O comunitário na identidade da Universidade de Passo Fundo
O comunitário na identidade
da Universidade de Passo Fundo | |
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Descrição da obra | |
Autor | Agostinho Both |
Título | O comunitário na identidade
da Universidade de Passo Fundo |
Assunto | Ensino |
Formato | Livro (formato PDF) |
Editora | Ed. Universidade de Passo Fundo |
Publicação | 2019 |
Páginas | 191 |
ISBN | 978-85-523-0016-8 Impresso |
Impresso | Formato 15 x 21 cm |
O comunitário na identidade da Universidade de Passo Fundo Como não podia deixar de ser, este livro é cheio de significados: alguns resgatados com maestria pela memória dos acontecimentos e registros dos que escreveram, e outros que somente a experiência, no sentido larrosiano, pode dar. Em um contexto no qual, entre as velocidades e os excessos de trabalhos, temos de fazer paradas obrigatórias, temos que “[...] pensar mais devagar, olhar mais devagar, e escutar mais devagar; parar para sentir, sentir mais devagar, demorar-se nos detalhes [...]” (BONDÍA, 2002, p. 24)1.
Se hoje falamos em inovação, vale a pena conferir o que os nossos antepassados criaram...
Apresentação
Apresentação
Atarefa de apresentar uma obra é sempre complexa, ainda mais quando ela reúne textos que evocam tantas pessoas especiais, memórias e histórias de uma Universidade que se enlaça com nossas próprias histórias de vida. Como dizia o eterno Saramago, em seu Protopoema:
Do novelo emaranhado da memória, da escuridão dos
nós cegos, puxo um fio que me aparece solto.
Devagar o liberto, de medo que se desfaça entre os dedos.
É um fio longo, verde e azul, com cheiro de limos,
e tem a macieza quente do lodo vivo.
É um rio.
Corre-me nas mãos, agora molhadas.
Toda a água me passa entre as palmas abertas, e de
repente não sei se as águas nascem de mim, ou para
mim fluem.
Continuo a puxar, não já memória apenas, mas o
próprio corpo do rio. [...]
O fragmento do poema de José Saramago traduz meu sentimento ao apresentar esta obra. Cada vez que mergulho nas memórias da UPF, lembro-me que nascemos de um sonho coletivo, permeado por muito trabalho e dedicação.
Nesse percurso, fundem-se as memórias do passado às expectativas do futuro, tudo se conecta, se transforma e se enriquece. Foi assim que vivi um dos “encontros” mais intensos durante a minha gestão na Vice-Reitoria de Extensão e Assuntos Comunitários, quando recebi os organizadores desta obra, acompanhados de alguns autores. Todos, colegas professores, afastados do cotidiano acadêmico, mas com a Universidade viva e pulsante dentro de si, como imagino tenham sido todos os dias em que nela trambalharam. Entusiasmados, foram tecendo um enredo de momentos e histórias que constituíram a potente identidade educacional e comunitária da nossa querida UPF.
As “janelas” das memórias e subjetividades produzidas foram dando formato a capítulos possíveis sobre tempos que mereciam ser memoráveis e compartilhados. Assim se fez. Ao final do encontro, o esboço já estava desenhado pelos experientes professores. A obra encontrou percalços no caminho, tais como o adoecimento e a perda do padre Alcides Guareshi. Após esse momento, foi difícil retomar os trabalhos, mas os fiéis companheiros prosseguiram e, juntos, fizeram o que o nosso sempre magnífico reitor faria sem hesitar.
