Um passo-fundense da Segunda Guerra Mundial
Um passo-fundense da Segunda Guerra Mundial
Em 2009, por Diego Chimango Vargas
Um passo-fundense da Segunda Guerra Mundial
Ao passar pela Rua Teixeira Soares, em frente as antigas instalações do Quartel do Exercito, onde há um estádio chamado Fredolino Chimango, muitos passo-fundenses devem indagar a si próprios sobre quem foi este homem. Infelizmente, a grande maioria dos munícipes desconhece a importância desta ilustre figura. Foi ele um dos bravos soldados brasileiros que lutou nos campos da Itália para conter o avanço das tropas nazistas no mundo. Existem poucos registros sobre sua vida, e muitos mistérios circundam sua morte.
Gaúcho, nascido em Passo Fundo a 19/04/1921, Fredolino Chimango era o 2º filho de uma família de 11 irmãos, filho de Edmundo Chimango e Gabriela Francisca da Silva Chimango. A humilde família de agricultores residia no interior do município, e Fredolino estudou em uma escola existente na localidade denominada Rio do Peixe. Mais tarde, o jovem mudou-se com a família para o distrito de Água Santa, onde trabalhou nos Engenhos Scheleder e Busquirollo. Segundo o relato do Sr. Miguel Chimango, 76 anos, irmão de Fredolino residente em Passo Fundo, o jovem apresentou-se como voluntário no serviço militar no 8º Regimento de Infantaria em Passo Fundo, antes mesmo de completar 18 anos. Assim que alcançou esta idade, foi convocado para servir em Quarai (RS), em seguida para São João Del Rei (MG) e, finalmente, para o Rio de Janeiro (RJ), onde ficou por mais de um ano. Após o cumprimento do serviço militar obrigatório, o jovem Fredolino retornou para o seio de sua família, trabalhando como serralheiro em sua terra natal.
Enquanto isso, os horizontes foram enegrecendo com o inicio da Segunda Guerra. Sob o comando de Adolf Hitler (Alemanha) e Benito Mussolini (Itália), o avanço do Eixo iniciou massacre de 65 milhões de judeus, fazendo também inúmeras vitimas em todo o mundo. De 1939 a 1941, o Brasil permanecia apenas como fornecedor de subsídios para ambas as potencias envolvidas no conflito. Naquela época, o Brasil vivia a Ditadura do Estado Novo, instituída por Vargas, que possuía vários pontos semelhantes à ditadura fascista; em contrapartida, o país dependia economicamente dos EUA, ferrenhos inimigos do Eixo. Esse quadro se manteve até a manhã de 06/12/1941, quando os japoneses atacaram a Base Norte-Americana de Pearl Harbor, provocando o ingresso dos EUA na guerra. Um mês depois, em um congresso das Repúblicas Americanas no Rio de Janeiro, o ministro Oswaldo Aranha anunciou o rompimento das relações diplomáticas do Brasil com os países do Eixo (Alemanha, Itália e Japão).
A atitude revoltou o ditador alemão Adolf Hitler, que desencadeou uma ofensiva submarina na costa brasileira, naufragando 5 navios e 31 barcos da marinha mercante brasileira. No dia 22/08/1942, irrompeu no rádio o prefixo do Reporte Esso, transmitindo à nação brasileira a declaração do Estado de Guerra contra Alemanha e Itália. Assim, o Brasil ingressou na Segunda Guerra Mundial, unindo-se aos EUA, França e Inglaterra. Houve uma mobilização intensa em todo o país, e foi criada a Força Expedicionária Brasileira (FEB), força militar que integrou 25.300 homens aguerridos que lutaram nos campos de batalha do Velho Mundo. O exercito brasileiro passou a convocar os soldados da ativa e também os recrutas já dispensados que ainda fossem solteiros.
