O grande Tulio Fontoura

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O grande Tulio Fontoura

Em 30/04/2004, por Santina Rodrigues Dal Paz


O grande Tulio Fontoura[1]

SANTINA RODRIGUES DAL PAZ[2]


O jornalista Túlio Fontoura foi um destacado político e intelectual, uma das grandes ex- pressões da cultura, dono de um coração boníssimo, batalhador incansável. Nasceu em Santana do Livramento, RS, em 22 de fevereiro de 1905, filho de Wal- dencock Moreira da Fontoura e de Dona Laura de Moura Fontoura, sendo ligado por esses laços a duas famílias tradicionais, cujos troncos se acham referidos entre os primeiros povoadores da campanha rio-grandense. Descendia, pelo lado paterno, de João Carneiro da Fontoura, oficial de milícias, falecido em São José do Norte, em 1810; e, pelo lado materno, de Serafim de Moura Reis, figura representativa dos Mouras do Paraná, que se estabeleceram no princípio do século nos campos e ervais de Cruz Alta e Palmeira das Missões.

Ao terminar o curso ginasíal da época, ingressou na Faculdade de Engenharia, porém, no sexto mês, teve de abandonar os estudos para ajudar a família, financeiramente. Mas o destino já havia preparado o encontro com o jornalismo, sua verdadeira vocação.

Com 17 anos de idade, foi apresentado ao consagrado cronista e político Mário Cinco Paus, que o conduziu ao diretor do jornal A Manhã. Imediatamente, iniciou seu trabalho como repórter policial, em 1922. O jornal teve vida efêmera. Havia sido fundado para acompanhar uma campanha política. Encerrado o pleito, fechou o jornal, e imediatamente passou para a A Federação, como porta-voz do Partido Republicanos (Castilhista), então dirigido pelo grande jornalista Lindolfo CoIIor. Com a saída de Collor da direção, também deixou o órgão e ingressou no Correio do Povo, como repórter, onde trabalhou um ano e dois meses, resolvendo tentar a vida em Passo Fundo.

Em 1926, mudou a residência para cá, assumindo a direção do semanário A Gazeta, de propriedade do Major João Carlos de Araújo e Silva, advogado e um pouco jornalista, onde exerceu a profissão até 1930.

No começo de 1931, fundou o semanário A Luta, jornal que teve vida efêmera, fechando em 1932, por ordem do interventor federal. Flores da Cunha, por haver tomado posição em favor dos paulistas, em luta contra a ditadura de Getúlio Vargas. Tornou-se revolucionário, participando do movimento armado irrompido na cidade de Soledade, em prol do Movimento Constitucionalista de São Paulo, e tomou parte do combate do Fão, onde gastaram toda a munição disponível, quando terminou a luta. Em conseqüência dessa participação, Flores da Cunha ordenou sua prisão, determinando sua remoção para Porto Alegre, juntamente com mais um companheiro, o dr. Victor Graeff, e de lá para o Rio de Janeiro, a fim de serem expatriados para Portugal. Privados da liberdade por cinco meses de prisão no Méier obtiveram liberdade condicional graças ao pedido do presidente da Associação Brasileira de lmprensa (ABI).

Em meados de 1933, por interferência ainda da ABI, foi liberado e autorizado a regressar ao Rio Grande do Sul e a Passo Fundo.

De volta ao jornal A Luta, restavam apenas a máquina Marinoni, um prelo velho e algumas caixas de tipo. Teve então de começar tudo outra vez, par- tido do zero, como correspondente de A Razão.

Em 1935, com muita coragem, com muita garra, a 28 de novembro, fundou o Diário da Manhã, que é hoje o órgão chefe de uma rede de jornais do sul do país.

Como político militou no Partido Republicano, no PSD, do qual foi suplentede deputado e membro do diretório estadual, e, por último, na ARENA, até que esse partido fosse extinto.

Túlio Fontoura casou com Dona Lucy Lima. havendo desse matrimônio uma única filha, a professora Clélia, casada com o dr. Dyógenes Auildo Martins Pinto, advogado, professor e jornalista, pais do engenheiro Péricles, do Vinícius e da jornalista Janesca.

Túlio Fontoura foi um iluminado e nasceu para ser jornalista. Em mais de meio século, apenas interrompeu por duas vezes essa profissão: uma, quando dirigiu a imprensa oficial do estado, e outra, quando esteve impedido por questões políticas, já citadas. Experimentou o sabor de grandes vitórias e também a amargura de algumas derrotas. Homem de coragem, de luta e de muita persistência. Nos seus longos anos foi repórter, redator, revisor e dirigente de um jornal que conquistou, palmo a palmo, conceito e prestígio.

