TEIXEIRINHA O Gaúcho Coração do Rio Grande
TEIXEIRINHA O Gaúcho Coração do Rio Grande
Em 2009, por Diego Chimango Vargas
TEIXEIRINHA
O Gaúcho Coração do Rio Grande
Visando o enaltecimento da memória de um cidadão virtuoso e batalhador que elevou o nome da Capital do Planalto Médio por todo Brasil e pelo mundo afora, o JS reporta a brilhante trajetória do “Gaúcho Coração do Rio Grande”, que neste mês completaria 81 anos, mas permanece sempre vivo em sua arte. Nesta edição, a homenagem ao cantor e compositor Teixeirinha
Victor Mateus Teixeira nasceu na Mascarada, interior de Rolante (RS), em 03/03/1927. O único filho do casal Saturnino Francisco Teixeira e Ledorina Matheus Teixeira, conheceu muito cedo o sofrimento: aos 6 anos perdeu o pai, vitima de um infarto; e sua mãe morreu queimada, quando o menino tinha apenas 9 anos. A partir daí, órfão e sem perspectivas, Teixeirinha foi viver com alguns parentes, mas logo passou a perambular pelo mundo.
Passou fome, frio, dormiu nas ruas e viadutos e, para sobreviver, trabalhou como engraxate, entregou viandas, foi verdureiro, vendendo de doces, carregador de malas e etc. Quando trabalhara em pensões, aprendeu com estudantes a ler e a tocar violão (de ouvido). Aos poucos, o menino órfão foi crescendo e conhecendo o mundo. Aos 16 anos se auto-registrou cidadão brasileiro, aos 18 alistou-se no Exercito Brasileiro, sem chegar a servir. Então, começou a trabalhar no Departamento de Estradas de Rodagem (DAER) como operador de máquinas durante 6 anos, onde conheceu o acordeonista Pereirinha, com quem formou a primeira dupla.
Segundo o tradicionalista Hilton Luiz Araldi, “após esse período Teixeirinha passou a cantar nas emissoras de rádio em cidades como Lajeado, Estrela, Rio Pardo, Santa Cruz do Sul, município onde conheceu sua esposa Zoraide Lima Teixeira, com quem casou-se em 1957. Nestas andanças conheceu o trovador Gildo de Freitas, um de seus grandes incentivadores. Depois de residir em Soledade, Victor Mateus Teixeira chegou em Passo Fundo e comprou um "Tiro ao Alvo" na Av. Brasil esquina com a Sete de Setembro. Durante o dia o cantor vendia décimas na Gare da Viação Férrea, e a noite se apresentava na extinta Rádio Passo Fundo”. Neste período, duas pessoas tiveram grande importância na vida de Teixeirinha: os tradicionalistas Irai Paim Varella e seu primo Ivo Paim.
“Se a terra natal de Vitor Mateus Teixeira é Rolante, Passo Fundo é a ‘terra natal do artista Teixeirinha’, afirmou em entrevista Elisabeth Teixeira, filha do cantor, Em 1959, incentivado pela comunidade local, que chegou a fazer uma “vaquinha” para levantar dinheiro para custear a viagem, Teixeirinha saiu de Passo Fundo na 2ª classe de um trem com destino a capital paulista, e lá gravou um 78RPM contendo as músicas ”Xote Soledade” e “Briga no Batizado”, tendo gravado mais 2 LP’s posteriormente. O sucesso só eclodiu em 1961, com a música “Coração de Luto”. A canção de autoria de Teixeirinha foi inserida no repertorio sem o menor intuito de sucesso, mas foi ela quem ascendeu a carreira do artista, como contou em entrevista o tradicionalista Orlei Vargas Carames:
“O sucesso foi uma surpresa para o próprio Teixeirinha. Segundo ele, ‘Coração de Luto’ começou a repercutir 6 meses após o lançamento, e a cidade de Sorocaba (SP) foi uma das primeiras a registrar a música como a mais pedidas nas rádios. Em seu programa de rádio, o humorista Chacrinha começou a receber inúmeros pedidos para tocar esta música que foi apelidou de “Churrasquinho de Mãe”. O termo que mais tarde soaria como ultrajante, na verdade auxiliou na propagação do sucesso em São Paulo. Devido à grande repercussão de ‘Coração de Luto’, Teixeirinha foi convidado pela Chantecler para gravar o LP ‘Gaúcho Coração do Rio Grande’. Desta forma Passo Fundo assistiu o nascimento de um dos maiores mitos da música popular brasileira”.
