Repercussões do 24 de agosto de 1954 em Passo Fundo

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Repercussões do 24 de agosto de 1954 em Passo Fundo

Em 2010, por Alessandro Batistella


Alessandro Batistella[1]


1954 foi um ano emblemático na história recente do Brasil. Naquele contexto, o país atravessava um turbulento período, marcado não somente pela crise econômica, mas principalmente por uma grande crise política. Nesse sentido, convém lembrar que havia um conflito entre duas forças políticas que se repeliam mutuamente: de um lado, o projeto varguista, calcado no nacional-estatismo, e, de outro, o liberalismo dos udenistas. Esse embate cindiu não apenas a arena política, mas também ecoou na sociedade civil e nos círculos militares.

Contudo, apesar das pressões Getúlio se equilibrava no poder. Faltava à oposição um acontecimento suficientemente traumático que levasse as Forças Armadas a ultrapassar os limites da legalidade e depor o presidente. Esse acontecimento foi proporcionado na madrugada do dia 5 de agosto, no conhecido atentado a Carlos Lacerda, quando este se aproximava da sua residência, à rua Toneleros, que vitimou o seu acompanhante, o major da Aeronáutica Rubens Vaz.

Após esse episódio, as elites conservadoras incitavam as Forças Armadas a derrubarem Vargas. Assim, com o passar dos dias, o movimento pela renúncia do presidente ganhou grandes proporções e Vargas encontrava-se acuado e com uma margem de manobra pequena. Na manhã do dia 24 de agosto, por volta das sete horas, um grupo de generais chegou ao Palácio do Catete exigindo a renúncia. Para Vargas não havia mais alternativas: renunciava ou seria deposto por um golpe militar. Mais tarde, Vargas se suicidou com um tiro no peito, deixando, sobre um móvel do quarto, uma carta, logo nomeada de Carta-Testamento.

A notícia da morte do presidente estarreceu o país e o conteúdo da Carta-Testamento, divulgada pela Rádio Nacional, comoveu a população, que promoveu verdadeiros motins populares em todo o país. Apesar da repressão policial, a população não se intimidou e, além de promover greves gerais em algumas cidades do país, endereçou a sua ira contra as sedes dos partidos da oposição (sobretudo a UDN, mas também o PSD e o PL no Rio Grande do Sul), os jornais antivarguistas (como O Globo e a Tribuna da Imprensa, no Rio de Janeiro, o Diário de Notícias e o Estado do Rio Grande, em Porto Alegre) e até mesmo a representação diplomática dos Estados Unidos no Rio de Janeiro.

Em Passo Fundo também ocorreram acontecimentos dessa natureza. Assim, na noite do dia 24, uma numerosa e exaltada massa popular depredou as sedes dos partidos antivarguistas locais (UDN, PSD, PL) e a sede do jornal pessedista Diário da Manhã.

No dia seguinte, numerosos populares desfilaram pelas ruas da cidade conduzindo dois bonecos de pano, sendo que um deles simbolizava a figura de Carlos Lacerda e trazia inscrições contra ele e a UDN. Os manifestantes, depois de se dirigirem ao Altar da Pátria, onde promoveram discursos inflamados, prosseguiram percorrendo as ruas centrais e, chegando à Praça Marechal Floriano, atearam fogo no boneco que simbolizava a figura de Lacerda. Em seguida, se ouviu estridentes vivas a Getúlio Vargas e abaixo aos seus opositores, ouvindo-se ainda o Hino Nacional, cantado pela imensa massa humana presente.

Após alguns dias, a situação voltaria à normalidade em todo o país, mas agora, diante da reação popular, o golpe era inviável. Dessa forma, mesmo recorrendo a uma solução extrema, Vargas reverteu a situação, impediu o golpe e reconquistou definitivamente o prestígio que vinha perdendo junto à população em virtude das conseqüências da crise econômica daquela época.

Referências

  1. Mestre em História