiare.”

(Nós italianos, trabalhadores, Andamos alegres no Brasil E vós outros senhores da Itália Trabalhai com a pá (Pegai na enxada) Se quereis comer.)

Por outro lado, aqui no Brasil havia o interesse, por parte do governo, de promo­ver a vinda de imigrantes europeus. Basicamente, por dois motivos: obter mão-de-obra para a grande lavoura e ocupar, através de uma colonização de povoamento, zonas dis­tantes e desocupadas, além de estimular a produção de gêneros para o mercado interno já que a grande lavoura se dedicava quase que, exclusivamente, ao mercado externo. A imigração no Rio Grande do Sul se insere no segundo caso: os imigrantes que para cá vieram, foram atraídos por uma política governamental que pretendia formar colônias de povoamento em áreas não propícias à monocultura de exportação ou à pecuária. Mais ainda, o caráter de zona fronteiriça disputada do Rio Grande do Sul tornou a colo­nização de povoamento, baseada na pequem propriedade, a solução adequada para a ocupação deste território, solução esta que ainda não havia sido alcançada com a imi­gração espontânea e com a pecuária.

É nesse quadro mais amplo que encontramos as raízes históricas de Linha Divisa. Outras comunidades, outros colonos, anonimamente, construíram histórias semelhan­tes, com muito sofrimento, trabalho, dedicação e capacidade de renúncia. Neste traba­lho, o Agostinho resgata do anonimato e do esquecimento históricos a luta dos colonos de Linha Divisa para criar uma comunidade onde tudo estava por ser construído quando aí chegaram. Obviamente, e o autor tem consciência disto, a presente obra não pretende ser um estudo do processo colonizador, mas sim um registro da memória histórica de uma pequena comunidade. Mesmo desconsiderando outros méritos, este registro histó­rico feito pelo Agostinho é de grande valor não só para aqueles que, direta ou indiretamente, tenham ligações com a comunidade de Linha Divisa ou outras semelhantes, mas como documentação que poderá ser utilizada em futuras pesquisas.

Num estilo claro e agradável, o autor aborda questões importantes para a com­preensão do processo de colonização realizado pelos imigrantes europeus e seus descen­dentes. Ê o caso, por exemplo, do papel da Igreja (aqui a Católica) acompanhando, orga­nizando, disciplinando e integrando os colonos em sua evolução social. Polêmicas a par­te, é inegável que a Igreja desempenhou um importante papel na vida destas comunida­des, como podemos perceber nesta obra. O professor José Hildebrando Dacanal afirma, a este respeito, que os colégios religiosos e os seminários proporcionaram a muitos jovens uma educação de tal nível que, na época, apenas os filhos da oligarquia gaúcha ou de algumas famílias da alta classe média de Porto Alegre tinham acesso.

Enfim, os leitores poderão perceber nesta obra muitas questões para reflexão e debate: a capacidade de sacrifício e renúncia destes pioneiros, seus costumes, as dificul­dades iniciais de integração e outros problemas e desafios que milhares de colonizado­res, não só os de Linha Divisa, tiveram de enfrentar.

Outros leitores lembrarão com nostalgia, junto ao Agostinho, principalmente aqueles que tiveram sua infância ou parte dela ligada à vida na zona rural, as brincadeiras e aventuras daqueles tempos. Os banhos de açude, as caçadas com bodoque, a arapuca, as pescarias e tantas outras peripécias. Outros ainda, também com espirito saudosista, encontrarão aqui a lembrança de uma paisagem natural profunda e rapidamente altera­da e deteriorada por um processo de modernização agrícola devastador que, em nossos dias, felizmente, está sendo discutido e reavaliado. Muitos dos animais citados aqui, por exemplo, são raros ou já não existem em nossa paisagem. Certamente, essa deve ser uma das tantas razões que faz o Agostinho afirmar melancolicamente que “tudo o que lembrava o pequeno lugar doía por demais ”.

Índice

  • IALGUNS COMENTÁRIOS SOBRE A IMIGRAÇÃO ALEMÃ 13
  • DAS DIFICULDADES 16
  • Em questão de viagem e chegada 16
  • Em questão de Religião 19
  • Em questão de educação 20
  • Em questão da política da terra 22
  • DAS ALEGRIAS 25
  • DOS USOS E COSTUMES 29
  • LINHA DIVISA 32
  • CHEGANDO EM LINHA DIVISA 32
  • O PEQUENO LUGAR 35
  • DE LINHA DIVISA PARA SEUS FILHOS MENORES 69
  • NA CABEÇA DAS CRIANÇAS, HABITAVAM MISTÉRIOS 69
  • DOS BONS E MAUS SOFRIMENTOS 79
  • DAS PEQUENAS ÀS GRANDES ALEGRIAS 91
  • DE ALGUNS GAROTOS QUE PARTIAM COM MISSÃO ESPECIAL 114
  • BIBLIOGRAFIA 118

Conteúdos relacionados

Referências

  1. BOTH, Agostinho. (1983 Linha Divisa -Passo Fundo: Projeto Passo Fundo, 2017. 124 páginas. E-book