Landas, libro de versos

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Landas, libro de versos

Em 30/09/1963, por Celso da Cunha Fiori


LANDAS, discurso[1]

Celso Fiori, in memoriam[2]


André Pitthan era um poeta, não era passo-fundense, mas aqui viveu muitos anos, publicando seguidamente seus versos no O Nacional.

Falecido em 1958, surge agora o livro de sua autoria, que ele próprio intitulou de “Landas”.

Por que este nome? Ele tinha consciência de seu estilo malicioso, da sua tendência invencível para a crítica ferina, para o verso de ataque, que sua inteligência aguçada burilava a cada passo diante dos fatos sociais e políticos que sempre aproveitava como motivo de suas inspirações.

Chamado de Landas, seu livro não forma de modo algum uma charneca onde só nascem e crescem urzes e espinhos, mas concordo em que é o terreno propício às víboras de sua crítica impiedosa, de seus comentários causticantes e de suas apreciações irreverentes.

Homem de lutas, de convicções revolucionárias, que combateu e sofreu por seus ideais, refletiu nas suas poesias exatamente as cores dos raios de luz que passavam pelo prisma de sua própria constituição.

Infelizmente, não pertenceu à Academia Passo-Fundense de Letras, embora tivesse condições e méritos para dela fazer parte.

Proposto e, talvez, incompreendido, foi recusado. Não vejo demérito algum no fato sucedido. Nem todos os poetas ingressam em Academias e nem por isto deixam de ser muitas vezes maiores do que aqueles que ali penetram. Catulo da Paixão, nunca pertenceu a outra Academia que a da natureza rude, agreste, dos sertões do Brasil.

Pitthan, eu o apreciava pelo seu espírito de luta que nunca esmorecia.

Da circunstância de não ter ingressado no antigo Grêmio de Letras ele tirou muitas e interessantes páginas para o seu livro póstumo, como o Fruto Proibido.

É verdade que ele, às vezes, feria. Mas temos que convir que isto é a conseqüência de seu próprio estilo, do material do qual ele fazia a matéria-prima da sua literatura.

Existem nos seus versos muitas críticas injustas, excessivamente contundentes, mas isto não quer dizer que fosse mau ou vingativo. Suas últimas palavras, como registra seu filho, são a prova do acerto da nossa opinião: “Não tenho ódios nem animosidades contra ninguém e vejo todos os homens como meus irmãos”.

Era um poeta popular que honrava com sua crítica.

A Academia, ao tempo em que ainda era Grêmio de Letras, foi distinguida e honrada pela sua crítica.

Os homens públicos estão constantemente expostos aos comentários mais diversos, às vezes terríveis. É o ônus imposto ao homem que se projeta.

Vejam o que se diz diariamente na Câmara, no Senado, nas Câmaras de Vereadores, na Imprensa, contra aqueles que ocupam os mais altos postos na política e na administração. É verdade? Por certo que não. Estes ataques não desmerecem ninguém.

É sabido que o que mais temem os homens de vida pública não são os ataques, as imputações, as acusações, mas o silêncio em torno deles.

O silêncio é que liquida e mata. Por isto é que aquele político disse certa vez: falem mal de mim, mas falem, por favor.

Pode alguém levar à categoria de pecado mortal chamar um acadêmico de burro? Ouvi numa conferência Agripino Grieco dizer que quem comesse os miolos de determinado acadêmico continuaria em jejum, poderia até tomar a comunhão!

Desde menino que vejo, sem exceção, chamar de ladrão a todos os Presidentes da República. Já desacreditaram a palavra no Brasil e já é tempo para os dicionários registrarem o fenômeno lingüístico.

O poeta comenta a seu modo uma circunstância de um processo sob julgamento. Nada impediu a absolvição de acusado pela mais alta Corte de Justiça e nem ficou desmerecida a sátira do versejador.

O libro de versos de André Pitthan é mais uma obra que enriquece a cultura de Passo Fundo.

Havia para o estilo e a natureza deste poeta um lugar ainda vago e que a obra ocupou.

Do livro de André Pitthan não posso deixar de salientar a apresentação feita por seu filho Romeu Pitthan. Nas poucas páginas que escreveu trazendo à luz da publicidade os versos de seu pai, que vinham sendo reunidos por ele próprio, sob o título de Landas, vê-se claramente que a veia do precioso metal explorada pelo velho poeta vai ter no descendente um novo explorador.

A apresentação do livro foi bem feita e denota índole do autor no terreno difícil da crítica literária.

“O tempo que corrói a pedra dura, Corrói, também, os frutos da memória...” - disse ele. Mas André Pitthan e seu livro de versos ficarão muito tempo fazendo parte das nossas recordações.

Referências

  1. da revista "Água da Fonte nº 3"
  2. Celso Fiori foi um dos advogados passo-fundenses mais brilhantes de seu tempo. Professor de Direito e orador dos mais consagrados. Presidiu a Academia Passo-Fundense de Letras. O texto acima é parte do discurso pronunciado durante Sessão Solene, realizada em setembro de 1963, em comemoração à instalação da Primeira Câmara de Vereadores de Passo Fundo.