Transporte ferroviário em Passo Fundo
Transporte ferroviário em Passo Fundo
Em 07/08/2007, por Adelar Heinsfeld
Adelar Heinsfeld
Quando em 8 de fevereiro de 1898, a população passo-fundense ouviu o apito da maria-fumaça sabia que novos tempos estavam iniciando. A partir daquela data, o trem ligava Passo Fundo ao restante do Estado. Mas essa história começou em 1872, quando o engenheiro J. Ewbank da Câmara elaborou um projeto, embrião da malha ferroviária que cortaria o território rio-grandense. Em seu bojo havia preocupações estratégicas, políticas e econômicas e deveria ser um prolongamento da rede ferroviária nacional, proporcionando segurança às áreas de fronteiras. Nesse plano estavam previstas três grandes linhas, uma delas a Santa Maria-Passo Fundo. Já na República, a Constituição positivista rio-grandense, de 1891, previa um planejamento estratégico dirigido pelo Estado, possibilitando o domínio e construção do espaço gaúcho. Assim, desenvolve-se a concepção de um modelo viário e de colonização baseada na pequena propriedade, com sua produção tendo transporte assegurado, garantindo o progresso. Em novembro de 1889, o governo imperial decidiu construir a Estrada de Ferro São Paulo-Rio Grande, sob a responsabilidade do engenheiro João Teixeira Soares. Esta ferrovia colocava o Estado em contato com o restante do país. Quando foi decidida a sua construção, tinha vários objetivos: integrar o Sul ao Centro do país, servir como elemento de defesa tendo em vista a Argentina e promover a colonização de várias partes do território da região Sul.
O trecho Santa Maria-Marcelino Ramos foi construído, após diversas negociações, pelas empresas de capital belga, Compagnie de Chemins de fer Sud-Ouest Brésilien e Compagnie Auxiliaire des Chemins de fer au Brésil; foi iniciado em 1891 e em 1893 foi interrompido devido à Revolução Federalista. Em 1898, quando chegou a Passo Fundo, suspenderam-se, por tempo indeterminado, os trabalhos de construção do trecho Passo Fundo-Marcelino Ramos.
A chegada da ferrovia a Passo Fundo deu um novo impulso à região, que estava isolada do restante do Estado. No entanto, nos primeiros tempos, a ferrovia foi deficitária. Inúmeros acidentes e reparos constantes no seu leito aumentavam os prejuízos. O movimento na estação de Passo Fundo era tão pequeno, que no trem misto que partia, uma vez por semana, para Cruz Alta, havia um único vagão para passageiros, dividido ao meio para abrigar a 1ª e a 2ª classes. Este trem só passa a ser diário a partir de 1909. Com a chegada dos trilhos no Rio Uruguai, em outubro de 1910, completava-se a rede ferroviária do Rio Grande do Sul, ao menos nos seus grandes troncos e ligava o Estado ao restante do país. As preocupações do governo federal com a segurança da região Sul diminuíam, pois a São Paulo-Rio Grande era uma ferrovia estratégica que funcionava como um elemento de defesa.
Alguns episódios marcaram a história da ferrovia, que passa por Passo Fundo: em 1917 os operários da Viação Férrea do Rio Grande do Sul entram em greve, reivindicando aumento salarial, jornada de 8 horas e semana inglesa. Essa greve estendeu-se até Passo Fundo, onde inclusive chegaram a tomar a estação à mão armada. Em 1930, foi através dela que Getúlio Vargas foi ao Centro do país, para assumir o poder após a revolução vitoriosa. Problemas foram enfrentados pela ferrovia, como os altos preços das tarifas e a falta de trens. Por outro lado, o controle acionário da rede ferroviária gaúcha passou por várias mãos: em 1905 foi arrendada à Compagnie Auxiliaire des Chemins de fer au Brésil, dando origem à VFRGS (Viação Férrea do Rio Grande do Sul); em 1920, foi encampada pelo Estado; em 1954, a VFRGS foi transformada em uma autarquia; em 1961, a rede ferroviária gaúcha foi incorporada à Rede Ferroviária Federal Sociedade Anônima.
Durante o período que esteve sob controle belga, a sigla VFRGS, gravada nos vagões, foi interpretada de uma forma irônica pela população, como “Viemos da França Roubar Grande Soma”. O fato dos belgas falarem o francês, na visão popular, era como se tivessem vindo da França.
Ao chegar em Passo Fundo, a ferrovia vai alterar o panorama regional. A colonização do norte do território gaúcho teve um enorme incremento. Ao redor de cada uma das estações, vilas e cidades surgiram... Colonos chegavam e começavam a organizar a sua vida. Havia a perspectiva de que a sua produção seria escoada pelo trem. A indústria madeireira também teve seu desenvolvimento ligado à ferrovia.... Assim, em ordem muitas regiões estavam sendo atingidas pelo progresso.