Automóveis em Passo Fundo

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Automóveis em Passo Fundo

Em 1952 por Celso da Cunha Fiori


Programa levado ao ar na Rádio Passo Fundo, no programa Recordar é Viver

Domingo, ao meio dia, 1952. Data exata não disponível.


Assunto: Automóveis em Passo Fundo

I

Passo Fundo é uma das cidades do Rio Grande do Sul que possui o maior número de automóveis. Cortam os ares, hoje, os aviões do Aero-Clube, da Varig e os Tigres-Voadores da Força Aérea Brasileira, que há pouco nos visitaram pela passagem de mais um aniversário daquela entidade. Mas quando aqui chegou o primeiro automóvel eram indisfarçáveis as preocupações dos passofundenses da época.

O primeiro auto foi trazido a esta cidade pelo Sr. Zico Gomes que o trouxe pela Viação Férrea porque não havia estrada naquele tempo. O desembarque do veículo foi um acontecimento. A estação ficou repleta de curiosos, alguns assustados e temerosos. O Sr. Atanagildo chamou um guri que trabalhava num armazém da praça, chamado Aldo Pinto de Moraes, e mandou por ele o seguinte recado: vai avisar à Luizinha que quando sair traga a Maria Jesus e o Clóvis pela mão porque anda um auto pela cidade. Hoje o Silvio Coelho já anda as voltas com o problema de estacionamento de automóveis na cidade e ninguém segura mais as crianças pela mão.

II

A primeira firma vendedora de autos em Passo Fundo foi Loureiro Lima & Cia Ltda, composta da tradicional e conhecida família Loureiro Lima. O estabelecimento estava situado na Avenida Brasil, esquina General Neto, exatamente no local onde hoje está instalada a Casa Yank.

O primeiro automóvel vendido foi para Justo José Galves, já falecido, pai do Dr. Carlos Galves, um dos mais brilhantes advogados deste foro.

O segundo foi vendido ao Sr. Henrique Scarpelini Ghezzi. Dizem que seu proprietário fez deste Ford de bigode uma verdadeira árvore de Natal, colocando nele todos os acessórios possíveis e imagináveis. E os passofundenses daqueles tempos apelidaram o auto de “Amores de Príncipe”, título de uma peça teatral cuja representação coincidiu com o aparecimento do auto do Sr. Scarpelini Ghezzi.

O terceiro auto vendido pela firma Loureiro Lima foi para Honorato Lima, fazendeiro aqui residente e já falecido. Conta o Sr. Lauro Lima que Honorato, vendo botar água no radiador, entendeu que o seu automóvel não consumia gasolina, andava só com água, e enquanto não se acabou a gasolina que havia no tanque e que fora colocada pelos vendedores, teimava com todo o mundo: “Meu auto é mais moderno: anda só com água”.

Daqueles bons tempos, desta anedota ingênua, é a valsa Marina, que os nossos músicos dedicam ao Sr. João Manuel Mello.

III

Passo Fundo tem fama de possuir um povo com uma verve excepcional. Aqui todos os fatos e coisas recebem a competente crítica e as anedotas surgem com a graça e os espírito dos cariocas.

O nosso estimado e festejado historiador do município, Sr. Antonino Xavier de Oliveira deu-me, há pouco, a feliz oportunidade de ler um livro de sua autoria, ainda não editado, somente com anedotas do velho Passo Fundo. Depois de ler os originais, cheios de um sabor delicioso, eu disse ao Sr. Antonino que eram também muito interessantes as anedotas que corriam a seu respeito, o que causou a ele muita admiração, pois ignorava fosse ele personagem de um, aliás de grande anedotário, pelo qual é responsável o fino espírito crítico do Sr. Píndaro Annes.

Poderia figurar no anedotário recolhido pelo Sr. Antonino Xavier esta que o Sr. Aldo Pinto de Moraes garante ser autêntica:

O Sr. Feliciano Trindade foi o proprietário creio que do primeiro auto de praça de Passo Fundo, e gabava-se de ser muito entendido do seu mecanismo. Um dia fez uma viagem a Nonoai e lá resolveu desmontar a caixa de troca (caixa de câmbio) para reparos, repondo depois tudo nos seus lugares. Posto o auto em condições foi o motor posto em funcionamento e todos se despediram e tomaram os seus lugares no auto, onde Feliciano ocupava o lugar de chauffeur com grande pose. Mas posto o carro em movimento o veículo saiu para trás em vez de partir para a frente, derrubando uma parede do hotel. É que Feliciano havia colocado as engrenagens trocadas...

Os nossos já célebres seresteiros vão nos brindar com o choro Isto dói.

IV

Creio que as histórias sobre automóveis despertam interesse dos ouvintes deste programa. O que faz assim pensar é o fato dos telefonemas e cartas recebidas com algumas sugestões e mesmo alguns reparos sobre o que venho recordando. Assim, houve um protesto por eu ter afirmado que o primeiro auto de praça foi do Sr. Feliciano Trindade. Entretanto, houve equívoco do ouvinte , pois disse que este auto foi um dos primeiros.

O Dr. Nicolau Araújo Vergueiro, em 1928, era chefe político unipessoal do Partido Republicano e tinha a seu serviço um chauffeur chamado Agostinho Cruz, o qual era um corredor extraordinário, um “pintacuda legítimo”.

Numa eleição em Não Me Toque o Dr. Vergueiro ali compareceu com o seu Dodge preto de tolda arriada. Lá pelas tantas (naquele tempo os eleitores eram contados a dedo) o Dr. Vergueiro notou que faltaram dois eleitores seus de Cochinho. Chamou o Agostinho: “vá buscar os homens ligeiro, antes que se encerre a votação”. O Agostinho saiu voando, pôs os eleitores no banco traseiro e veio. Ao parar em frente à mesa eleitoral, constatou que os homens não estavam no auto. Ele os havia perdido na estrada ao passar correndo por uma valeta. Os homens foram jogados para fora do auto. Foram buscá-los e traze-los, mas não para as urnas e sim para o hospital, pois havia braços e clavículas quebradas.

 

Para comemorar a vitória naquela eleição, Vordel e os nossos amigos vão tocar a valsa “Saudade”.