Não seria exagero algum afirmar que a música gaúcha pode ser dividida em dois períodos: antes e depois de Teixeirinha. Graças ao sucesso de suas canções, a cultura rio-grandense passou a ser conhecida e respeitada em todo o Brasil e no exterior. Seu primeiro grande sucesso, “Coração de Luto”, vendeu cerca de 25 milhões de cópias. tanto que o álbum chegou a ser vendido no cambio negro pelo dobro do valor. Teixeirinha superou artistas consagrados como Michael Jackson, The Beatles, Roberto Carlos e outros, no que diz respeito à venda de discos. Durante 27 anos de carreira, compôs e gravou mais de 700 músicas e compôs 1200, além de lançar 49 discos, os quais somados às coletâneas ultrapassam a faixa dos 70 álbuns.
A música de Teixeirinha possui uma identificação muito forte com o regionalismo gaúcho, pois tem em sua composição melodias simples, letras de fácil compreensão e de grande apelo popular. Mesmo 22 anos após sua morte, canções como “Querência Amada”, “Tropeiro Velho”, “Pobre João”, “Tordilho Negro” e tantas outras continuam sendo ouvidas e regravadas, além de conquistar uma legião incontável de fãs durante a carreira. Para Betha Teixeira, “A perpetuidade de sua obra se deve a identificação com a vivência de qualquer pessoa, todos nós choramos por amor a nossa terra, aos nossos pais, todos nós temos nossa fé, as músicas dele são histórias que qualquer pessoa viveu ou pode um dia viver, e nada melhor do que o canto para externar nossas dores ou alegrias. E, neste canto o colono, o operário, o pobre, o rico, o mestre, o aprendiz, a criança, o velho etc. nos torna todos iguais”.
Teixeirinha foi e continua sendo um referencial muito forte na música brasileira, pois tratava-se de um artista versátil. Em seu repertorio estão, além dos xotes, vaneiras e rancheira, ele também compunha e cantara samba-canções, marchinhas, boleros e tangos, o que aumentava a aceitação do artista em relação ao seu público. Em virtude do grande, o “Gaúcho de Passo Fundo” (como ficou conhecido) recebeu prêmios como o “Troféu Chico Viola" da TV Record de São Paulo (1963) e o “Elefante de Ouro” em Portugal, além de diversos Discos de Ouro. Teixeirinha foi agraciado como “Cidadão Honorário” em varias cidades, inclusive em Passo Fundo. A trajetória de Victor Mateus Teixeira é um dos mais expressivos registros da música brasileira.
Teixeirinha também foi considerado o pai do cinema gaúcho, tendo produzido 12 filmes de 1967 a 1980, nos quais sempre interpretava personagens simples e bem identificados com o seu povo. O primeiro foi “Coração de Luto”, produzido pela Leopoldis-Som e dirigido por Eduardo Lorente, um sucesso de bilheteria em cinemas de todo o Brasil, seguido por “Motorista sem Limites”, de Itacir Rossi (1969). Posteriormente, os demais filmes do cantor passaram a ter produção independente, como “Tropeiro Velho”, “Ela Tornou-se Freira” e “Pobre João”. No rádio, Teixeirinha comandou programas diários durante 20 anos, onde divulgava seus lançamentos musicais, shows e respondia no ar as correspondências do seu fiel público.
Durante a trajetória do cantor, foi inegável a importância da acordeonista Mary Terezinha, A parceria iniciou em 1961, quando Mary passou a acompanhar Teixeirinha com apenas 14 anos de idade, e no período de 22 anos os dois formaram uma dupla que ficou registrada na história da música regional. Ao lado do “Rei do Disco”, a “Menina da Gaita” rodou o Brasil inteiro, acompanhando o artista em turnês pelos EUA, Canadá, Portugal e países da America Latina. As trovas eram marcas registradas do casal nos palcos e nas rádios, nas quais eram apresentados desafios engraçadíssimos entre os dois através do repete.
Teixeirinha jamais esquecia o seu público, e sua relação com os fãs era explicada por ele em pouquíssimas palavras: “Eu conheço meu público e sei como chegar até ele, pois temos a mesma origem”. Aos 58 anos de idade, Teixeirinha faleceu vitima de um câncer. No cortejo que acompanhou seu corpo até o Cemitério da Santa Casa de Misericórdia, em Porto Alegre, haviam cerca de 50 mil pessoas. Pai afetuoso, profissional dedicado, homem de virtudes, Teixeirinha deixou um legado importantíssimo para a cultura rio-grandense, e continua imortalizado em suas canções, e sem dúvida é tido como um dos maiores ídolos populares da música brasileira.