Vamos salvar o nosso rio?

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Vamos salvar o nosso rio?

Em 25/02/2011, por José Ernani de Almeida


Vamos salvar o nosso rio?[1]

por José Ernani de Almeida


Um dos temas latentes atualmente  entre nós  é a grave questão da poluição sonora que tomou conta  da cidade. Recebi varias manifestações pelo artigo publicado na semana passada sobre o barulho, de leitores que exigem medidas severas para por termo aos  abusos que são flagrantes. Mas, há outro problema grave também relacionado a poluição, e  que merece a atenção da nossa comunidade e das nossas autoridades: a degradação do Rio Passo Fundo. Afinal, é o  rio que dá nome  a cidade. Nossa história  está intimamente ligada  a ele  que resiste  bravamente  as  agressões  que sofre a mais de 50 anos.. Nestas  férias  aproveitei para  dar uma espiada  no trecho  compreendido entre a  rodoviária e o aterro da rede ferroviária. É simplesmente lamentável e assustador.

Há  de tudo no leito do rio. E pensar que nos anos 1950-1960 era possível pescar e nadar nas  suas águas,  hoje transformadas  em verdadeiro depósito de dejetos. Na verdade, a degradação  começou quando os antigos frigoríficos localizados no Bairro São Cristóvão passaram a jogar no rio materiais tóxicos. Posteriormente, com o crescimento desordenado da cidade e a ocupação  irregular de áreas  insalubres e ribeirinhas o quadro ganhou dimensões catastróficas para o Passo Fundo. Os rios  sempre foram fonte de vida. Desde a  Antiguidade, suas águas  são essenciais para que as pessoas possam viver, bebendo, banhando-se, navegando, além de outras utilidades, como por exemplo, a produção de energia. Lembram do Egito, que segundo Heródoto, era uma “dádiva do Nilo”.

Nossa consciência ecológica avançou  muito, influenciada pelos movimentos que surgiram na década de 1960. O direito das árvores, das pedras e dos rios passou a ser defendido com veemência. Os princípios dessa ecologia mais radical buscou revisar o conceito de humanismo moderno: o “contrato social” dos pensadores políticos devia ser substituído por um novo “contrato natural”, no qual o universo todo se torna uma figura de direito. A natureza, longe de ser  apenas o palco de nossas atividades, deve ser o objeto de um respeito estético, moral e jurídico. Entretanto, entre nós, pelo menos no que se refere  ao nosso  rio, isto não acontece. Há um desleixo completo, apesar dos  estudos já realizados, mostrando as causas e  apontando caminhos para a sua  reabilitação.  Não há vontade política apesar de o rio passar  ao lado das casas do Legislativo e do Executivo municipais, cujos integrantes  devem muitas vezes  sentir o odor “agradável” que suas águas exalam nos dias de muito calor.

No trabalho  “Impactos ambientais gerados pela ocupação irregular no município de Passo Fundo” (Estudos tecnológicos –vol. 5, nº.. 2:171-185 (maio/ago.2009)  de  Ailson Oldair Barbisan, (mestre em Engenharia) da Unochapecó, Adalberto Pandolfo (Professor Doutor) da  UPF, Marcele Salles Martins (Mestre em Engenharia) da  UPF, Andréia Saúgo ( mestranda da Universidade Federal de Santa Catarina), José Wolmiro Jiménes Rojas (doutorando  em Engenharia Civil da  UFRGS), e das acadêmicas Renata Reinehr e Jalusa Guimarães da Faculdade de Engenharia da  UPF, os autores esclarecem que: “ao longo dos últimos 50 anos, o crescimento desordenado da cidade e a ocupação irregular de áreas insalubres e ribeirinhas ocasionou uma série de impactos ambientais. Principalmente devido ao desmatamento das matas nativas e ciliares, resultado de expansão urbana do município, agravado posteriormente pelo assoreamento dos leitos dos rios e córregos internos à malha urbana e, pela poluição por esgoto e lixo doméstico. Neste caso, a preservação dos mananciais hídricos torna-se uma importante questão em busca de soluções.

Os mananciais possuem um papel importante nos sítios urbanos por se tratar de um meio básico do processo de vida. Entretanto a sua disponibilidade está cada vez mais escassa devido ao uso indiscriminado, o descuido com o meio ambiente e o desrespeito à legislação, principalmente nas aglomerações urbanas que tem como característica a proximidade com os cursos de água. (...) Há o entendimento de que a manutenção dos atuais modelos de expansão urbana é algo insustentável. Porém a  maioria das ações, realizadas principalmente pelo poder público, tem caráter apenas corretivo e refletem  a maior ou menor pressão exercida pelos setores organizados da sociedade. Considera-se que toda a área degradada pela ocupação urbana sem mecanismos de controle ou ainda fiscalização, acarreta  de alguma forma problemas ambientais de maior ou menor grandeza, atingindo diretamente a  população no entorno e gerando custos nem sempre dimensionados pelo gestor público.”

Este é um trabalho que merece toda a atenção da comunidade e do poder público. Já que estamos numa época de parcerias público-privadas, porque não empresas adotarem trechos do rio e participarem da sua recuperação, associando sua marca a uma iniciativa que trará, sem dúvida, grandes dividendos  para todos. João Cabral de Mello Neto dedicou aos rios este poema: “Os rios que eu encontro/ vão seguindo comigo/rios de água pouca/ em que a água sempre está por um fio/ cortados no verão/ que faz secar todos os rios/ rios todos com nome/ e que abraço como a amigos/ uns com nome de bicho/ uns com nome de santo/ muitos  só com apelido/mas todos como a gente/ que por aqui tenho visto/ a gente cuja vida/ se interrompe quando os rios...” Vamos salvar o nosso rio?

  1. O Nacional - Sexta-Feira, 25/02/2011