O centenário de Túlio Fontoura

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O centenário de Túlio Fontoura

Em 30/04/2006, por Santina Rodrigues Dal Paz


O centenário de Túlio Fontoura[1]

SANTINA RODRIGUES DAL PAZ[2]

Celebramos em 2005 o centenário de nascimento de Túlio Fontoura, motivo pelo qual tributamos à sua memória as homenagens a que faz jus, pelo seu desprendimento, pela sua postura diante do ser humano, pelo exemplo de trabalho, lutas e conquistas, pelo seu amor à nossa pátria. Túlio Fontoura, conhecido jornalista, foi um ser humano bondoso, simples, não fazia distinção entre rico e pobre, raça ou religião, suas atenções eram voltadas para todos. Figura destacada entre os intelectuais de Passo Fundo, na imprensa teve seu papel importante, desenvolvendo um trabalho com dedicação em defesa dos interesses da coletividade. É este homem que completou, no ano de 2005, cem anos de nascimento.

Foi um dos fundadores do Grêmio Passo-Fundense de Letras que, em 1961, passou a chamar-se Academia Passo-Fundense de Letras, onde ocupou cargos de destaque. Como presidente do sodalício buscou soluções beneficiando a comunidade. Isto porque na Academia, com grandes pensadores influentes na cidade, surgiram muitas tomadas de decisão em prol do nosso município. Túlio Fontoura é patrono da cadeira n° 33. Na APL.

Durante os seus 56 anos de atividades, criou páginas escritas e publicadas sobre assuntos variados, especialmente na área complexa da sociologia, economia e política. Intelectual de sólida cultura, com invejável conhecimento, penetrou também pelos caminhos da história e da literatura. Produziu, com incrível fertilidade e substância, milhares de comentários e mais de mil editoriais, alguns ensaios literários, trabalhos biográficos, entre os quais a biografia de seu amigo e correligionário Dr. Nicolau de Araújo Vergueiro, servindo para pesquisa em diversos educandários de nossa cidade. Foi pelos seus méritos de jornalista e literato que ingressou na Academia Passo-Fundense de Letras, a que o acolheu com orgulho.

Pertenceu aos quadros de sócios da Associação Rio-Grandense de Imprensa; e foi membro da Diretoria do Sindicato dos Proprietários de Jornais e Revistas do Rio grande do Sul. Foi primeiro vice-presidente do Aero Clube de Passo Fundo, sócio benemérito e patrão de honra dos centros de tradições gaúchas Osório Porto, Lalau Miranda e de várias entidades sociais, recreativas, esportivas, educacionais e culturais da Capital do Planalto. Esta é uma pequena pincelada da vida de Túlio Fontoura.

Prestou relevantes serviços à comunidade, ao Estado e ao Brasil, entre os quais a direção da Imprensa Oficial do Rio Grande do Sul, convidado que foi pelo governador do Estado, Dr. Lido Meneghetti, tendo feito uma administração digna dos melhores elogios.

Em 1946 foi eleito, por expressiva votação, à Câmara Municipal de Vereadores de Passo Fundo, mas atendendo ao convite do prefeito Arthur Ferreira Filho expirou seu mandato como Diretor do Ensino Municipal, quando teve oportunidade de colaborar e prestar serviços aos filhos desta terra.

Pelo espaço de dois anos (1962-1964) Túlio Fontoura dirigiu a Rádio Universitária, imprimindo novos rumos à publicidade e à parte artística da emissora com a criação de excelentes programas. Este trabalho foi a título de colaboração com os seus amigos, irmãos Dr. César Santos e Dr. Reissoly José dos Santos, então reitor e vice-reitor da Sociedade Pró-Universidade de Passo Fundo, hoje UPF.

Túlio Fontoura, além de intelectual, militou ativamente na política, como já vimos, tendo sido um dos grandes líderes do PSD no Rio Grande do Sul. Foi candidato a deputado estadual por duas vezes. Mesmo prejudicado ainda conseguiu votos que o colocaram na suplência, e foi convocado pela Assembléia Legislativa do Estado, onde teve oportunidade de prosseguir, ainda com mais vigor, atendendo os interesses de seu eleitorado e das comunas que o apoiaram em convenções partidárias. Mas sua passagem foi rápida pela casa do povo porque, a convite do governador, assumiu a direção da Imprensa Oficial.

O certo é que seu gosto pelo jornalismo foi mais forte, começando ainda jovem na tarefa que a sorte lhe premiou. E acertou... Nesta caminhada, que não foi fácil, foi acumulando experiências até chegar ao ápice de sua carreira. Mas teve uma trajetória a cumprir, como todo ser humano inteligente, trabalhador, com objetivos a atingir.

