Difference between revisions of "O comunitário na identidade da Universidade de Passo Fundo"
(Created page with "{| class="wikitable" style="float: right; margin-left: 20px; margin-top: -5px; width=100%" |+ |- ! colspan="2" style="text-align:center;" |Titulo |- align="center" | cols...") |
|||
(2 intermediate revisions by the same user not shown) | |||
Line 5: | Line 5: | ||
|- | |- | ||
! colspan="2" style="text-align:center;" | | ! colspan="2" style="text-align:center;" |O comunitário na identidade | ||
da Universidade de Passo Fundo | |||
|- align="center" | |- align="center" | ||
| colspan="2" | | | colspan="2" |[[File:O comunitário na identidade da UPF.jpg|center|thumb|O comunitário na identidade da Universidade de Passo Fundo<ref>BOTH, Agostinho. (2019) [https://projetopassofundo.wiki.br/images/e/ee/O_comunitario_na_identidade_da_UPF.pdf O comunitário na identidade da Universidade de Passo Fundo] -Passo Fundo: Projeto Passo Fundo, 190 páginas. E-book</ref>]] | ||
|- | |- | ||
Line 19: | Line 21: | ||
|Autor | |Autor | ||
| | |[[Agostinho Both]] | ||
|- | |- | ||
Line 25: | Line 27: | ||
|Título | |Título | ||
| | |O comunitário na identidade | ||
da Universidade de Passo Fundo | |||
|- | |- | ||
Line 37: | Line 35: | ||
|Assunto | |Assunto | ||
| | |Ensino | ||
|- | |- | ||
Line 43: | Line 41: | ||
|Formato | |Formato | ||
| | |Livro (formato PDF) | ||
|- | |- | ||
Line 49: | Line 47: | ||
|Editora | |Editora | ||
| | |Ed. Universidade de Passo Fundo | ||
|- | |- | ||
Line 55: | Line 53: | ||
|Publicação | |Publicação | ||
| | |2019 | ||
|- | |- | ||
Line 61: | Line 59: | ||
|Páginas | |Páginas | ||
| | |191 | ||
|- | |- | ||
Line 67: | Line 65: | ||
|ISBN | |ISBN | ||
| | |978-85-523-0016-8 Impresso | ||
|- | |- | ||
Line 73: | Line 71: | ||
|Impresso | |Impresso | ||
|Formato | |Formato 15 x 21 cm | ||
|} | |||
'''O comunitário na identidade da Universidade de Passo Fundo''' Como não podia deixar de ser, este livro é cheio de significados: alguns resgatados com maestria pela memória dos acontecimentos e registros dos que escreveram, e outros que somente a experiência, no sentido larrosiano, pode dar. Em um contexto no qual, entre as velocidades e os excessos de trabalhos, temos de fazer paradas obrigatórias, temos que “[...] pensar mais devagar, olhar mais devagar, e escutar mais devagar; parar para sentir, sentir mais devagar, demorar-se nos detalhes [...]” (BONDÍA, 2002, p. 24)1. | |||
Se hoje falamos em inovação, vale a pena conferir o que os nossos antepassados criaram... | |||
== Apresentação == | |||
Apresentação | |||
Atarefa de apresentar uma obra é sempre complexa, ainda mais quando ela reúne textos que evocam tantas pessoas especiais, memórias e histórias de uma Universidade que se enlaça com nossas próprias histórias de vida. Como dizia o eterno Saramago, em seu Protopoema: <blockquote>Do novelo emaranhado da memória, da escuridão dos | |||
nós cegos, puxo um fio que me aparece solto. | |||
Devagar o liberto, de medo que se desfaça entre os dedos. | |||
É um fio longo, verde e azul, com cheiro de limos, | |||
e tem a macieza quente do lodo vivo. | |||
É um rio. | |||
Corre-me nas mãos, agora molhadas. | |||
Toda a água me passa entre as palmas abertas, e de | |||
repente não sei se as águas nascem de mim, ou para | |||
mim fluem. | |||
Continuo a puxar, não já memória apenas, mas o | |||
próprio corpo do rio. [...] </blockquote>O fragmento do poema de José Saramago traduz meu sentimento ao apresentar esta obra. Cada vez que mergulho nas memórias da UPF, lembro-me que nascemos de um sonho coletivo, permeado por muito trabalho e dedicação. | |||
Nesse percurso, fundem-se as memórias do passado às expectativas do futuro, tudo se conecta, se transforma e se enriquece. Foi assim que vivi um dos “encontros” mais intensos durante a minha gestão na Vice-Reitoria de Extensão e Assuntos Comunitários, quando recebi os organizadores desta obra, acompanhados de alguns autores. Todos, colegas professores, afastados do cotidiano acadêmico, mas com a Universidade viva e pulsante dentro de si, como imagino tenham sido todos os dias em que nela trambalharam. Entusiasmados, foram tecendo um enredo de momentos e histórias que constituíram a potente identidade educacional e comunitária da nossa querida UPF. | |||
