Revolução Federalista em Passo Fundo
Revolução Federalista em Passo Fundo
Em 07/08/2007, por Paulo Domingos da Silva Monteiro
Paulo Monteiro[1]
Passo Fundo é politicamente dividida desde o início. Manuel José das Neves, o primeiro morador, e Joaquim Fagundes dos Reis, a primeira autoridade, sempre estiveram em campos opostos. Durante o Segundo Império, dois partidos, o Liberal e o Conservador, polarizaram entre si a política rio-grandense. Os liberais dominaram a maior parte do tempo, sem deixar qualquer espaço aos vencidos.
Os conservadores cruz-altenses mandaram comandar a oposição passo-fundense, o rábula Gervasio Luccas Annes. Esse enfrentou o liberal Antônio Ferreira Prestes Guimarães.
Em 23 de fevereiro de 1882, foi fundado o Partido Republicano Rio-Grandense (PRR), que quase nula influência exerceu em Passo Fundo, até que, pouco antes da proclamação da república, acabou engrossado pelos conservadores.
Uma vez no poder, os cristãos-novos do republicanismo, estimulados pelas idéias maldigeridas do positivismo, preconizando a ditadura científica, foram à desforra contra os velhos adversários. Amplificaram a violência que perpassava a vida política passofundense.
Já em novembro de de 1891, à frente de caudilhos serranos, Prestes Guimarães ocupou militarmente a cidade, pondo em fuga os republicanos. Pouco depois, definida a Fronteira como centro da revolução que se avizinhava, o líder serrano imigrou para o Uruguai, com alguns companheiros de confiança. Antes organizou o movimento no interior paranaense.
Nos primeiros dias de fevereiro de 1893, Antônio Ferreira Prestes Guimarães foi um dos comandantes da invasão federalista. Participou de diversos combates na Fronteira, vencendo o Combate da Jararaca, em que foi aprisionado Santos Filho. Enquanto isso, os caudilhos Elisário Ferreira Prestes, Amâncio d’Oliveira Cardoso, Verissimo Ignacio da Veiga, Pedro Bueno de Quadros, José Antônio de Souza e José Borges Vieira, mantinham acessa a chama revolucionária em Passo Fundo.
Essa chama brilharia no dia 4 de junho de 1893, no Combate do Boqueirão. Após ocuparem a cidade, os maragatos enfrentaram uma força combinada de pica-paus de Passo Fundo e Cruz Alta, sendo derrotados. Tiveram 25 mortos em ação, seis na retirada e grande número de feridos. Os legalistas contaram seis mortos e três feridos.
Depois que Gomercindo Saraiva passou rumo ao Paraná, em setembro, vários combates ocorreram. Em 20 de novembro, no Combate do Arroio Teixeira ou do Guamirim, armados com lanças e cacetes, derrotaram uma força oficial, matando 34 republicanos.
Exatamente um mês depois, no Combate do Passo do Cruz, em dois combates, um pela manhã e outro à tarde, mataram mais de 25 pica-paus, entre eles o capitão Eleutério de Carvalho, comandante da Brigada Militar, e Francisco Brizola, da Guarda Republicana. Um dos combates mais renhidos, o do Umbu, ocorreu em 16 de janeiro de 1894, quando uma força vinda de Cruz Alta, comandada pelos intendentes Gervazio Annes e José Gabriel da Silva Lima foi desbaratada pelos maragatos. Gervazio fugiu ferido. Ficaram mais de 200 republicanos mortos, 42 prisioneiros que teriam sido degolados, e grande butim, contra cinco maragatos mortos e 17 feridos.
A derrota provocou a vinda da Brigada Santos Filho, com mais de 1.500 homens. Atraídos para os Valinhos, em 8 de fevereiro, os maragatos foram derrotados. Entre o local do combate e o fim da perseguição no Rio Carreteiro, tiveram 150 mortos. Os 120 feridos em combate foram executados ao som de banda marcial, enquanto os vencedores contabilizaram 35 mortos e 15 feridos. Já sob o comando pessoal de Prestes Guimarães, os maragatos deram o troco no Combate dos Três Passos (6 de junho de 1894). Derrotaram a temida Divisão do Norte matando 150 legalistas e ferindo um número incalculável, contabilizando 13 mortos e 17 feridos entre os seus. Vingaram Valinhos, degolando e despindo até os brigadianos mortos.
Unindo-se ao esfarrapado exército de Gomercindo Saraiva, que regressava do Paraná, os maragatos passo-fundenses participaram da Batalha do Pulador, em 27 de junho de 1894. A cavalaria serrana travou combate com a vanguarda republicana, às primeiras horas da manhã, mas foi impedida de operar com eficiência durante a Batalha, pela posição escolhida pelos legalistas. A batalha, durou das 6 às 16 horas e o coronel maragato Verissimo Ignacio da Veiga, que permaneceu no local contou 1.014 mortos. O número de feridos foi superior a mil.
Depois da Batalha do Pulador ocorreram combates menores nas serras. A perseguição e a matança de maragatos continuou durante anos. Segundo cálculos do historiador Francisco Antonino Xavier e Oliveira, contemporâneo dos acontecimentos, a revolução causou mais de 3 mil vítimas em Passo Fundo e arrasou a economia do município.
Referências
- ↑ Paulo Monteiro pertence à Academia Passo-Fundense de Letras e à Academia Literária Gaúcha