Iniciou sua carreira no jornalismo aos 17 anos, na Capital do Estado, como repórter do jornal "A Manhã", e, quando este fechou, passou para "A Federação". Conheceu experientes jornalistas. Ingressou mais tarde no "Correio do Povo", onde atuou por mais de um ano.

Transferiu residência para Passo Fundo no ano de 1926, acreditando em um futuro melhor, com mais segurança, e apostando em sua capacidade e dedicação. Assim chegou Túlio Fontoura àterra dos passo-fundenses. Com 21 anos de idade, em meados de 1926, foi convidado para gerenciar o semanário "A Gazeta", cujo diretor e proprietário era o major João Carlos de Araújo e Silva (1924-1930).

Seu desejo era ter o seu jornal, então lançou "A Luta", em 1° de maio de 1931. Era, portanto, o proprietário, o diretor e o redator. A partir de agosto de 1931, a janeiro de 1932, o jornal teve como redator J. S. Camargo. Em maio de 1932, a direção e redação ficou a cargo de Rossauro Tavares. Foi um órgão político, independente, até 10 de fevereiro de 1932, quando passou a ser republicano. Era órgão da Frente Única da Serra. O jornal "A Luta" era semanal, com 4 páginas, formato 46X33cm, impresso na impressora "Marioni", vinda da França para a papelaria "A Luta" (Gen. Neto, 584). Em comemoração ao primeiro aniversário de "A Luta" foi lançada uma edição especial, com 16 páginas. O jornal custava $200, sua assinatura anual era de 15$000, semestral 9$000 e trimestral 5$000.

Os principais colaboradores da "A Luta" foram Dr. Ney de Lima Costa, Dr. Rossauro Tavares dos Santos, Dr. Noé Freitas, Dr. Nicolau de Araújo Vergueiro, João Baptista de Carvalho, Jefferson de Carvalho Dantas, Pedro Silveira Avancini, Dr. Pedro dos Santos Pacheco e Flodoaldo Maia. Esses escreveram um texto dando explicações aos leitores sobre a ausência do seu diretor e o motivo por que iam interromper a publicação (31 de dezembro de 1932 a 7 de janeiro de 1933). "FORÇA MAIOR" - "Nem sempre basta a boa vontade para vencer obstáculos; há circunstâncias que se impõem perante as quais devemos ceder, embora com a maior relutância e até com tristeza. E este momento doloroso chegou para "A Luta" que, por motivo da prisão prolongada de seu diretor proprietário, se vê obrigada a suspender temporariamente sua publicidade". Túlio Fontoura aderiu ao movimento revolucionário paulista contra o Governo de Getúlio Vargas, ocupando o posto de tenente- coronel. "A Luta, assim esperamos confiantes, não será este o seu último número, se não apenas o descanso de uma máquina, da qual falta sua peça principal. Esta peça que falta, é a ausência forçada de seu diretor que, por causa da política, se acha preso, na capital da República. Então, "A Luta" se vê na contingência de suspender hoje por um ou dois meses a sua publicidade, o que aliás será levado a crédito de nossos assinantes".

Registramos estes dados para que conheçam um pouco deste nosso confrade e grande jornalista Túlio Fontoura, que comemorou, há pouco, seu centenário de nascimento. Homem que deixou história gravada em seus feitos e que passou incólume em sua trajetória terrena, pois, soube com habilidade vencer muitos e muitos obstáculos que se apresentaram em sua caminhada.

Em 1935, exatamente no dia 28 de novembro, lançava para nossa cidade o jornal "Diário da Manhã", que veio para engrandecer o jornalismo da nossa comunidade e demais municípios da região. Foi crescendo graças à capacidade do jornalista e à colaboração de sua família e de seus leitores. Segundo pesquisa feita por um jornalista historiador de Pelotas, sobre Túlio Fontoura, diz o seguinte: "foi o único gaúcho que fez a façanha de fundar e dirigir um jornal desde 1935 como é o caso do "Diário da Manhã", ainda em plena circulação em Passo Fundo".

Essa empresa jornalística se fortalece e se projeta também fora do Rio Grande do Sul. Completou, em 2005, setenta nos de vida com intenso trabalho em prol da cultura e do desenvolvimento de nossa Pátria.

Referências

  1. Publicado na Revista Água da Fonte n° 4
  2. Santina Rodrigues Dal Paz é professora e membro titular da Academia Passo-Fundense de Letras