As “janelas” das memórias e subjetividades produzidas foram dando formato a capítulos possíveis sobre tempos que mereciam ser memoráveis e compartilhados. Assim se fez. Ao final do encontro, o esboço já estava desenhado pelos experientes professores. A obra encontrou percalços no caminho, tais como o adoecimento e a perda do padre Alcides Guareshi. Após esse momento, foi difícil retomar os trabalhos, mas os fiéis companheiros prosseguiram e, juntos, fizeram o que o nosso sempre magnífico reitor faria sem hesitar. | |||
Como não podia deixar de ser, este livro é cheio de significados: alguns resgatados com maestria pela memória dos acontecimentos e registros dos que escreveram, e outros que somente a experiência, no sentido larrosiano, pode dar. Em um contexto no qual, entre as velocidades e os excessos de trabalhos, temos de fazer paradas obrigatórias, temos que “[...] pensar mais devagar, olhar mais devagar, e escutar mais devagar; parar para sentir, sentir mais devagar, demorar-se nos detalhes [...]” (BONDÍA, 2002, p. 24)<ref>BONDÍA, Jorge Larrosa. Notas sobre a experiência e o saber de experiência. Tradução de João Wanderley Geraldi. Revista Brasileira de Educação, Rio de Janeiro, n. 19, p. 20-28, jan./abr. 2002.</ref> | |||
Sem a pretensão de uma ordem cronológica ou, então, de esgotar as experiências comunitárias, o texto reúne uma diversidade de informações, narrativas, acontecimentos e reflexões. Além disso, o leitor atento verá que há uma base comum, processual e perene, sustentando todo percurso. Muito antes de uma Vice-Reitoria de Extensão, a Instituição dava sinais de que não se apequenaria em envidar esforços para o desenvolvimento econômico e social e de que dedicaria seus melhores esforços em prol do fortalecimento dos laços comunitários e do compromisso com a formação e a produção do conhecimento. | |||
Se hoje falamos em inovação, vale a pena conferir o que os nossos antepassados criaram... | |||
A área da Educação foi embrionária e alavancadora, dando suporte aos professores para a formação universitária e/ou a complementação dos seus estudos. Antes, ainda, da oficialização da Universidade, diante de um cenário em que a maioria dos professores do “Ginásio” não tinha curso superior, a então Faculdade de Filosofia deu passos firmes na formação de professores, fazendo nascer os cursos de licenciatura, em modalidades factíveis para quem já trabalhava com educação e não podia realizar seus estudos num regime presencial. Aproveitando as experiências e buscando adensar novos conhecimentos nessa interlocução, criou- -se o regime especial de férias. | |||
Paralelamente a isso, outra via, também descentralizada e regionalizada, sinalizava que o endereço da UPF haveria de se espraiar por uma vasta região. Os cursos de formação de professores também ocorreriam em municípios fora de Passo Fundo, intensificando-se na década de 1970 | O comunitário na identidade da Universidade de Passo Fundo 10 com a implantação do Centro Regional de Educação, e, na década de 1980, com a constituição dos Centros de Extensão Universitária (CEUs), que mais tarde materializariam o projeto de universidade multicampi, aprovado em 1993. Esse percurso e essa ligação da, hoje, chamada educação básica com a educação superior fez parte da UPF desde os seus primórdios, de modo que a Instituição se constituiu como a grande responsável pela educação na região Norte do estado do Rio Grande do Sul. | |||
