Acadêmico Camillo Leôncio Ribeiro

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Acadêmico Camillo Leôncio Ribeiro

Em 30/04/2006, por Santina Rodrigues Dal Paz


Acadêmico Camillo Leôncio Ribeiro[1]

SANTINA RODRIGUES DAL PAZ


As dificuldades no interior do sertão era muitas. Sua escola, onde aprendeu as primeiras letras, foi à sombra de árvores amigas e copadas, tendo como professor um preto, dotado de rara inteligência, chamado Antônio Gualberto Abade. Os métodos pedagógicos da época, adotados por Antônio, eram severos; não dispensava a "palmatória" de madeira de puro cerne, usando da violência com seus educandos.

Sua caminhada da Bahia até Sergipe, foi um tanto difícil, mas muito rica em detalhes e paisagens. Presenciou a atuação trágica do cangaço, fato histórico que trouxe tanta infelicidade, ensangüentando o sertão nordestino, onde sua família estava empenhada em guerrilhas ferozes contra o célebre Lampião (Virgolino Ferreira da Silva - 1900-1938, que ingressou no bando com 18 anos) e seus comandados, que espalhavam o terror na região da Bahia, Sergipe e Ceará. A luta começou em 26 de agosto de 1926, quando dois tios de Camillo foram assassinados pelos cangaceiros, na localidade de Chorrochó e se prolongou por alguns anos, sempre violenta, até que foi eliminado o último implicado no crime de seus tios.

Após a Revolução de 1930, foi dispensado do cargo por falta de verba e por não ser efetivo. Pensou em retornar a sua terra, mas era impossível, pois o bando de Lampião ainda espalhava o terror.

Mas a saudade da terra natal e de Aracaju, a "Capital Sorriso", onde conquistou um bom círculo de amizades, lhe torturava o coração. Mas tinha de enfrentar até o minuano da terra dos pampas. Teve muitas dificuldades, mas tudo passou graças à generosa hospitalidade daquela boa gente gaúcha. Com o passar do tempo foi se tornando mais fácil e agradável. Mais tarde, passados dois anos, foi designado para organizar inspeções federais junto às pequenas fábricas de produtos suínos, na região colonial italiana.

Residindo em Passo Fundo desempenhou, inicialmente, atividades durante 8 anos, junto à Inspetoria Federal da Indústria Zeferino Demétrio Costi (Z. D. Costi & Cia. Ltda.) e depois, durante dez anos, também junto à Inspetoria Federal das Indústrias Reunidas Planaltina S.A. Ao deixar suas funções que vinha desempenhando com zelo e eficiência recebeu louvor todo especial de seus superior hierárquico, pelos excelentes serviços prestados à comunidade, conquistando assim, merecidamente, sua aposentadoria.

Quando de sua volta dessa maravilhosa viagem, embora um pouco chocado com a pobreza da região, estava muito emocionado em abraçar sua mãe, rever seus parentes e amigos, após tantos anos afastado de sua terra.

Em maio de 1966 é empossado como novo acadêmico, na Academia Passo-Fundense de Letras, e é saudado pelo acadêmico Antônio Oliveira, cirurgião-dentista: "Foi com a maior satisfação, porque não dizer com vivo orgulho, que recebi do presidente da APL a incumbência de saudar o Sr. Camillo Leôncio Ribeiro, como novo acadêmico que toma posse em nosso sodalício". Segue relatando seu curriculum vitae com muita riqueza de detalhes, atividades realizadas e, como indivíduo, a soma de atributos morais.

Escolheu para seu patrono na cadeira que iria ocupar o insigne escritor Euclides da Cunha, tragicamente desaparecido. Ninguém melhor do que ele escreveu obras magníficas, uma delas versada em várias línguas, Os Sertões, soube sentir a vida do sertanejo, perdido nas caatingas do sertão baiano, onde viveu uma parcela de sua vida como engenheiro dos mais brilhantes. O baiano Camillo fez parte desse sertão inclemente, vivendo alguns anos entre seus contemporâneos destemidos, analfabetos, mas inteligentes, sempre prontos a uma chacota mordaz ou improvisando versos acompanhados de suas violas. É esse homem que a Academia Passo-Fundense de Letras incluiu em seu quadro de sócios, orgulhosamente. Teve um período fértil em suas apresentações, discursos, poesias e artigos, escritos para vários jornais, inclusive de Passo Fundo, sempre enaltecendo sua terra, nossa cidade c nossa pátria. E para marcar sua passagem por esta terra existe uma rua no Bairro São Cristóvão, que leva o seu nome: Rua Camillo Leôncio Ribeiro.

Sua morte ecoou sentidamente em todos os círculos sociais, nos meios intelectuais, na população em geral, pois era uma pessoa conhecida e bem relacionada, tendo conquistado numerosos amigos.

Deixou a prantear sua morte, esposa, filho, filha, nora, genro e netos. Deixou, também suas irmãs Altina e Joana Ribeiro, residentes no Estado de Sergipe.

Referências

  1. Publicado na Revista Água da Fonte n° 4