Só o tempo constrói a história e ressuscita seus heróis

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Só o tempo constrói a história e ressuscita seus heróis

Em 30/11/2013, por Jabs Paim Bandeira


JABS PAIM BANDEIRA[1]


No ano de 2004, os Cavaleiros do Mercosul foram convidados para uma cavalgada no Pulador, distrito de Passo Fundo, por um grupo de cavaleiros de Carazinho, comandada por Navílio Braneleiro e Darci Vieira, quando palestrantes relembraram a Revolução Federalista de 1893, em especial a Batalha do Pulador, acontecida naquele local, em 27 de junho de 1894.

A maior batalha do Brasil e uma das maiores da América do Sul, onde morreram mais de mil pessoas, e outros tantos feridos, em mais de seis horas de ferrenho combate, entre Federalistas (Maragatos) e legalistas (Pica-Paus). Acontecimento extraordinário que poucos conheciam, embora a existência dos marcos de Federalistas e Pica-Paus, mandado erigir pelo prefeito Firmino Duro, justamente, onde houve o confronto.

Eu nunca estudei esta revolução nos bancos escolares e muito menos tinha noção do que foi a batalha e seu significado. Não tinha noção da grandiosidade daquele confronto. Fiquei vivamente interessado pelo assunto, despertando minha curiosidade, a fim de me enfronhar mais ainda, na história da Revolução Federalista e de seus heróis de ambos os lados.

Como os generais Pica-Paus, Lima, Chacha Pereira e Pinheiro Machado, como do lado dos federalistas, general Gomercindo Saraiva, de seu irmão Aparício, almirante Saldanha, ou ainda de Ângelo Dourado.

Começou a nascer em minha mente a encenação da Batalha naqueles campos. Reinventando o sangrento confronto, trazendo o passado para o presente, num resgate da nossa fascinante história, dando vida e voz a todos os heróis daquela peleia, que encharcou os campos do Pulador de sangue.

Num barulho surdo de morte e de desespero, mudando a geografia da pampa então verde e agreste, agora era rubra de sangue, numa bruma escura, chamuscado pela queimada e a fumaça deixada pela pólvora, permanecendo ali definitivamente a ausência de vida e a morte de tudo, até da esperança. Assim permaneceu Pulador, apenas na saudade, esquecido pela história, que ali se fazia reviver, para fazer justiça a seus bravos, que não tombaram em vão!

Falei para alguns colegas dos Cavaleiros do Mercosul. Em seguida procurei o radialista e historiador Daltro Wesp, tendo ele me emprestado a obra Voluntários do Martírio, do baiano, Cel. Médico, Ângelo Dourado que escreveu o diário da revolução, no seu dia a dia, o melhor relato sobre o assunto, escrita nas refregas das contendas.

Este livro despertou meu interesse em buscar outras obras, que o fiz no Martins Livreiro e em outros sebos, onde encontrei escritores brasileiros e estrangeiros sobre o tema. Comecei a escrever a versão da Batalha do Pulador, para que pudesse ser encenada, despertando emoções e intensas ações. Cujo texto pudesse ao menos envolver a assistência, devolvendo um pouco da realidade mais viva do próprio combate, no local onde aconteceram os fatos.

Diversifiquei os protagonistas, para que pudessem atuar mulheres e crianças, através dos saqueadores e da Cruz Vermelha. Apresentei o projeto aos Cavalheiros do Mercosul, aprovada a iniciativa, os convidei para que protagonizassem alguns dos atores do espetáculo.

O Cel. Cerutti, comandante regional da Brigada Militar, ficou entusiasmado com a encenação e a participação da Brigada. Tendo me apresentado ao comandante geral da Brigada, que confirmou o apoio da força na execução do projeto, dispondo-se, também, a fornecer algum material bélico.

A primeira reunião aconteceu na biblioteca da UPF, no dia 18 de abril de 2005. Havia projetado realizar a encenação no mês de agosto daquele ano. Ali compareceram teatrólogos, imprensa, militares, historiadores e artistas, entre outros. O projeto foi bem aceito, mas as pessoas achavam que, para ter sucesso teríamos que ensaiar aproximadamente um ano.