E, na onda da descentralização, voos mais longos fizeram a UPF influenciar o Ensino Superior no Piauí! Surpresa? Eu também não sabia! Foi um intenso e (relativamente) longo percurso de assessoramento, mediado pelo Ministério de Educação, fortalecendo as bases para que uma pequena cidade do interior do Piauí pudesse fortalecer a educação superior, a partir do modelo implantado na UPF. | |||
O livro também registra os caminhos traçados na área de Alimentos, com o governo do estado do Rio Grande do Sul, por meio do Conselho de Desenvolvimento (Condepro) e da Secretaria de Ciência e Tecnologia, quando, no início da década de 1990, criou-se o Polo de Modernização Tecnológica em Alimentos. Um projeto inovador que envolveu múltiplos esforços da Emater, da Universidade, de empresas particulares, do Sindicato dos Trabalhadores Rurais, do Sindicato Rural e de Prefeituras municipais. | |||
Fatos inusitados como a problematização da qualidade dos alimentos que chegava às escolas, o desrespeito à cultura alimentar das diferentes regiões de um país com extensão continental e os altos custos com a logística fizeram com que a instituição protagonizasse a indução da municipalização da merenda escolar. | |||
Ainda na década de 70 do século passado, grupos preocupados com o futuro que se anunciava desencadearam estudos sobre o envelhecimento, criando espaços de experiências e formação que, mais tarde (1990), se materializaram na criação de um Centro de Estudos para a Terceira Idade, o Creati. Tal iniciativa criou raízes e impulsionou políticas públicas para o segmento em toda a região. Hoje, 40 anos após a primeira dissertação-marco que desencadeou o Creati, obtivemos a aprovação do nosso Doutorado em Envelhecimento Humano. | |||
Nessa mesma direção, a UPF fez nascer a Saúde Comunitária nos bairros da cidade, proposta embrionária de descentralização e atendimento ambulatorial, o que, mais tarde, ressignificado pelo acesso universal, pela integralidade e pela participação da população, veio a ser proposto pelas Diretrizes Curriculares da Saúde. | |||
Permeado pelo espírito científico, o estímulo à investigação, a melhoria da qualidade dos produtos e serviços e a “devolução” das produções às comunidades são marcos crescentes dessa força vitalizadora que – acredito – é traduzida por Comin como a mística da UPF. | |||
No embalo de tantas lutas e glórias, muitas das quais à espera de novas escritas, chegamos a 2010! Então, eis a última parte do livro, em que registramos a gestão da Extensão e dos Assuntos Comunitários até junho de 2018, um trabalho coletivo e um viver em grupo, com compromisso e sensibilidade em cada etapa do projeto implementado. | |||
Meu agradecimento e gratidão pela oportunidade de conhecer um pouco melhor alguns precursores da nossa história, o que me permite dizer que a UPF que temos hoje resulta do que fizeram aqueles que nos antecederam, moldando uma instituição compromissada, ao mesmo tempo, com a excelência e com o seu papel social. Uma instituição com raízes profundas na região, mas com o olhar voltado para o mundo, consciente de seu tempo e de seu lugar. Fica lançado o convite à leitura e à continuidade do debate em torno deste grande patrimônio. Ficamos à espera de novas investigações e de novos diálogos sobre as Instituições Comunitárias de Educação Superior que, pela voz desses e de tantos outros atores, possam trazer novas criações e perspectivas. | |||
Bernadete Maria Dalmolin | |||
Reitora | |||
== Índice == | == Índice == | ||
{| class="wikitable" | |||
|Apresentação 7 | |||
Introdução13 | |||
Ao protagonista da universidade comunitária: uma homenagem 15 | |||
Agostinho Both | |||
A inserção social dos idosos e a Universidade de Passo Fundo 18 | |||
Agostinho Both e Rita De Marco | |||
A regionalização da Universidade de Passo Fundo 29 | |||
Agostinho Both | |||
Influência da Universidade de Passo Fundo no ensino superior no sul do Piauí 36 | |||
Raimunda Maria da Cunha Ribeiro e Mirian Folha de Araújo Oliveira | |||
Polo de Modernização Tecnológica em Alimentos: história 49 | |||
Irineu Fioreze | |||
Formação de professores em serviço no sistema de ensino: cursos de férias 56 | |||