Desta forma, o Cabo Fredolino Chimango foi chamado para incorporar-se à 1ª Divisão de Infantaria do Exercito, mas sua convocação não chegou a tempo pelo mesmo residir no interior de Passo Fundo. Porém, sabedor de seu dever patriótico, Chimango deixou o seio de sua família e apresentou-se ao Exercito, seguindo para o Rio de Janeiro e, finalmente, embarcando num navio em 20/09/1944 junto à segunda leva de homens que envergaram a farda verde-oliva nos campos de batalha italianos. O Sr. Miguel Chimango, relembrou a presteza e o notável carinho que o rapaz tinha por seus familiares: “Tratava-se de um rapaz muito inteligente, dono de uma personalidade incrível”. Num relato emocionante, Miguel rememorou o momento da sentida despedida dos familiares. “Foram muitos os pedidos de minha mãe para que o filho querido não fosse para a guerra, parece que ela pressentira o que aconteceria mais tarde. Na despedida, ao abraçar nossa mãe, Fredolino proferiu estas palavras: ‘Mãe. Prometo enviar-lhe cartas todas as semanas. Tu estarás sempre no meu coração, assim como meu pai e meus irmãos. Mas se um dia... se um dia sentires que as cartas não chegarão mais, é porque teu filho tombou defendendo nossa pátria. Porém, estejas certa de que tu estarás presente nos meus pensamentos até o último instante’”. Infelizmente, o presságio de dona Gabriela consumou-se tempos depois. O Cabo Fredolino Chimango, Id. 1G-293658 - Classe 1919, integrante do 11o. Regimento de Infantaria, lutou bravamente nas batalhas de Monte Castelo, Castelnuovo e Montese.
“As cartas sempre contavam as passagens vividas por meu irmão na Itália de Mussoline, e minha mãe ansiava por noticias todas as semanas. Porém houve um dia em que as cartas não mais chegaram, o que não desesperançou Dona Gabriela”, contou Miguel. No dia 16/04/1945, o pracinha foi dado como desaparecido. A noticia consternou seus familiares, que, para poupar o coração da mãe do emérito herói, optaram por não dar a informar-lhe sobre o desaparecimento do filho querido. Lamentavelmente, Dona Gabriela veio a falecer pouco tempo depois, sem saber que seu filho havia tombado em combate. Anos depois, foram encontrados os restos mortais do pracinha. Contam-se várias histórias acerca do desfecho da vida do pracinha. Uma das versões dá conta de que Fredolino fora vitima de uma rajada de balas na batalha de Montese no dia 14/04/1945. Conta-se também que, um cidadão italiano encontrou o corpo do soldado e cuidou de seu funeral. Outro relato afirma que, quando encontrado, Fredolino Chimango estava vivo, mas devido à gravidade de seus ferimentos veio a falecer. Segundo Noêmea Chimango Mileski, 78 anos, irmã do pracinha, este fazia parte de uma equipe que desarmava minas terrestres, e numa destas tarefas a explosão de um artefato tirou a vida do irmão.
A morte de Fredolino Chimango é cheia de mistérios e lendas, as quais geram diversas perguntas até hoje sem respostas. Em 1955, foram transladados os restos mortais dos heróis brasileiros, da Itália para o Brasil, onde repousam no Monumento aos Expedicionários, no Rio de Janeiro. Porém, há uma gaveta vazia neste mausoléu, pois na época uma família reclamou os restos do pracinha Fredolino Chimango, impedido seu sepultamento em seu país de origem. O pedido desta família foi atendido sem grandes interferências da família. Hoje, o passo-fundense é o único pracinha brasileiro que permanece repousando no cemitério em Pistóia, representando sua pátria no espaço reservado em memória aos combatentes. Neste local, todos os dias, é hasteada a bandeira verde-amarela, em sinal de reverencia ao aguerrido expedicionário.
O pracinha passo-fundense foi agraciado com as medalhas de Campanha e Cruz de Combate de 2ª Classe, em virtude da honrosa atuação na Segunda Grande Guerra. Em sua homenagem, existem em Passo Fundo uma escola no Bairro Jaboticabal e um estádio na Rua Teixeira Soares. Neste estádio, há um monumento simbolizando um projétil de fuzil, o qual também leva seu nome. Na figura deste jovem, são homenageados todos aqueles que exerceram seu espírito patriótico em favor da liberdade, em especial aos 457 febianos que tombaram em solo italiano. Fredolino Chimango, é mais um dos filhos da Capital do Planalto Médio que orgulham e fazem desta terra de passagem um verdadeiro marco histórico do Brasil.