Uma vida inspirada na Arte
Uma vida inspirada na Arte
Em 01/01/2009, por Diego Chimango Vargas
Miriam Postal
Uma vida inspirada na Arte.
Corpos volumosos em vestes modestas, rostos arredondados, cabelos finos, sorrisos singelos e olhares semicerrados cheios de ternura. São namorados perdidos num olhar único e disperso, na moldura de uma janela, espremidos em um sofá, deitados na areia da praia ou sobre os lençóis floridos de uma cama estreita; um grupo de homens e mulheres jogando baralho ou sinuca em um ambiente festivo com ares de sedução; passageiros tranqüilos a bordo de um ônibus; grupos de indivíduos sentados, lendo jornal.
As imagens que reconstituem episódios do cotidiano citadino estão representados nas telas de Miriam Postal, artista plástica passo-fundense que tem seu trabalho reconhecido no Brasil e no Exterior. Praticamente não há entre seus conterrâneos alguém que não tenha visto um de seus painéis ou telas espalhados pela Capital do Planalto Médio. Os obesos personagens criados pela artista estão presentes no hall de entrada do Colégio Conceição, nas dependências do IE, nas escolas Fagundes dos Reis e EENAV. Também estão nas sedes da RBS TV, da Rádio Planalto, do Jornal Diário da Manhã, e no Museu de Artes Visuais Ruth Schneider. Quem visita a cidade e se hospeda nos hotéis São Sivestre e Vila Vergueiro, também se depara com os simpáticos “gordinhos” criados pela pintora, que também já ocuparam as capas e páginas de jornais, revistas e livros, além de já terem sido também estampados nos muros e praças da cidade.
O perfil pacato e sedutor expresso através dos tons vermelhos e ocres que compõem as criaturas e cenários, frutos da inspiração de Miriam, conquistam o público nas diversas exposições. Mas, apesar dos ares de romantismo, as ocasiões delicadas pintadas pela artista na verdade são um olhar critico sobre uma sociedade passiva e sofrida em meio ao turbilhão das crises sociais e políticas da contemporaneidade. A justificativa para tal definição está expressa tanto na vestimenta dos personagens – calçando chinelos de dedo, usando trajes riscados, floridos, estampados, roupagens típicas das classes mais humildes – quanto nos ambientes onde estão representados, sempre em luzes suaves (penumbras), com características urbanas (praças, casas, festas, etc.).
A terceira filha do casal Arnaldo Garbelotto (comerciante) e Lourdes Postal Garbelotto (professora), nasceu em 21/05/1962, freqüentou as escolas Fagundes dos Reis e Nicolau de Araujo Vergueiro (EENAV), e, paralelamente a vida estudantil, fez diversos cursos artísticos, tais como música (piano), teatro, desenho, pintura, fotografia, aprendizagens que, segundo ela, angariaram o seu futuro artístico. Mas a pintura sempre teve uma importância singular na sua vida, e nos primórdios da carreira, a jovem artista precisou enfrentar grandes desafios. Para tornar sua aptidão artística conhecida, Miriam percorreu as galerias de várias cidades do Estado, oferecendo seu trabalho para exposições, mantendo-se com o diploma de professora primária. Incentivada pela mãe, fez magistério na UPF, tendo lecionado português e estudos sociais para as turmas primárias do Instituto Educacional Igreja Metodista na década de 1980, assim como nas escolas EENAV, Salomão Ioschpe, Delegacia de Ensino (hoje 7ª CRE) e UPF, onde nesta última adquiriu bacharelado em Desenho e Plástica e Pós-Graduada em Arte/Educação.
Miriam Postal pinta acrílico sobre tela e sobre couraça, fazendo uso também do desenho de estamparia dos tecidos populares, além de aplicar elementos como tickets, dinheiros, panfletos, sacolas, etc, objetos que coleciona em suas viagens pelo mundo afora. Reproduz figuras volumosas e sensuais, pintadas a partir de tons alegres, vivos, com luzes e sombras suaves. Mas suas telas nem sempre foram assim. No principio, os azuis frios faziam parte de quase todas as obras, os personagens eram mais delgados e menos afáveis. Com o passar do tempo, a artista foi aperfeiçoando suas técnicas e, obviamente, adquirindo maior prestigio por parte do público e das galerias de arte. Com as obras debaixo do braço e motivação inabalável, Miriam percorreu os salões de arte em Porto Alegre, Curitiba, São Paulo, Rio de Janeiro, e assim, entre os percalços de toda espécie, seus quadros foram conquistando a simpatia da critica e do público.
A artista vem produzindo e realizando exposições nos Estados do Rio Grande do Sul e Santa Catarina desde 1982, e entre os vários eventos dos quais suas obras foram atrativo, destacam-se: 44º Salão Paranaense, V Salão da Ferrovia (Rio de Janeiro), Salão COPESUL (Porto Alegre) e várias edições da Casa Cor Brasil. Conquistou o 1º lugar no Projeto Missões 300 anos, e sua obra tornou-se capa do Guia Telefônico de Porto Alegre de 1988. Em 1999 suas obras também ilustraram as capas das listas telefônicas das regiões: Norte, Nordeste, Noroeste e Centro do Rio Grande do Sul. Seu reconhecimento internacional veio a partir das participações na ARTEXPO em Nova Iorque (1995), no Panorama da Arte Brasileira na Bélgica (1996) e em Berlim (1998), e em 2001 expôs em Gotemburgo (Suécia). Além disso, Miriam Postal também freqüentou cursos de especialização dentro e fora do Brasil. Ainda cabe destacar os painéis individuais pintados nas embaixadas do Brasil em Lisboa (Portugal) e Assunção (Paraguai) em 1998. Assim se seguem.
O trabalho desempenhado por esta artista é fruto de grande determinação, o que mais uma vez confirma a explicação de que o sucesso é alcançado por aqueles que amam sua profissão. Para Miriam, “a arte pode mudar para melhor na qualidade de vida das pessoas. Ela faz parte do nosso dia a dia sem que nos demos conta.A arte pode estar numa boa programação de TV, num vídeo game criativo, nas vitrines de moda, no cinema, em design de móveis e objetos que usamos, ela não está só nas paredes dos museus de arte. Não precisamos ter um pré conceito de que arte é erudita e elitista. As fronteiras da informação estão abertas, basta não reprimir nossa sensibilidade para captar as mais diferentes maneiras de ver a arte”.
Miriam Postal – casada com Celso Menegáz, e mãe de Anna Virginia –, é dona de uma personalidade marcante, mostrando-se sempre solidária e pronta a redescobrir sua arte. Sensibilidade e respeito são elementos primordiais na pratica de suas atividades, e, por estas e muitas outras razões, é uma artista que orgulha a terra que é seu berço.