Elydo Alcides Guareschi | |||
Saúde comunitária: o pioneirismo da Faculdade de Medicina da Universidade de Passo Fundo 61 | |||
Carlos Antonio Madalosso e Sandra Malheiros Mendonça | |||
A origem das escolas e das universidades do DGE-38: sua natureza pública e comunitária 67 | |||
Agostinho Both e Telmo Frantz | |||
A Universidade de Passo Fundo e a municipalização da merenda escolar 78 | |||
Elmar Luiz Floss | |||
A mística do comunitário na missão da Universidade de Passo Fundo 91 | |||
Irany Clemente Comin e Salete Cleusa Bona | |||
A Universidade de Passo Fundo e os cuidados com as comunidades rurais: projeto Unidades Móveis de Iniciação ao Trabalho 113 | |||
Irany Clemente Comin | |||
As feiras de ciências na comunitária Universidade de Passo Fundo 126 | |||
Luiz Eurico Spalding e Luiz Eduardo Schardong Spalding | |||
Extensão universitária: o fortalecimento da identidade comunitária144 | |||
Bernadete Maria Dalmolin, Marcio Tascheto da Silva, Munira Medeiros Awad e Adriano José Hertzog Vieira | |||
Sobre os autores e organizadores 188 | |||
|} | |||
== Conteúdos relacionados == | == Conteúdos relacionados == |
Latest revision as of 14:52, 4 October 2023
O comunitário na identidade
da Universidade de Passo Fundo | |
---|---|
![]() O comunitário na identidade da Universidade de Passo Fundo[1] | |
Descrição da obra | |
Autor | Agostinho Both |
Título | O comunitário na identidade
da Universidade de Passo Fundo |
Assunto | Ensino |
Formato | Livro (formato PDF) |
Editora | Ed. Universidade de Passo Fundo |
Publicação | 2019 |
Páginas | 191 |
ISBN | 978-85-523-0016-8 Impresso |
Impresso | Formato 15 x 21 cm |
O comunitário na identidade da Universidade de Passo Fundo Como não podia deixar de ser, este livro é cheio de significados: alguns resgatados com maestria pela memória dos acontecimentos e registros dos que escreveram, e outros que somente a experiência, no sentido larrosiano, pode dar. Em um contexto no qual, entre as velocidades e os excessos de trabalhos, temos de fazer paradas obrigatórias, temos que “[...] pensar mais devagar, olhar mais devagar, e escutar mais devagar; parar para sentir, sentir mais devagar, demorar-se nos detalhes [...]” (BONDÍA, 2002, p. 24)1.
Se hoje falamos em inovação, vale a pena conferir o que os nossos antepassados criaram...
Apresentação
Apresentação
Atarefa de apresentar uma obra é sempre complexa, ainda mais quando ela reúne textos que evocam tantas pessoas especiais, memórias e histórias de uma Universidade que se enlaça com nossas próprias histórias de vida. Como dizia o eterno Saramago, em seu Protopoema:
Do novelo emaranhado da memória, da escuridão dos
nós cegos, puxo um fio que me aparece solto.
Devagar o liberto, de medo que se desfaça entre os dedos.
É um fio longo, verde e azul, com cheiro de limos,
e tem a macieza quente do lodo vivo.
É um rio.
Corre-me nas mãos, agora molhadas.
Toda a água me passa entre as palmas abertas, e de
repente não sei se as águas nascem de mim, ou para
mim fluem.
Continuo a puxar, não já memória apenas, mas o
próprio corpo do rio. [...]
O fragmento do poema de José Saramago traduz meu sentimento ao apresentar esta obra. Cada vez que mergulho nas memórias da UPF, lembro-me que nascemos de um sonho coletivo, permeado por muito trabalho e dedicação.
Nesse percurso, fundem-se as memórias do passado às expectativas do futuro, tudo se conecta, se transforma e se enriquece. Foi assim que vivi um dos “encontros” mais intensos durante a minha gestão na Vice-Reitoria de Extensão e Assuntos Comunitários, quando recebi os organizadores desta obra, acompanhados de alguns autores. Todos, colegas professores, afastados do cotidiano acadêmico, mas com a Universidade viva e pulsante dentro de si, como imagino tenham sido todos os dias em que nela trambalharam. Entusiasmados, foram tecendo um enredo de momentos e histórias que constituíram a potente identidade educacional e comunitária da nossa querida UPF.