Como repórter, aprendeu a conduzir um jornal, do que muito se orgulhava. Sem recursos, fundou e manteve um jornal diário em uma cidade do porte de Passo Fundo. Dizia Túlio Fontoura, em uma palestra aos alunos e professores do Colégio Cecy Leite Costa, de nossa cidade: "Não basta cultura nem inteligência para um dirigente de jornal sagrar-se vitoriosos, na empreitada por vezes muito difícil. É preciso que, além desses dotes intelectuais, o dirigente tenha capacidade para sentir e compreender os anseios de uma coletividade e interpretar-lhe, com fidelidade, os sentimentos, pois, somente assim, o artífice vai construindo, tijolo por tijolo, o edifício que representa a solidez econômica do jornal, através da permanente preferência dos seus leitores, assinantes e anunciantes.

Como toda profissão, principalmente a jornalismo, não improvisa. E preciso, é necessário, é indispensável que exista uma grande vocação para as lides da imprensa, a par de um espírito de tolerância e de equilíbrio, para que não ocorra abuso no manejo da palavra escrita, que representa arma muito poderosa, capaz de construir muito em benefício de uma sociedade, mas poderá fazer-lhe muito mal, se desejar mantê-la em estado de permanente agitação.”

Túlio Fontoura foi testado quando apresentou à população passo-fundense seu matutino, com um lance de audácia, para aquilatar a sua confiança e sua capacidade de planejar e realizar. E lá estavam, ao nascer do sol, os meninos jornaleiros entregando o Diário da Manhã com suas vozes, nas ruas, como um canto matinal para todos ouvirem- "Olha o Diário!"... E a voz que ecoava pelos quatro cantos da cidade.

Este homem deu exemplo de força de vontade. O seu expediente começava às 8 horas e terminava de madrugada. Ele dormia apenas quatro horas, e as- sim foi por um ano, até que o jornal conseguiu uma base econômica, permitindo já uma funcionária na gerência, a jovem Maria Bier, de 15 anos (que mais tarde se tornou esposa do sr. Melgarejo), e um revisor. Iniciou seus trabalhos em um prédio, na esquina da Avenida Brasil com Avenida General Netto, local onde funcionou mais tarde, durante muitos anos, a casa Yanke, de propriedade do sr. Raul Langaro. Nesta ocasião, Túlio Fontoura não acumulava mais todas as funções, e admitiu quatro tipógrafos: Nery Witt, José Gomide, João Meira, Euclides Moreira e Luceval Vargas, que era chefe das oficinas. Com a morte de Luceval, assumiu a função Euclides Moreira, admitindo mais os tipógrafos Antão Gosch Moreira E Emílio Quadros. A máquina Marinoni (já antiga) era acionada por um rapaz de apelido "Pés de Cabra", que também fazia a distribuição do jornal (1935).

Em 1939, Túlio Fontoura adquiriu um imóvel na rua Coronel Chicuta, esqui- na com a rua Independência - era um terreno com uma casa de madeira- por quinze contos e duzentos. Na esquina iniciou a construção, "que foi feita aos poucos, como quem constrói igreja" - dizia Túlio. Enquanto construía, morava na casa de madeira totalmente reformada. A construção da esquina foi fiscalizada pelo construtor, sr. João De Césaro, que também vendia o material a preço de custo.

E o Diário da Manhã crescia... Túlio Fontoura fundou esta obra para crescer. A semente foi abençoada e a divulgação expandiu-se, atingindo municípios vizinhos e o oeste catarinense até a fronteira com o Paraná. Em curto espaço de tempo, passou a ser um dos mais, senão o mais lido de todos os jornais do interior do estado do Rio Grande do Sul.

Mais tarde, o grande batalhador, já contava com a pronta e operosa colaboração de seu genro, dr. Dyógenes Auildo Martins Pinto e de seu neto, dr. Péricles Martins Pinto, os quais, com muito empenho, o sucederam na direção da empresa.

Túlio também foi presidente da Academia Passo-Fundense de Letras; integrou a Associação Rio-Grandense de Imprensa e o Sindicato dos Proprietários de Jornais e Revistas do Rio Grande do Sul; foi membro fundador da Academia Passo-Fundense de Letras (Grêmio); também membro fundador e vive-presidente do Aeroclube de Passo Fundo; e vice-presidente do Lions Clube Passo Fundo Centro. Prestou relevantes serviços públicos como primeiro diretor do Ensino Municipal de Passo Fundo, diretor da Rádio Universitária, e diretor da Imprensa Oficial do Estado do Rio Grande do Sul, No governpo do dr. lido Meneghetti. Em todas as funções que exerceu sempre o fez com competência, trabalho, seriedade, honestidade e inteligência.

Em 17 de setembro de 1979, faleceu em Porto Alegre, onde fora em busca de solução para a moléstia implacável que o surpreendeu no pleno vigor de sua vida. Em seus últimos dias, no Hospital Ernesto Dornelles, na capital do estado, em nenhum momento demonstrou qual- quer gesto de desânimo ou de temor diante da morte implacável, pelo contrário, foi até o último instante o mesmo batalhador corajoso, dos dias de dificuldades e dos dias de vitórias em sua passagem terrena.

Esse homem de temperamento vulcânico, incansável no trabalho e na luta, na lealdade, na afeição desinteressada, na solidariedade sem limites, na coragem e na bondade, que viveu sempre ajudando ao seu semelhante e fazendo de sua profissão um sacerdócio.

