Xiko Garcia: a critica social através da musica e da poesia

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Xiko Garcia: a critica social através da musica e da poesia

Em 2009, por Diego Chimango Vargas


Xiko Garcia

A critica social através da musica e da poesia.


Amordaçados pelo açaimo da injustiça, o povo vive calado como o gado que segue para o matadouro, permitindo-se assistir episódios inadmissíveis como a corrupção, a enxurrada de impostos e o estrangulamento dos salários. Por não conhecerem plenamente os seus direitos, temerosos por sucumbir ao detrimento da moral, o povo esquiva-se da função legal de cobrar competência dos seus governantes, reduzindo ao desvanecimento a sua condição de cidadão. A maior necessidade do brasileiro é falar, e a outra é ser ouvido. Perante as desvantagens impostas pelo subdesenvolvimento, surgem em meio à população verdadeiros ícones que, seja na literatura, na música, no jornalismo ou até mesmo nas atividades sociais, alcançam o patamar de porta-vozes do povo, manifestando através de seu oficio o retrato explicito do desequilíbrio social.

Com uma linguagem simples e analítica, a poesia popular tem o papel de criticar as mazelas e cobrar providencias. Em outras palavras, o poeta popular é aquele que manifesta tudo aquilo que está engolfado na garganta do povo. No Brasil, em tempos de repressão militar, pessoas vindas das humildes camadas da sociedade revolucionaram a opinião pública por meio de versos e melodias, tais como Chico Buarque, Juca Chaves, Caetano Veloso, Elis Regina e tantos outros. Muito antes destes, a dupla caipira Alvarenga & Ranchinho já denunciava através de sua irreverência e coloquialismo a obscura realidade social do Estado Novo. Seguindo esta linha ideológica, nomes consagrados da música sertaneja de raiz, como Tonico & Tinoco e Tião Carreiro e Pardinho, da musica nordestina como Gonzagão e suas áridas composições, ou ainda pelo intelecto palpável do rock de Raul Seixas e Renato Russo, que inspiram até hoje muitos artistas. Todos estes, cada qual com seu estilo, deram aos brasileiros a oportunidade de fazerem das suas canções um hino, e da poesia um grito de alerta, um chamado para a realidade, e por isso foram imortalizados.

Pertence à este mesmo naipe o poeta passo-fundense Francisco Mello Garcia, conhecido artisticamente como Xiko Garcia, um homem de origem rural, filho de família pobre e honesta que muito cedo conviveu com as disproporcionalidades da vida e as utilizou como forma de evolução. Sua adolescência se deu no meio urbano, época em que seu espírito poético se enfatizou frente à situação de repúdio social. Foi militar por 9 anos, depois, paralelamente às suas atividades profissionais (bacharel em Contabilidade e pós-graduado em Arteterapia), Xiko Garcia adentrou no meio poético motivado pela necessidade comum de falar, criticar, exprimir a sua opinião. Munido de uma poesia de versos simples, com expressões coloquiais e de um nível ideológico audaz e judicioso, o poeta passo-fundense desempenha o papel de um critico social vindo do povo para o povo, abordando temáticas contemporâneas como corrupção, falta de ética, a preservação ecológica alicerçada no desenvolvimento sustentável, o apreço pelas origens representado na valorização da cultura e da pratica do civismo. Astucioso no uso de comparações, metáforas, e muitas vezes eufemismos, Xiko Garcia ironiza as precariedades do cenário político e social do país com impressionante habilidade. Torna-se polemico e por vezes mordaz ao defender um embasamento intelectual de proporções singulares.

“Xiko Garcia é um típico exemplo de poeta popular. Toda a sua poesia transmite um recado. Insere-se dentro daquilo que a Filosofia define como senso comum, e que merece uma atenção especial dos filósofos. Portanto, foge à interioridade subjetiva e a representação de espírito para o espírito”, assim o definiu Paulo Monteiro, presidente da Academia Passo-Fundense de Letras, entidade da qual o poeta é membro desde 2006, tendo como patrono da cadeira 25 o poeta Pindaro Annes. mas também sabe ser saudosista, lírico e afável em temas que tratam do amor, da alegria e da valorização da vida. Em seu livro “Vivencia” (1998), o autor traz uma coletânea de poemas valiosos, com “Peixes do Rio da Vida”, “Infância” e certamente a sua marca registrada, “O Tempo”. Este último poema possui elementos absolutamente contemporâneos, mas de uma forma até metafísica, termo utilizado pelos maiores poetas de todos os tempos. O poeta ainda participou de outros oito livros em parceria com outros autores.

O que abrilhanta ainda mais o trabalho de Xiko Garcia é a vinculação de sua poesia a música, através do violão, o que pode ser conferido no CD “Reflexos da Vida”, lançado em 2006, contendo 12 temas. Assim já apresentou-se em diversas cidades do Estado e do País, uma particularidade do artista que lhe rende os aplausos do público e homenagens em cidades como Santo Ângelo, Santa Rosa, Passo Fundo, Porto Alegre e Brasília. O poeta publica seus poemas em jornais e revistas há mais de 30 anos, possui reconhecimentos acadêmicos  e é tido atualmente como uma das personalidades mais expressivas da atualidade. Para o professor Alcides Sartori, “A poesia não pode ser explicada, ela deve ser sentida. Xiko escreve com leveza, espontaneidade, suas rimas são simples e ao mesmo tempo profundas, e transmitem com clareza as verdades do cotidiano em que vivemos”. Ao apresentar o poeta durante a comemoração dos 39 anos da Fundação Cultural Planalto em Passo Fundo, o jornalista Daltro José Wesp usou as seguintes palavras: “Ele não é só um critico social, ele também é um poeta que expressa o sentimento do coração e da alma, a paixão e altivez que nos eleva a Deus e ao sonho de plenitude”. De acordo com o Frei Renato Zanolla, da Rede Sul de Rádios de Caxias do Sul, entende que “o trabalho desempenhado por Xiko Garcia é repleto de sabedoria extraída da sua própria experiência de vida, que serve de referencia para seu público e merece um apreço crescente da comunidade”.

No prefácio de seu primeiro livro, Xiko Garcia foi saudado pelo promotor de justiça Edgar Oliveira Garcia ao dizer que “a Nação só poderá alcançar a redenção quando a maioria sorver com avidez as mensagens dos poetas, e depois disso, estabelecerem práticas de acordo com seus pensamentos”. Na mesma obra, faz menção ao autor o professor de língua e literatura, político, atual prefeito de Santa Rosa (RS), Alcides Vicini, “Xiko Garcia é um homem inquieto e inconformado com os paradoxos do mundo moderno, que encontra na poesia e na música os interlocutores para suas angustias existenciais”. De fato, este poeta popular merece todos os méritos que lhe são atribuídos, pois tem a coragem de encarar as impetuosas adversidades que se apresentam no caminho dos intrépidos sonhadores, que por vezes são vistos como loucos, mas que no fundo sabem que todos aqueles que mudaram o mundo com suas atitudes foram considerados malucos. Com 63 anos de idade, Francisco Mello Garcia é um homem que faz da poesia e da música o seu modo de viver, fazendo da arte um instrumento de utilidade pública através do pensamento critico e da filosofia dos bons cidadãos. É uma honra para a Capital Nacional da Literatura o fato de enaltecer e contemplar o talento do poeta e compositor Xiko Garcia como uma preciosidade da musica e da literatura local.