Como não podia deixar de ser, este livro é cheio de significados: alguns resgatados com maestria pela memória dos acontecimentos e registros dos que escreveram, e outros que somente a experiência, no sentido larrosiano, pode dar. Em um contexto no qual, entre as velocidades e os excessos de trabalhos, temos de fazer paradas obrigatórias, temos que “[...] pensar mais devagar, olhar mais devagar, e escutar mais devagar; parar para sentir, sentir mais devagar, demorar-se nos detalhes [...]” (BONDÍA, 2002, p. 24)[1]
Sem a pretensão de uma ordem cronológica ou, então, de esgotar as experiências comunitárias, o texto reúne uma diversidade de informações, narrativas, acontecimentos e reflexões. Além disso, o leitor atento verá que há uma base comum, processual e perene, sustentando todo percurso. Muito antes de uma Vice-Reitoria de Extensão, a Instituição dava sinais de que não se apequenaria em envidar esforços para o desenvolvimento econômico e social e de que dedicaria seus melhores esforços em prol do fortalecimento dos laços comunitários e do compromisso com a formação e a produção do conhecimento.
Se hoje falamos em inovação, vale a pena conferir o que os nossos antepassados criaram...
A área da Educação foi embrionária e alavancadora, dando suporte aos professores para a formação universitária e/ou a complementação dos seus estudos. Antes, ainda, da oficialização da Universidade, diante de um cenário em que a maioria dos professores do “Ginásio” não tinha curso superior, a então Faculdade de Filosofia deu passos firmes na formação de professores, fazendo nascer os cursos de licenciatura, em modalidades factíveis para quem já trabalhava com educação e não podia realizar seus estudos num regime presencial. Aproveitando as experiências e buscando adensar novos conhecimentos nessa interlocução, criou- -se o regime especial de férias.
Paralelamente a isso, outra via, também descentralizada e regionalizada, sinalizava que o endereço da UPF haveria de se espraiar por uma vasta região. Os cursos de formação de professores também ocorreriam em municípios fora de Passo Fundo, intensificando-se na década de 1970 | O comunitário na identidade da Universidade de Passo Fundo 10 com a implantação do Centro Regional de Educação, e, na década de 1980, com a constituição dos Centros de Extensão Universitária (CEUs), que mais tarde materializariam o projeto de universidade multicampi, aprovado em 1993. Esse percurso e essa ligação da, hoje, chamada educação básica com a educação superior fez parte da UPF desde os seus primórdios, de modo que a Instituição se constituiu como a grande responsável pela educação na região Norte do estado do Rio Grande do Sul.
E, na onda da descentralização, voos mais longos fizeram a UPF influenciar o Ensino Superior no Piauí! Surpresa? Eu também não sabia! Foi um intenso e (relativamente) longo percurso de assessoramento, mediado pelo Ministério de Educação, fortalecendo as bases para que uma pequena cidade do interior do Piauí pudesse fortalecer a educação superior, a partir do modelo implantado na UPF.
O livro também registra os caminhos traçados na área de Alimentos, com o governo do estado do Rio Grande do Sul, por meio do Conselho de Desenvolvimento (Condepro) e da Secretaria de Ciência e Tecnologia, quando, no início da década de 1990, criou-se o Polo de Modernização Tecnológica em Alimentos. Um projeto inovador que envolveu múltiplos esforços da Emater, da Universidade, de empresas particulares, do Sindicato dos Trabalhadores Rurais, do Sindicato Rural e de Prefeituras municipais.
Fatos inusitados como a problematização da qualidade dos alimentos que chegava às escolas, o desrespeito à cultura alimentar das diferentes regiões de um país com extensão continental e os altos custos com a logística fizeram com que a instituição protagonizasse a indução da municipalização da merenda escolar.
Ainda na década de 70 do século passado, grupos preocupados com o futuro que se anunciava desencadearam estudos sobre o envelhecimento, criando espaços de experiências e formação que, mais tarde (1990), se materializaram na criação de um Centro de Estudos para a Terceira Idade, o Creati. Tal iniciativa criou raízes e impulsionou políticas públicas para o segmento em toda a região. Hoje, 40 anos após a primeira dissertação-marco que desencadeou o Creati, obtivemos a aprovação do nosso Doutorado em Envelhecimento Humano.
