Um recurso do Cabo Neves
Um recurso do Cabo Neves
Em 1927, por Francisco Antonino Xavier e Oliveira
Um recurso do Cabo Neves[1]
Noventa e cinco annos faz que, no logar onde se ergue esta cidade, veiu domiciliar-se Manoel José das Neves — O Cabo Neves, assim conhecido porque, com essa graduação, tomara parte na campanha de 1827, pelejada entre nós e os nossos visinhos platinos, hoje bons amigos e que hao de sei o sempre, visto que, na phraze inolvidavel do seu grande Julio Roca — «tudo nos une, e nada nos separa».
Adquirindo por posse, autorisada pelo commando da fronteira de S. Borja, o campo circumjacente ao seu estabelecimento e que, ao que parece, abrangia os actuaes do Vallinho e parte do Pinheiro Torto, e para o nascente se extendia ao vallo dos Antunes e arroio do Moinho, — tempo depois, querendo alargai o para o lado do Pinheiro Torto, foi á Estancia Nova, onde parava um encarregado de informar as petições relativas a concessões de campos, solicitar-lhe o accrescimo assim projectado na sua posse.
Ouvindo-o, esse encarregado ponderou-lhe :
- Cabo Neves, para que quer você mais campo, si já tem o que occupa, e apenas possue uma tropilha de cavallos?
Como resposta, Neves, num gesto dramatico, tirando o chapéo e apontando para uma cicatriz que tinha na cabeça, retorquiu-lhe:
- Foi ganho no Passo do Rosário, em defesa de Sua Magestade o Imperador.
Ante a eloquencia do argumento, o encarregado, vencido na sua recusa, fechou a questão dizendo-lhe:
- Cabo Neves, você é o diabo...
Assim foi que o primitivo possuidor do campo em que hoje se ergue esta cidade, mais tarde Capitão, alargou para o poente a sua posse.[2]
Passo Fundo 27—10 — 23 - Terra dos Pinheirais
Referências
- ↑ OLIVEIRA, Francisco A X. (1927). Terra dos Pinheirais -Passo Fundo: Livraria Nacional. 62 páginas Transcrito 3,6 Mb
- ↑ Narrativa do velho Chico Preto, contemporaneo dos primeiros dias do povoamento do nosso territorio pelo elemento brasileiro, e que morava no Passo d’Areia, onde falleceu já ha muitos annos.