SIMPLESMENTE GUIGOTA

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SIMPLESMENTE GUIGOTA

Em 20/04/2002, por Marco Antônio Damian


SIMPLESMENTE GUIGOTA[1]


Quem chegasse ao Bar Oásis, há alguns anos atrás, e perguntasse: “Alguém conhece o Aguir Matheo ?” Certamente ninguém saberia. Mas se indagasse: “Quem é o Guigota?”, não haveria dúvida: “É aquele ali”, responderiam todos, apontando para aquele sujeito simples, cercado de amigos, invariavelmente falando de futebol. Agora convenhamos. Aguir Matheo é um nome incomum, estranho, difícil até de pronunciar. Guigota não. Guigota tem até sonoridade e é muito simples, como simples foi seu dono. Bom Guigota. Era um fanático por futebol. Foi treinador, massagista, supervisor, árbitro, dirigente, enfim boa parte de sua vida foi dedicada ao esporte. Muitas estórias eram atribuídas a ele. Algumas verídicas, outras não, mas que acabaram fazendo parte do folclore dos cidadãos de Passo Fundo.


Guigota, o torcedor

Dada a proximidade de sua casa com o velho campo do Gaúcho na Vila Vergueiro, Guigota, quando criança, não saía de lá. Assistia a treinos e jogos, além de disputar peladas com seus amigos. Tornou-se torcedor alviverde. Seus outros times eram o Grêmio, Flamengo e Palmeiras. Por eles discutia seus pontos de vista até morrer. O Gaúcho era sua maior paixão e o domingo era sagrado o dia de ir ao estádio. Quando o Gaúcho jogava fora de casa, ia assistir aos jogos do 14 de Julho, secando veladamente, pois tinha muitos amigos com o coração rubro.


O envolvimento com o esporte

Guigota foi secretário da Liga Passo-Fundense de Futebol de Salão. Técnico do time juvenil do Capinguí. Técnico dos times adultos do Guaraé, Los Terribles, Atlanta, União e Pindorama. Foi massagista do Capinguí (campeão estadual em 1960) e Guaraé. Foi árbitro de futebol de salão. No futebol de campo foi técnico do juvenil do 14 de Julho, do Gaúcho e do time principal do Riograndense. Árbitro da várzea, supervisor do Gaúcho e auxiliar de massagista de Daltro Vitório Pinto, no Gaúcho. Além de ter sido cronometrista e organizador de várias competições de futebol de salão, campo e basquete.


Uma estória do Guigota

São muitas. Guigota foi o protótipo do folclore. Uma das melhores e publicáveis foi a seguinte: Guigota foi convidado a treinar o time do Daer, numa partida no campo do Colégio Conceição. Era domingo de manhã e apenas 11 abnegados “atletas” se colocaram à disposição de Guigota para a preleção. Guigota, muito teórico, explicou como o time tinha que jogar e olhando para Bochincho, lhe disse: “Bochincho, tu fica no banco”. Incrédulo, achando que era gozação, Bochincho respondeu: “Mas Guigota, nós só estamos em onze”. Rispidamente Guigota respondeu: “E se alguém se machucar, quem vai entrar?”. Esse era o Guigota.


A paciência de Guigota

Essa era célebre. Quase nada abalava o pacato Guigota. Sempre calmo, disposto a apaziguar qualquer discussão, tolerante com as brincadeiras, humilde, não media esforços para fazer favores a amigos. Para avaliar sua paciência basta dizer que Guigota era assistente de jogo de carta. Pasmem. Guigota sentava numa mesa de jogo para assistir as partidas de pife. Às vezes passava a noite. No fim de cada rodada, fazia algum comentário. Certa feita no Bar Snooker, que ficava na Rua Moron, onde hoje é à entrada da Galeria Mazzoleni, ele estava assistindo jogos de sinuca. De repente bateu a polícia à procura de vadios. Naquela época a polícia detinha os desocupados e dava um prazo para eles arrumarem trabalho, senão era cadeia. Um dos policiais olhando para Guigota perguntou o que ele fazia ali em plena tarde, em dia se semana. Inabalável Guigota respondeu: “Vim apenas trazer o nome de um remédio de gripe, que uma funcionária do bar me pediu”. A cara de pau de Guigota era apreciável.


O boêmio Guigota

Guigota estava para a noite assim com as estrelas também estão. Seu roteiro noturno incluía vários bares e cabarés até encontrar uma bela (às vezes nem tanto) mulher para jogar-se em seus braços. As estórias de Guigota na noite são centenas, a maioria impublicáveis. Das altas rodas até o baixo meretrício Guigota transitava à vontade. Era um notívago contumaz. Guigota morreu em junho de 1991 e com ele sepultou-se alguns fatos que ninguém ficou sabendo. Ah, ia esquecendo. O nome completo de Guigota era Aguir Matheo Damian e não por acaso era meu tio.

Referências

  1. Texto escrito por Marco Antonio Damian publicado no jornal Diário da Manhã, em 20 de abril de 2002.