As gerações que o sucederem sentirão orgulho deste homem que, em sua trajetória de vida, deixou pegadas visíveis que constituíram a sua história.Túlio Fontoura recebeu muitas homenagens póstumas. Entre elas: "Túlio Fontoura é um símbolo dos combatentes gaúchos". O jornalista Túlio Fontoura, cuja memória mereceu do comandante Saldanha da Gama esse título, teve seu nome perpetuado na capital do estado de São Paulo, em um logradouro público, no Parque Ibirapuera, junto ao mausoléu dos veteranos de 1932, pela feliz iniciativa do Cel. Raymundo Menezes. Justa homenagem que o governo de São Paulo ofereceu ao Tenente Coronel Túlio Fontoura que, em 1932, lutou lado a lado com os paulistas, quando defendeu o direito de ser livre e de semanifestar contra o arbítrio.

Em seus 56 anos de plena atividade jornalística, recebeu inúmeros troféus e condecorações. Homenagens que foram prestadas:

A cidade de Chapecó deu seu nome a uma praça pública, na gestão administrativa Sandre-Bertaso, com o apoio do legislativo municipal, inaugurada em 30 de janeiro de 1980. AprAça Túlio Fontoura, que foi dotada de uma área polivalente de esporte e de lazer para crianças, está situada na rua Rio de Janeiro, esquina índio Conda, no bairro Presidente Médici.

Em Passo Fundo, a professora Idesc Sirotá Viuniski, diretora da Escola Estadual Protásio Alves, num gesto democrático de escolha por professores e alunos, tributou significativa homenagem a Túlio Fontoura, elegendo seu nome para patrono do Centro Cívico daquele tradicional e conceituado educandário (17/08/1980). Foi inaugurado o prédio da Escola Municipal da Encruzilhada dos Müller, no distrito de Pulador, com o nome de "Jornalista Túlio Fontoura", e a aprovação da administração Wolmar Salton-Firmino Duro (04/03/1980).

O busto, perpetuando em bronze o reconhecimento ao saudoso jornalista Túlio Fontoura, foi fixado na praça Marechal Floriano. Na ocasião falaram o historiador e escritor Arthur Ferreira Filho, o prefeito dr. Firmino Duro e o dr. Dyógenes Martins Pinto. Em Santana do Livramento homenageou-se Túlio Fontoura, dando seu nome a uma das avenidas, na cidade que lhe serviu de berço.

Em Pelotas, o novo município de Capão do Leão deu o nome do jornalista Túlio Fontoura a uma de suas avenidas, prestando assim a sua homenagem a este eminente homem, líder inesquecível.

As homenagens foram tantas e lhe foram prestadas até mesmo além fronteiras. “Serviu, como poucos, a seus três grandes amores: ao Brasil, ninguém mais patriota do que ele; ao jornalismo, ninguém mais repórter do que lê; e à família, ninguém mais dedicado e orgulhoso do que ele”.

A História, a Sociologia, a Economia, a Literatura, a Filosofia, eram terrenos em que mergulhara, formando não uma vasta erudição livresca, mas uma autêntica cultura revelada em seus editoriais, suas palestras e discursos, mais ainda na conversa com os amigos." (Cel. Alberto Walter de Almeida, Porto Alegre, 20/03/1981).

Dedicou sua vida em defesa das boas causas. Embora não tenha nascido em nossa cidade, dedicou parte de sua existência, com grande dedicação, a Passo Fundo. Muito de- vem Passo Fundo, o Rio Grande do Sul e o Brasil a este grande batalhador que deixou uma linha de conduta inatacável. Seu lugar está definido entre os rio-grandenses notáveis do seu tempo.

Refúgio (seu sítio) é um lugar para descansar, meditar e conviver com os amigos. Local aconchegante onde Túlio Fontoura se refugiava para escrever. Colocava sua máquina de datilografia no seu automóvel e lá se ia diariamente, com seu estilo e sua cultura, pronto para passar para o papel o que mais tarde seus leitores absorveriam: a mensagem do talentoso jornalista.

A Empresa Jornalística Diário da Manhã teve os seguintes líderes: Diretor-presidente Dyógenes Auildo Martins Pinto, Diretor vive-presidente Péricles Martins Pinto, Diretora executiva Janesca Maria Martins Pinto. Hoje (2004) a diretora presidenta é a jornalista Janesca Maria Martins Pinto. Estes foram e são os continuadores da obra que nasceu para ser grande. Sua edição diária se espalha pelos estados do sul do país, com um número apreciável de leitores e anunci- antes. Seus herdeiros souberam, com muito amor e trabalho, levar adiante o que foi cons- truído com tanto sacrifício pelo fundador, que deve certamente, na outra dimensão, estar aplaudindo este esforço altipotente, desta equipe laboriosa e forte.

Referências

  1. Publicado na revista Água da Fonte nº 1
  2. Santina Rodrgues Dal Paz é professora aposentada e membro da Academia Passo-Fundense de Letras. Ocupa na APL a cadeira n9 33, cujo patrono é o jornalista Túlio Fontoura.