A maioria entendia que seria viável em agosto, daquele ano, apenas realizar um desfile e, no próximo ano seria a encenação. Mas nós estávamos determinados a realizar o espetáculo naquele ano. “Quem sabe faz a hora, não espera acontecer”. E uma vez transferido, seria um balde de água fria no entusiasmo de meia dúzia de visionários, que haviam chegado até aquela altura e não estavam dispostos a recuar, como não recuaram.

Vozes de expressão, como Paulo Giongo e a maioria, defendia que seria precipitado realizar naquele ano. Foi um trabalho danado, pois, eu presidia os trabalhos e não concordava com a maioria, estando impedido de debater a ideia. Então entrou em cena o nosso colega, cavaleiro Nelson Pavin Filho, inteligentemente, como é do seu feitio, quando adota um ponto de vista, trabalhou intensamente nos bastidores, a fim de conseguir convencer uma parte da plateia e aprovamos a encenação para aquele ano.

O prefeito Airton Dipp, procurado, relutou, achando que era um empreendimento muito ousado, mas, finalmente nos apoiou, inclusive, financeiramente, não acreditando muito no projeto. Deixou que as coisas tomassem seu rumo. Compareceu ao espetáculo e se convenceu de sua grandiosidade, confessando sua incredulidade.

Vieram de Porto Alegre algumas peças bélicas do museu da Brigada Militar, trazida pelo major, hoje Cel. Roberto Kraid, meu sobrinho, as quais foram expostas no Pulador.

Confeccionamos canhões, dois deles fabricados pelo fazendeiro Itamar dos Santos. Uma metralhadora giratória, descoberta pelo companheiro Delmidio Fagundes, fuzis da brigada militar. Desenvolvemos um tipo de espadas e confeccionamo fardamentos, lenços, ponches, quepes, palas e xiripás.

E no dia 07 de agosto de 2005 realizamos a encenação, 600 figurantes, o maior espetáculo bélico a céu aberto já realizado no Brasil. Sucesso, mais de 5 mil expectadores, foi uma surpresa agradável e uma apresentação de luxo, de gaúchos amadores, colegas Cavaleiros do Mercosul e Brigada Militar.

O dia da encenação era, como os historiadores contavam, muito frio, tanto que na véspera da batalha, em 26 de junto de 1894, morreram de frio, no acampamento, as margens do Rio Pinheiro Torto, junto a capela de São Miguel, mais de 12 federalistas. Na encenação havia névoa no campo, mais a bruma de fumaça que envolvia o espetáculo, sendo ele tão perfeito e emocionante, não só para quem participava, como para a plateia (alguns inclusive derramavam lagrimas), levando a crer que os espíritos daqueles que ali batalharam, mortos ou não no local, haviam incorporado aos atores e participantes, inclusive nos animais pela maneira que se postaram.

Depois da encenação escrevemos o livro “Batalha do Pulador, História e Encenação”, no qual conto a historia da Revolução, é a única obra que fala com exclusividade sobre a Batalha, até o momento, publicada, registrando nossa luta e onde consta o projeto na versão que está sendo encenado, registrado na Biblioteca Nacional.

Em 2007, anos que comemoramos os 150 anos de Passo Fundo, no dia 07 de agosto, entre os festejos que integraram a efeméride, a Encenação da Batalha do Pulador, foi a que teve maior público, mais de vinte mil expectadores, aplaudindo 600 atores, num espetáculo da grande envergadura, cuja emoção foi o elo que embelezou material e espiritualmente a todos.

Em 4 e 5 de agosto de 2012, apresentamos a VI Encenação da Batalha, naquele distrito, com elenco de mais de 600 atores e um publico estimado em 30 mil pessoas, vindo de todas a regiões.

A próxima apresentação será em agosto de 2014, já na maioridade da Encenação da Batalha, a 7ª edição. “Só o tempo constrói a história e ressuscita seus heróis!” (Flavio Tavares)

Referências

  1. Jabs Paim Bandeira é advogado e membro da Academia Passo-Fundense de Letras.