Radiografia das emoções

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Radiografia das emoções
Descrição da obra
Autor Helena Rotta de Camargo
Título Radiografia das emoções
Assunto Poesia
Formato E-book (formato PDF)
Editora Projeto Passo Fundo
Publicação 2012
Páginas 60
ISBN 978-85-64997-62-2
Impresso Formato 15 x 21 cm
Editora Projeto Passo Fundo
Publicação 2012

Radiografia das emoções Estes textos nada têm de doutrinário. São apenas reflexões recolhidas pelos caminhos da existência, fossem eles radiantes de claridade ou crispados pela escuridão. Seu mérito consiste em retratar o pensar e o sentir, de quem aprendeu a neutralizar as investidas do infortúnio, a fim de estar de bem com a vida.

Apresentação

Aforismos, pela Autora

O desfecho da vida humana deveria ocorrer como a metamorfose das lagartas, que se transmudam em borboletas e aprendem a voar.

Escrever compara-se a uma libertação. – A gente sai do corpo, flutua, se agita e aquieta, até por fim empreender o voo, que dilata o espaço, retém o tempo e o registra.

Urge suplicarmos a Deus que nos livre de toda hipocrisia; que aplaque os nossos assomos de vanglória; que nos ensine o caminho do amor; e que, por fim, pulverize o ar que respiramos, com partículas de bem-querer.

No estertor da noite, infestada de fantasmas, nossa maior preocupação é alcançar o dia seguinte, pôr a mão no ombro da esperança, olhá-la de frente e fazer dela o nosso escudo protetor.

A mão de um artista só pode ser feita de seda, vaporosa e macia como se revela a arte, em qualquer das suas expressões.

O olhar arrogante só se presta para congelar a amizade e a simpatia.

São múltiplas as concepções sobre a existência humana. Para alguns dentre nós, ela não passa de uma ridícula comédia; para outros, iguala-se a um drama de afanosa persistência; e, para um terceiro grupo, revela-se um sonho ardorosamente acalentado.

Conheço três ingredientes básicos, que impedem os sentimentos de adoecerem: o bom senso, a tolerância e o bom humor.

Em minha misteriosa e derradeira viagem, sentir-me-ei mais confortável e menos temerosa, se me for permitido levar comigo uma braçada de livros, pois que a ociosidade me provoca urticária...

Uma das belas recordações da minha infância, foi descobrir os longos braços do Sol, estendendo-se pelo vale, em busca do castelo das mil e uma noites...

Saibam todos que percorri, teimosamente, longínquos vales e desertos, em busca da felicidade prometida aos que amam com sinceridade e devoção!

Sem uma dose incrementada de otimismo, ninguém de nós consegue manter, por longo tempo, a vitalidade e o bom humor.

A quem deseja disfarçar os traços de um semblante pouco privilegiado, não há melhor estratégia do que um sorriso simpático.

Somente a inteligência, o trabalho, a dignidade e a honra, haverão de ser guindados ao panteão dos vencedores.

Oh! as noites da minha infância, povoadas de vaga-lumes, e com aquela serenidade fulgurante da alma sem pecado!

