Um voto por Darci Canabarro

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Um voto por Darci Canabarro

Em 2005, por Paulo Domingos da Silva Monteiro


Um voto por Darci Canabarro

Opinião

Paulo Monteiro[1]


Darci Canabarro foi um dos meus melhores e leais amigos. Quando presidi a UAMPAF – União das Associações de Moradores de Passo Fundo -, sempre esteve a meu lado.

Homem de opiniões firmes, foi a primeira pessoa que me procurou depois que retornei do Uruguai, onde fui conhecer o sistema de construções de núcleos habitacionais por cooperativas. Ouviu-me com atenção e disse: - “Aquela Fazenda da Brigada foi comprada com o dinheiro dos brigadianos. E muitos não têm nem onde morar. Vou lutar e vamos fazer um núcleo desses do Uruguai lá!”

Dito e feito. Moveu mundos e fundos. Enfrentou poderosos. E lá está um núcleo habitacional.

Cabo reformado da Brigada Militar, não tirava o revólver da cintura. Indignava-se com assaltos, especialmente a ônibus. Sempre que tomava conhecimento de um desses crimes costumava repetir: - “Se um vagabundo desses assaltar um ônibus comigo dentro posso até ir, mas levo um deles comigo!”

Muitos diziam que era conversa. Coisa de falastrão. Eu sabia que não era assim. Darci era uma espécie de irmão mais velho, que eu não tive.

Certa manhã, ao ouvir o noticiário de uma de nossas rádios, fui surpreendido com a informação de que o ônibus em que meu amigo se dirigia para sua residência, no Parque Leão XIII, fora assaltado, que ele matara um assaltante, ferira outro e morrera agarrado ao companheiro inseparável. Outra vez manteve a palavra empenhada.

Mais do que honrar sua palavra, Darci Canabarro cumpriu com uma opção de vida: o direito de morrer com a sua dignidade. Para ele dignidade também era isso: o direito de defender, com o sacrifício da própria vida, os princípios que abraçava.

Por isso, no dia 23 de outubro (2005), quando eu estiver votando no “referendum sobre o desarmamento”, a imagem de Darci Canabarro estará comigo. Honrarei sua memória. Vou dar o voto que dois assaltantes de ônibus não permitiram que ele desse. Votarei pela dignidade e pela coragem de meu amigo Darci Canabaro.

Referências

  1. Da Academia Passo-Fundense de Letras