Sistema Plantio Direto na Palha: uma revolução na agricultura brasileira

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Sistema Plantio Direto na Palha: uma revolução na agricultura brasileira

Em 07/08/2007, por Gilberto Rocca da Cunha


Gilberto R. Cunha (*)


São mais de 23 milhões de hectares cultivados, anualmente, sob sistema plantio direto no Brasil. Sem dúvida, a adaptação/desenvolvimento deste sistema agrícola para uso nas condições brasileiras (clima, solo, diversidade biológica e aspectos sociais e econômicos) representou um marco na história da nossa agricultura. Quer seja gerando/difundindo tecnologias de cultivos, criando/adaptando equipamentos de semeadura e capacitando técnicos e agricultores para a adoção da nova prática, por meio de suas instituições de pesquisa, de ensino, da indústria de máquinas agrícolas, do setor de insumos, das empresas de comunicação e de organização de eventos (Revista Plantio Direto, por exemplo) etc., o nome de Passo Fundo permanecerá para sempre entre os principais protagonistas dessa autêntica revolução na busca de uma agricultura de base conservacionista no país.

O sistema plantio direto na palha deixou perdidas no tempo imagens de lavouras arrasadas pela erosão hídrica, riachos assoreados, rios avermelhados pelas partículas de solo levadas pelas águas de chuva e envenenados por agroquímicos, que transfiguravam a paisagem das coxilhas e campos cultivados do Sul do Brasil, nos idos dos anos de 1970 e começo da década de 1980.

A primeira experiência oficialmente registrada sobre plantio direto na região aconteceu em Não-Me-Toque, em 1969. Os professores da Faculdade de Agronomia da UFRGS, Newton Martins e Luiz Fernando Coelho, cultivaram um hectare de sorgo, usando uma semeadora importada dos Estados Unidos. Um incêndio destruiria a máquina e não foram levados adiante estes trabalhos da UFRGS. Depois, os estudos foram retomados com soja em Cruz Alta, na sede da atual Fundacep, em 1971, e, no ano seguinte, na Estação Experimental de Passo Fundo (hoje Embrapa Trigo). Também cumpre ressaltar o esforço desenvolvido pela ICI do Brasil S.A., pioneira na introdução de herbicidas dessecantes no país, que, a partir de 1973, realizou trabalhos envolvendo a sucessão trigo-soja em plantio direto, estabelecendo um escritório em Passo Fundo. A pesquisa em plantio direto na região passaria a ser executada, sistematicamente, a partir de 1975.

O controle da erosão hídrica se fazia imperativo. Todavia, dificuldades operacionais com semeadoras que não se prestavam para as nossas condições de solo e controle ineficiente de plantas daninhas (herbicidas inadequados) limitavam a expansão do sistema.

A situação começou a se alterar a partir dos anos de 1980, quando se fomentou a troca de experiências entre técnicos e produtores rurais, mudando-se o enfoque de método alternativo de preparo de solo para o de sistema de cultivo baseado na diversificação de espécies, na rotação de culturas, na mobilização do solo exclusivamente na linha de semeadura e na manutenção de cobertura permanente do solo. O cultivo de aveia preta (como cultura de cobertura no inverno) e o uso do milho em rotação com a soja no verão passaram a ser preconizados e amplamente difundidos. No entanto, até o começo dos anos de 1990, ainda havia limitações de máquinas para semeadura, com o predomínio de semeadoras de grande porte, impedindo a adoção desse sistema nas pequenas propriedades rurais.

Um novo salto aconteceria em 1993, quando, a partir de Passo Fundo, foi implementado o projeto METAS, sob coordenação do pesquisador da Embrapa Trigo, José Eloir Denardin, visando à viabilização e difusão do sistema plantio direto no Rio Grande do Sul. Tratou-se de uma proposta de pesquisa e desenvolvimento, alicerçada em parcerias entre organizações públicas e privadas de diversos segmentos (pesquisa, ensino, assistência técnica, extensão rural, cooperativismo, administração pública municipal, comércio e indústria de insumos e de equipamentos agrícolas), envolvendo um forte programa de capacitação teórico-prática, que durou até 1998, e consolidou as bases do sistema plantio direto na nossa agricultura.

Foram estudados e validados em campos de produtores esquemas de rotação de cultivos, adaptados e desenvolvidos novos equipamentos para semeadura direta, que tornaram as máquinas acessíveis também para os pequenos e médios produtores rurais. Inegavelmente, o sistema plantio direto ajudou a consolidar Passo Fundo como um centro de referência mundial em mecanização agrícola. Empresas como Semeato (que surge em 1982, quando a Mecânica Agrícola Rossato Ltda. muda a razão social para SEMEATO S/A.) e Kuhn-Metasa (que surgiu em 2005, a partir da aquisição, pelo grupo francês Kuhn, da Divisão Agrícola da Metasa, que havia sido criada em 1997) e seus portifólios de produtos orientados para o sistema plantio direto são testemunhas incontestes deste fato.