Índice

  • Relação dos aforismos de 1 a 556
  • 1. Naquela infância distante, eu me encantava com a garoa dessedentando as uvas, e com a Lua prateando as rosas. Hoje, a cidade abafou esses encantos, pois ela está mais para feitora do que para parceira bem intencionada.
  • 2. Minha fome já não é de pão, mas de beleza e empolgação!
  • 3. Por que será que o ser humano, herdeiro de sucessivas gerações, tem a obrigação de enterrá-las e ser por elas enterrado?
  • 4. Nada há que se compare à excelência do olho humano!
  • 5. Ao contemplar o aço polido das águas, refletindo o sorriso da manhã eu me redimo dos meus atropelos. Deveras, a praia me energiza e recompensa, suturando as chagas com que a vida me feriu...
  • 6. Acreditar em nossos sonhos, com vigor e confiança, é a primeira condição para que eles se tornem realidade.
  • 7. Quem me dera apalpar as protuberâncias do céu! Dar a ele formas e cores! Fabricar minhas próprias lendas! E relatar-lhe a mesmice dos dias, na expectativa de ser por ele acolhida e abençoada!
  • 8. Gostaria de perguntar ao Senhor: “Por que Ele não construiu também um céu verde, com estrelas dependuradas nos galhos, piscando e sorrindo, como o pinheiro de Natal?”
  • 9. O frenesi das estrelas, disputando espaço nas arquibancadas do céu; o olhar perscrutador da lua, desmentindo o fuxico das nuvens irrequietas; e o candelabro do Sol, escondendo-se na moita, a fim de tirar uma soneca: eu sei que tudo isso é um prêmio para meus olhos e minha excitação!
  • 10. Vai embora, lágrima enxerida! Que fazes tu aí, dependurada na pálpebra, tentando reter a saudade daquela infância rosada, que a carruagem do tempo já levou para o mar?
  • 11. Lembro, com extrema nitidez, do dia em que desabrochei para o mundo; em que a brisa esvoaçou, calidamente, as minhas tranças; em que saí a passear com as amigas, e vivi o prazer daquela festa no salão paroquial... Deveras, as lembranças da infância não morrem jamais, nem há tufão que as carregue!
  • 12. Sinto uma atração inexplicável, tanto pela treva como pela claridade; pelo burburinho das ruas e pela tepidez do silêncio. O que faz a diferença, entre um momento e outro, é a densidade da comoção com que me envolve o esplendor dos afetos.
  • 13. Tão verdes foram sempre as minhas esperanças, tão puras e tão graciosas que, nem a birra da tormenta, nem o galanteio dos lírios, foram capazes de mudar sua cor.
  • 14. Há um descompasso infl exível entre o sonho e a realidade, como entre a sorte e a desgraça, entre o rio manso e o mar furioso.
  • 15. Sempre que o infortúnio nos ronda a porta, é de praxe invocarmos nossos santos preferenciais, saudando seus méritos e comprometendo-nos com eles.
  • 16. Nunca ninguém me disse onde mora, de fato, minha alma. Se no cérebro, no peito, nos olhos ou no sorriso. A julgar por seu desvelo e seus conselhos, presumo ser ela uma fada com poderes mágicos, pois que me surpreende a cada nova empolgação.
  • 17. É tão denso e nutritivo o sumo das lembranças, que convém degustá-lo com vagar, a fi m de apreciar melhor sua gostosura.
  • 18. A chuva descia miúda, afagando com delicadeza o coração da terra. Oh! garoa amiga e dadivosa, bem que você poderia saciar minha sede de vitalidade, e colorir as fl ores do meu riso, tão desbotadas pela árdua insolação!
  • 19. Naquele passado distante, em que aprendi a conhecer as palavras, também compreendi sua mensagem. Ao revestirem-se de simbolismos, elas transitam desde a covardia e o ciúme, até a inocência e a afeição.
  • 20. Os museus e as bibliotecas são as mais fi dedignas testemunhas do tempo. É neles que a humanidade registra sua história, e resguarda os feitos que merecem ser preservados.
  • 21. Aquele estado de transe, que nos higieniza de toda espécie de desânimo, aborrecimento, frustração, só ocorre se aprendermos a perfilar o corpo e arejar o espírito.
  • 22. A linha divisória, que cruza entre o júbilo e o desgosto, pode revelar-se mais tênue que uma teia de aranha.
  • 23. Somente as pedras são, inflexivelmente, incólumes. Tudo o mais é suscetível de mudança, desgaste, violação.
  • 24. Preservados em meu subconsciente, jamais se apagarão seus olhos verdes, sua alma casta, seu sorriso espontâneo, sua discrição franciscana. Deveras, minha mãe foi uma dessas santas que Deus precisa no céu, a fim de apaziguar os anjos inquietos...
  • 25. Há noites tão foscas e desastrosas, que nos induzem a sonhar com aranhas, sapos e escorpiões, crescendo e enfiando-se sob os lençóis, qual um exército de diabinhos irreverentes, por certo expulsos do inverno...

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  • Lançado na III Semana das Letras da Academia Passo-Fundense de Letras ocorrida de 08 de abril de 2014.

Referências