Nessa mesma direção, a UPF fez nascer a Saúde Comunitária nos bairros da cidade, proposta embrionária de descentralização e atendimento ambulatorial, o que, mais tarde, ressignificado pelo acesso universal, pela integralidade e pela participação da população, veio a ser proposto pelas Diretrizes Curriculares da Saúde.
Permeado pelo espírito científico, o estímulo à investigação, a melhoria da qualidade dos produtos e serviços e a “devolução” das produções às comunidades são marcos crescentes dessa força vitalizadora que – acredito – é traduzida por Comin como a mística da UPF.
No embalo de tantas lutas e glórias, muitas das quais à espera de novas escritas, chegamos a 2010! Então, eis a última parte do livro, em que registramos a gestão da Extensão e dos Assuntos Comunitários até junho de 2018, um trabalho coletivo e um viver em grupo, com compromisso e sensibilidade em cada etapa do projeto implementado.
Meu agradecimento e gratidão pela oportunidade de conhecer um pouco melhor alguns precursores da nossa história, o que me permite dizer que a UPF que temos hoje resulta do que fizeram aqueles que nos antecederam, moldando uma instituição compromissada, ao mesmo tempo, com a excelência e com o seu papel social. Uma instituição com raízes profundas na região, mas com o olhar voltado para o mundo, consciente de seu tempo e de seu lugar. Fica lançado o convite à leitura e à continuidade do debate em torno deste grande patrimônio. Ficamos à espera de novas investigações e de novos diálogos sobre as Instituições Comunitárias de Educação Superior que, pela voz desses e de tantos outros atores, possam trazer novas criações e perspectivas.
Bernadete Maria Dalmolin
Reitora
Índice
Apresentação..................................................................... 7
Introdução..........................................................................13
Ao protagonista da universidade comunitária:
uma homenagem................................................................15
Agostinho Both
A inserção social dos idosos e a Universidade de
Passo Fundo.......................................................................18
Agostinho Both
Rita De Marco
A regionalização da Universidade de Passo Fundo...........29
Agostinho Both
Influência da Universidade de Passo Fundo no ensino
superior no sul do Piauí ....................................................36
Raimunda Maria da Cunha Ribeiro
Mirian Folha de Araújo Oliveira
Polo de Modernização Tecnológica em Alimentos: história.49
Irineu Fioreze
Formação de professores em serviço no sistema de ensino:
cursos de férias .................................................................56
Elydo Alcides Guareschi
Saúde comunitária: o pioneirismo da Faculdade de
Medicina da Universidade de Passo Fundo..................... 61
Carlos Antonio Madalosso
Sandra Malheiros Mendonça
A origem das escolas e das universidades do DGE-38:
sua natureza pública e comunitária ................................ 67
Agostinho Both
Telmo Frantz
A Universidade de Passo Fundo e a municipalização da
merenda escolar .............................................................78
Elmar Luiz Floss
A mística do comunitário na missão da Universidade de
Passo Fundo.................................................................. 91
Irany Clemente Comin
Salete Cleusa Bona
A Universidade de Passo Fundo e os cuidados com as
comunidades rurais: projeto Unidades Móveis de Iniciação
ao Trabalho .................................................................113
Irany Clemente Comin
As feiras de ciências na comunitária Universidade
de Passo Fundo .........................................................126
Luiz Eurico Spalding
Luiz Eduardo Schardong Spalding
Extensão universitária: o fortalecimento da identidade
comunitária.................................................................144
Bernadete Maria Dalmolin
Marcio Tascheto da Silva
Munira Medeiros Awad
Adriano José Hertzog Vieira
Sobre os autores e organizadores ...........................188
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Referências
- ↑ BONDÍA, Jorge Larrosa. Notas sobre a experiência e o saber de experiência. Tradução de João Wanderley Geraldi. Revista Brasileira de Educação, Rio de Janeiro, n. 19, p. 20-28, jan./abr. 2002. Elydo Alcides Guareschi et al. (Org.)