Vozes da querência
Vozes da querência | |
---|---|
Descrição da obra | |
Autor | Antônio Carlos Machado |
Título | Vozes da querência |
Subtítulo | subsídios para o estudo do
linguajar regional Sul-riograndense |
Assunto | História |
Formato | E-book (formato PDF) |
Editora | Projeto Passo Fundo |
Publicação | 2012 |
Páginas | 104 |
ISBN | 978-85-64997-70-7 |
Impresso | Formato 13 x 19 cm |
Editora | Livraria do Globo |
Publicação | 1949 |
Vozes da querência: subsídios para o estudo do linguajar regional Sul-riograndense O problema da origem das palavras tem sido, em todas as épocas e latitudes, de um modo geral, motivo das melhores atenções. Compreende-se. São acordes os entendidos em proclamar a indisfarçável importância da lexicogense. Para Clement Alexandrino, os costumes são a própria fonte da linguagem: “Verba omnia ex moribus emanant”. Raynaud, em sua obra clássica “Origine et philosophie du langage”, com justificado acerto, atribui magno valor etológico a linguística e Celeste chegou, mesmo, a afirmar textualmente: “La parole e la prima istoria dele nazioni”. É interessante saber que Karl Vossler surpreendeu na língua francesa a própria alma da França. Nenhum exemplo mais expressivo pode ser citado para demonstrar a relevância da glótica.
Tao relevante é ela, sob o ponto de vista culturológico, que até na analise de folk-lore não se prescinde dela. O crescente interesse dos sociólogos atuais pela filologia constitui fato significativo. Outro fato igualmente eloquente nós encontramos na conformação definida que a filologia começa a ter no conjunto de ciências sociais, já sensível em nossos dias e que há de, por força, aparecer muito mais saliente em épocas futuras.
Apresentação
NOTA PRÉVIA, pelo Autor
Este voluminho, em seu primitivo plano, deveria restringir-se ao estudo em largas gizadas de algumas dições e formas verbais gaúchas sob a tríplice aspecto léxico, sintático e fonético. Perquirições ulteriores por nós feitas vieram, no entanto, desvendar aspectos inéditos e impensáveis da matéria, conduzindo-nos inevitavelmente a amplificação do objetivo inicial, em que, desde então, por exigências de ordem metodológica, foi mister incluir um grande número de informações, conforme adiante se verá.
Antes de mais nada desejamos deixar bem frisado que não se trata de obra completa. Claro está que para tanto seria preciso um trabalho de folego. Tocando de leve nos pontos viscerais do assunto, cujo estudo definitivo, notemos de caminho, embora despertando merecidos cuidados, continua em suspenso, destacando suas facetas mais importantes e procurando enfim, amolda-lo, tanto quanto possível, aos postulados dos modernos filologistas, move-nos apenas o desejo de compaginar subsídios e apontamentos desde há muito coligidos. Em outras palavras: o que se vai ler não aspira a mais do que servir de modesta contribuição a ensaios outros mais autorizados.
Convém que se diga e aqui é deveras oportuno lembrar: não é abundante nem satisfatório o material informativo até agora carreado pelos recoletadores e analistas do linguajar sul-riograndense, muitos dos quais, especialmente fora do Estado, têm escrito desacompanhados de lastro documental, quase como simples conjecturadores, razoando, às vezes, sobre hipóteses incomportáveis. Embora não nos agrade assumir atitude de censor, encontramos alguns enganos de tal forma generalizados que nos sentimos no dever de chamar a atenção sobre eles. Expressivo flagrante esclarecera o caso: o da palavra “gaúcho” cujos investigadores poderão adjudicar nunca menos de cem étimos suscitadores de verdadeira bibliorréia e todos conducentes a intermináveis polêmicas. A comodidade das repetições estereotipadas e a lei do menos esforço em assuntos que Antônio Carlos Machado – Vozes da Querência só admitem o estudo detido, convenhamos, e que são causa não só de premissas indevidas como de conclusão incongruentes.
Cometeríamos grave emissão se não reconhecêssemos que existem, na verdade, sérios obstáculos no caminho dos estudiosos. Sem entrar em minúcias que a premência de espaço não comporta, pode-se afirmar, sem temor de réplica, que a pobreza, dispersão e relativa inacessibilidade dos implementos arquivais são exatamente dos maiores empecilhos a remover. Talvez não exageremos dizendo que do Rio Grande pre-açoriano pouco se poderá falar. Inútil é acrescentar que o fato nada tem de incurial, levando em conta as condições especialíssimas em que se processou, nos séculos XVI, XVII e XVIII, a colonização do extremo-sul brasileiro. Não deve ser menosprezado, também, o fato de que o descaso oficial e a fauna papirófaga desde logo conspiraram contra os arquivos atinentes aos primórdios da vida sul-riograndense, motivo pelo qual chegaram eles aos século XIX esparsos, desordenados e sobretudo grandemente desfalcados. Isso sem falar nos apócrifos, nos textos inautênticos, nos códices pouco dignos de fé, nos papéis eivados de erros ditográficos, quando não mesmo de escassa literalidade.
Não vem a propósito, agora, recordar a secular delapidação do documentário referente ao Rio Grande antigo, documentário cuja pobreza de detalhes, sob alguns aspectos, é inegavelmente franciscana. Não deixe de ser útil, todavia, ter em mente que ele sofreu, através dos tempos, sucessivas perdas. Para só citar um exemplo basta dizer que os livros da vila do Rio Grande foram quase totalmente destruídos durante a invasão castelhana de 1763.
A tradição oral, por outro lado – e isso e pacífico – apresenta-se, em regra, cheia de lacunas e de “hiatos”: quase sempre de cambiantes fantasiosas e de matizes mitográficos, infringentes da realidade histórica, geralmente exposta, aliás, a ação fraudatória dos memorialistas apressados. (Segue...)
Índice
- A formação Gaúcha 9
- VOZES DA QUERÊNCIA - NOTA PRÉVIA 11
- LINGUISTICA E ECOLOGIA15
- O “HABITAT” RIO-GRANDENSE 23
- O “PROCESSUS” LEXICAL NO RIO GRANDE DO SUL 51
- CARACTERÍSTICAS DO LINGUAJAR GAÚCHO 72
Conteúdos relacionados
- Lançado na III Semana das Letras da Academia Passo-Fundense de Letras ocorrida de 08 de abril de 2014.
Referências