Razões para a imigração italiana

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Razões para a imigração italiana

Em 07/08/2007, por Santo Claudino Verzeleti


Razões para a imigração italiana


Santo Claudino Verzeleti


Com a unificação da Itália no ano de 1870, os problemas do país se avolumaram e o descrédito nas autoridades se tornou ainda maior. Revoluções, levantes, ódios e vinganças entre grupos adversários aconteciam com freqüência. A convulsão social, econômica e política jogou na miséria os trabalhadores agrícolas, beneficiando a burguesia. O índice de analfabetismo era altíssimo e os que sabiam ler demonstravam precária instrução. Somavam-se a isso as péssimas colheitas e os baixos preços dos produtos agrícolas.

O quadro era desolador e incitava os italianos a fugir da pátria antes que o inverno lhes batesse à porta, sempre com tremenda escassez de alimentos. Não se importando o governo com a miséria evidente, não restava ao povo outra alternativa. E o grito de revolta soava uníssono entre os campesinos: Viva la Merica e muoiano i signori! (Viva a América e morram os patrões!)

Referendando o pensamento de todos, escreveu o poeta Berto Barbarini: Ma a star quà, no se magna nò, per Dio, / Bisognarà per farlo sto passo. (Mas, ficar aqui, não se come, por Deus, / É preciso dar o grande passo).

A vinda dos italianos para o Rio Grande do Sul se deve à iniciativa de d. Pedro II, e ocorreu segundo normas e critérios governamentais. Ao chegarem, todos eram instalados em galpões, numa espécie de quarentena, donde seguiam para as terras que lhes eram destinadas. Para o norte, foram os imigrantes com força braçal, os assalariados; ao sul, dirigiram-se os que queriam ser donos do próprio nariz. Todos com uma vontade inabalável de trabalhar, criar sua família e viver em paz. Os primeiros a chegar receberam as terras gratuitamente, além da ajuda em ferramentas e sementes. Mais tarde uma lei retirou tais vantagens.

Por ocasião da Guerra do Paraguai, com a invasão de Uruguaiana, São Borja e Itaqui, entre 1865 e 1870, o imperador d. Pedro II percebeu a necessidade de colonizar aquele território, até então habitado somente por índios, e pelo gado alçado que vivia no pasto.

Foi então que assinou o decreto 3.784, de 19 de janeiro de 1867, regulamentando a formação de colônias, no Estado do Rio Grande do Sul, uma vez que os fazendeiros de gado nada entendiam de agricultura.

Assim se abriram as portas da América para mais de um milhão e meio de emigrantes do norte da Itália. O governo e os políticos brasileiros foram tomados de perplexidade ante a avalanche de forasteiros que, por várias décadas, aqui aportaram, fugindo da tirania dos próprios irmãos europeus. Rubare o emigrare! (Roubar ou emigrar!) era o lema que movia esses trabalhadores que, embora produzissem em sua terra, viam-se extorquidos do direito de comer o fruto do próprio suor.

O ano de 1875 marcou, nas Américas, a conquista do Eldorado para aquele povo: Nel Merica se gà cucagna, se beve e se magna (Na América se tem riqueza, se bebe e se come).

Um sonho longínquo, mas possível de ser realizado, embora com muito sofrimento e muitas lágrimas, por ocasionar a dispersão das famílias. Houve ainda o agravante da exploração, por parte dos agentes de viagem, em sua totalidade recrutadores mercenários e gananciosos.

Os oriundos do Vêneto e da Lombardia, quando perguntados de onde vinham, só tinham uma resposta: Noi siamo partiti dai nostri paesi (Nós partimos de nossos povoados). Eles enfrentavam trinta e seis dias de travessia pelo Oceano Atlântico, até aportar na costa brasileira.

No Rio de Janeiro, os recém-chegados se alojavam, de início, na Ilha das Flores, para depois de alguns dias, continuarem a viagem até o Rio Grande do Sul e os outros locais de povoamento. Desembarcavam no porto de Rio Grande, para seguir rumo a Porto Alegre e, por fim, às colônias de Caxias do Sul, Bento Gonçalves, Garibaldi e Santa Maria. A viagem prosseguia de barco até São Sebastião do Caí. O restante do trajeto era feito em cargueiro de mula, carreta-de-boi ou mesmo a pé.

Os imigrantes, por sua vez, não decepcionaram a quem lhes possibilitou o resgate da dignidade pessoal e familiar. Com sua garra de desbravadores, colonizaram os rincões de vários Estados do Brasil. Na nova pátria, expandiram-se pelos espaços inóspitos que aos poucos foram dominando. E prosseguiram sua vida de trabalho e amor aos entes queridos, marcas profundas desta brava raça. Em solo gaúcho, as localidades de Alfredo Chaves, Guaporé, Lagoa Vermelha, Passo Fundo e várias outras, também representam o berço da moderna expansão dos italianos.

O lema que predominava entre eles assim se resume: Volersi bene, aiutarsi e congliarsi (Querer-se bem, ajudar-se e aconselhar-se mutuamente). Ou, em síntese: “A união faz a força”.

Minha nona, Lúcia Casagrande, recordava os vaporetos (embarcações a gasolina), que subiam o Rio das Antas e o Taquari, vindos de Porto Alegre, carregados de produtos coloniais e tecidos de brim. Passavam por Santa Teresa, Muçum, Roca Sales, Arroio do Meio, Lajeado, Estrela, Bom Retiro, Mariante, Taquari, General Câmara e Triunfo. Esse foi o caminho percorrido por muitos imigrantes que se dirigiram às terras da Linha Leopoldina e da Pedernera, onde foi criado o loteamento das primeiras propriedades.