Vamos ao Butiá?

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Vamos ao Butiá?

Em 19/10/2012, por Welci Nascimento e Santina Rodrigues Dal Paz


Vamos ao Butiá?


Certo dia do mês de outubro de 2011, acompanhado de José Mattei, fomos à localidade de Butiazinho, à procura de butiazeiro. Saímos da cidade de Passo Fundo, em direção a Mato Castelhano. Na encruzilhada do Povinho Velho, à esquerda, rumamos para a granja dos Matteis, familiares de Dionísio Mattei, um dos primeiros plantadores de soja e milho daquela região. Percorremos vários quilômetros, à procura de butiazeiros e nada de encontrar um só pé. A não ser um aqui, outro ali, à beira da Estrada, solitariamente. Esse lugar, chamado de Butiazinho fica entre as localidades de Meneghetti, antiga estação da Estrada de ferro e Engenho D’água. No passado, certamente, era lugar de vários cursos d’água e matas nativas. Se a localidade é denominada de Butiazinho, certamente seria porque deveria ter muitos pés de butiás. Mas não. um pé de butiá é raro, por ali. Registramos a existência de um, na granja de José Mattei.

Dois meses depois Heloisa, Milton Goelzer o Sargento Orlei Ramos Borges, motorista do Comitê fomos ao Butiá Grande para rever as terras que foram de propriedade de Fernando Goelzer. A Heloisa e o Milton, tendo nascido ali, já as conheciam. Lá eles nasceram e se criaram. O trajeto foi outro. Saímos da cidade pela BR 285 e atingimos a Estrada Transbrasiliana, hoje abandonada, que deveria unir Passo Fundo, via Erechim, ao norte do Brasil. Percorremos vários quilômetros por estradas de chão, atravessando granjas de milho e soja, até depararmos, depois de muitas voltas, com uma placa rústica que indicava: “Butiá Grande”. O Milton, mais vaqueiro, orientava o motorista do carro, pertencente ao Comitê da Cidadania contra a Fome e a Miséria que a Heloisa coordena. Pegamos à direita da encruzilhada, passamos pela Colônia Araújo, nos deparamos com um resquício de mata nativa, protetora do Arroio do Tigre. O Milton Goelzer ia atento, no sentido de localizar as terras do seu pai e da Heloisa, netos de Fernando Goelzer. Vai daí, que o Milton aponta o dedo para a direita, dizendo: - “É ali:” Localizou a Fazenda pertencente aos pais. Dali se avistavam todas as terras de Fernando Goelzer, hoje recortadas por granjas de milho e soja. No trajeto da viagem, de vez em quando, deparávamos com uma motocicleta. Ao invés do cavalo, a moto, ao invés do cavaleiro, o motociclista. A Heloisa e o Milton se emocionaram em contato com a mãe terra. Butiazeiros na antiga e linda área de terra de Fernando Goelzer, não mais existem; apenas alguns. Os campos do Butiá, com ricas cabeceiras d’água, campos, matas e um imenso butiazeiro foram substituídos pelas imensas lavouras de soja e milho.

Para a dona Heloisa, nesta viagem ao Butiá Grande, foi uma resposta ao desejo de voltar, como na sua poesia:

“Eu Quero voltar…

Ao meu torrão muito amado,

Para ver as manhãs de sol,

Com cigarras no arvoredo

E as andorinhas no beiral…”

Heloisa voltou, mas não viu a carreta ringindo, não escutou a voz do carreteiro. Não viu os campos em queimadas e coxilhas esfumaçadas…

Eis a poesia de Dona Heloisa, sonhando com a sua volta ao Butiá.