As “janelas” das memórias e subjetividades produzidas foram dando formato a capítulos possíveis sobre tempos que mereciam ser memoráveis e compartilhados. Assim se fez. Ao final do encontro, o esboço já estava desenhado pelos experientes professores. A obra encontrou percalços no caminho, tais como o adoecimento e a perda do padre Alcides Guareshi. Após esse momento, foi difícil retomar os trabalhos, mas os fiéis companheiros prosseguiram e, juntos, fizeram o que o nosso sempre magnífico reitor faria sem hesitar.
Como não podia deixar de ser, este livro é cheio de significados: alguns resgatados com maestria pela memória dos acontecimentos e registros dos que escreveram, e outros que somente a experiência, no sentido larrosiano, pode dar. Em um contexto no qual, entre as velocidades e os excessos de trabalhos, temos de fazer paradas obrigatórias, temos que “[...] pensar mais devagar, olhar mais devagar, e escutar mais devagar; parar para sentir, sentir mais devagar, demorar-se nos detalhes [...]” (BONDÍA, 2002, p. 24)[2]
Sem a pretensão de uma ordem cronológica ou, então, de esgotar as experiências comunitárias, o texto reúne uma diversidade de informações, narrativas, acontecimentos e reflexões. Além disso, o leitor atento verá que há uma base comum, processual e perene, sustentando todo percurso. Muito antes de uma Vice-Reitoria de Extensão, a Instituição dava sinais de que não se apequenaria em envidar esforços para o desenvolvimento econômico e social e de que dedicaria seus melhores esforços em prol do fortalecimento dos laços comunitários e do compromisso com a formação e a produção do conhecimento.
Se hoje falamos em inovação, vale a pena conferir o que os nossos antepassados criaram...
A área da Educação foi embrionária e alavancadora, dando suporte aos professores para a formação universitária e/ou a complementação dos seus estudos. Antes, ainda, da oficialização da Universidade, diante de um cenário em que a maioria dos professores do “Ginásio” não tinha curso superior, a então Faculdade de Filosofia deu passos firmes na formação de professores, fazendo nascer os cursos de licenciatura, em modalidades factíveis para quem já trabalhava com educação e não podia realizar seus estudos num regime presencial. Aproveitando as experiências e buscando adensar novos conhecimentos nessa interlocução, criou- -se o regime especial de férias.
Paralelamente a isso, outra via, também descentralizada e regionalizada, sinalizava que o endereço da UPF haveria de se espraiar por uma vasta região. Os cursos de formação de professores também ocorreriam em municípios fora de Passo Fundo, intensificando-se na década de 1970 | O comunitário na identidade da Universidade de Passo Fundo 10 com a implantação do Centro Regional de Educação, e, na década de 1980, com a constituição dos Centros de Extensão Universitária (CEUs), que mais tarde materializariam o projeto de universidade multicampi, aprovado em 1993. Esse percurso e essa ligação da, hoje, chamada educação básica com a educação superior fez parte da UPF desde os seus primórdios, de modo que a Instituição se constituiu como a grande responsável pela educação na região Norte do estado do Rio Grande do Sul.
E, na onda da descentralização, voos mais longos fizeram a UPF influenciar o Ensino Superior no Piauí! Surpresa? Eu também não sabia! Foi um intenso e (relativamente) longo percurso de assessoramento, mediado pelo Ministério de Educação, fortalecendo as bases para que uma pequena cidade do interior do Piauí pudesse fortalecer a educação superior, a partir do modelo implantado na UPF.
O livro também registra os caminhos traçados na área de Alimentos, com o governo do estado do Rio Grande do Sul, por meio do Conselho de Desenvolvimento (Condepro) e da Secretaria de Ciência e Tecnologia, quando, no início da década de 1990, criou-se o Polo de Modernização Tecnológica em Alimentos. Um projeto inovador que envolveu múltiplos esforços da Emater, da Universidade, de empresas particulares, do Sindicato dos Trabalhadores Rurais, do Sindicato Rural e de Prefeituras municipais.
Fatos inusitados como a problematização da qualidade dos alimentos que chegava às escolas, o desrespeito à cultura alimentar das diferentes regiões de um país com extensão continental e os altos custos com a logística fizeram com que a instituição protagonizasse a indução da municipalização da merenda escolar.
Ainda na década de 70 do século passado, grupos preocupados com o futuro que se anunciava desencadearam estudos sobre o envelhecimento, criando espaços de experiências e formação que, mais tarde (1990), se materializaram na criação de um Centro de Estudos para a Terceira Idade, o Creati. Tal iniciativa criou raízes e impulsionou políticas públicas para o segmento em toda a região. Hoje, 40 anos após a primeira dissertação-marco que desencadeou o Creati, obtivemos a aprovação do nosso Doutorado em Envelhecimento Humano.
Nessa mesma direção, a UPF fez nascer a Saúde Comunitária nos bairros da cidade, proposta embrionária de descentralização e atendimento ambulatorial, o que, mais tarde, ressignificado pelo acesso universal, pela integralidade e pela participação da população, veio a ser proposto pelas Diretrizes Curriculares da Saúde.
Permeado pelo espírito científico, o estímulo à investigação, a melhoria da qualidade dos produtos e serviços e a “devolução” das produções às comunidades são marcos crescentes dessa força vitalizadora que – acredito – é traduzida por Comin como a mística da UPF.
No embalo de tantas lutas e glórias, muitas das quais à espera de novas escritas, chegamos a 2010! Então, eis a última parte do livro, em que registramos a gestão da Extensão e dos Assuntos Comunitários até junho de 2018, um trabalho coletivo e um viver em grupo, com compromisso e sensibilidade em cada etapa do projeto implementado.
Meu agradecimento e gratidão pela oportunidade de conhecer um pouco melhor alguns precursores da nossa história, o que me permite dizer que a UPF que temos hoje resulta do que fizeram aqueles que nos antecederam, moldando uma instituição compromissada, ao mesmo tempo, com a excelência e com o seu papel social. Uma instituição com raízes profundas na região, mas com o olhar voltado para o mundo, consciente de seu tempo e de seu lugar. Fica lançado o convite à leitura e à continuidade do debate em torno deste grande patrimônio. Ficamos à espera de novas investigações e de novos diálogos sobre as Instituições Comunitárias de Educação Superior que, pela voz desses e de tantos outros atores, possam trazer novas criações e perspectivas.
Bernadete Maria Dalmolin
Reitora
Índice
Apresentação 7
Introdução13 Ao protagonista da universidade comunitária: uma homenagem 15 Agostinho Both A inserção social dos idosos e a Universidade de Passo Fundo 18 Agostinho Both e Rita De Marco A regionalização da Universidade de Passo Fundo 29 Agostinho Both Influência da Universidade de Passo Fundo no ensino superior no sul do Piauí 36 Raimunda Maria da Cunha Ribeiro e Mirian Folha de Araújo Oliveira Polo de Modernização Tecnológica em Alimentos: história 49 Irineu Fioreze Formação de professores em serviço no sistema de ensino: cursos de férias 56 Elydo Alcides Guareschi Saúde comunitária: o pioneirismo da Faculdade de Medicina da Universidade de Passo Fundo 61 Carlos Antonio Madalosso e Sandra Malheiros Mendonça A origem das escolas e das universidades do DGE-38: sua natureza pública e comunitária 67 Agostinho Both e Telmo Frantz A Universidade de Passo Fundo e a municipalização da merenda escolar 78 Elmar Luiz Floss A mística do comunitário na missão da Universidade de Passo Fundo 91 Irany Clemente Comin e Salete Cleusa Bona A Universidade de Passo Fundo e os cuidados com as comunidades rurais: projeto Unidades Móveis de Iniciação ao Trabalho 113 Irany Clemente Comin As feiras de ciências na comunitária Universidade de Passo Fundo 126 Luiz Eurico Spalding e Luiz Eduardo Schardong Spalding Extensão universitária: o fortalecimento da identidade comunitária144 Bernadete Maria Dalmolin, Marcio Tascheto da Silva, Munira Medeiros Awad e Adriano José Hertzog Vieira Sobre os autores e organizadores 188 |
Conteúdos relacionados
Referências
- ↑ BOTH, Agostinho. (2019) O comunitário na identidade da Universidade de Passo Fundo -Passo Fundo: Projeto Passo Fundo, 190 páginas. E-book
- ↑ BONDÍA, Jorge Larrosa. Notas sobre a experiência e o saber de experiência. Tradução de João Wanderley Geraldi. Revista Brasileira de Educação, Rio de Janeiro, n. 19, p. 20-28, jan./abr. 2002.