Quem foi Lalau Miranda
Quem foi Lalau Miranda
Em 27/03/2012, por Dilerman Zanchet
Quem foi Lalau Miranda[1]
Dilerman Zanchet[2]
O nome do Ctg deve-se a uma justa e merecida homenagem prestada pelos sócios fundadores a um dos mais autênticos gaúchos que das décadas de XIX e XX. Estanislau de Barros Miranda, o “Lalau Miranda”, nasceu em 24 de novembro de 1853 e passou quase toda sua existência num local denominado "Casa Branca" no então distrito de Coxilha, município de Passo Fundo (RS), vindo a falecer em 9 de janeiro de 1916.
Contam os que tiveram oportunidade de conhecê-lo, entre os quais sua filha Eponina, de ter levado uma existência com seu espírito impregnado dos mais elevados sentimentos de humanidade cristã, dotado de uma conduta retilínea e ilibada honradez, trilhando sempre a senda do bem e semeando o bom exemplo a todos os que o rodeavam.
Era homem de razoável cultura e, embora as dificuldades educativas da época, estudou alguns anos em um seminário religioso de Sorocaba (SP), obtendo ótima formação moral e religiosa, voltando, depois, para suas lides prediletas, que eram as campeiras.
Era trabalhador esmerado e caprichoso e por isso muito abastado, mas, contudo, generoso e humano e temente à Deus. Sempre conformou-se com a sorte que o “Patrão das Alturas” lhe oferecia, certa feita, chegando em casa, encontrou sua bela morada transformada num braseiro e cinzas, com mulher e filhos desesperados em prantos pelo triste acontecimento. Mas o gaúcho, "vaqueano da vida", logo encontrou uma solução. Com sua peculiar serenidade e um sorriso nos lábios, por ver todos seus familiares salvos, perguntou à sua mulher:
- Ninguém se queimou, minha velha? Choramingando respondeu-lhe:
- Não, graças a Deus, mas, de tudo que nós tinha, só restou a tua viola porque tava pendurada na laranjeira.
- Ah!... Muito bem, Sinhá, então faça o favor de me alcançá-la e chega de choro. Faremos uma casa melhor e vamos todos cantá pra agradecê ao "Patrão" por ter-nos salvado a todos.
E improvisou alguns versos agradecendo a Deus por ter poupado a vida de toda sua família.
Conta-se ainda que em certa ocasião encontrou um homem carneando um suíno que lhe roubara, nos fundos de sua invernada. Aproximando-se sem que o ladrão o percebesse, perguntou-lhe:
- Sofrendo um pouco, vizinho? O rapaz apavorado, qual louco, disparou campo a fora, correndo mais que o vento. Mas Lalau chamou-o:
-Venha cá, moço, não precisa buscá ajuda não, eu posso te ajudá e levá o porco pra tua casa e se lá não tiver sal para salgá-lo, venha buscá na minha casa.
O rapaz, encabulado, descorado, trêmulo e cabisbaixo voltou, após algumas reflexões, pedindo-lhe escusas e prometendo pagar-lhe em dobro quando pudesse.
Mas é certo que, até hoje, tal suíno não foi pago e jamais lhe foi cobrado.
O seu esporte predileto era montar no pingo e ir para a cancha brincar de hipismo. Para tanto, tinha sempre dois parelheiros de sua propriedade e o compromisso para tratá-los cuidadosamente.
Houve uma época em que possuía seis cavalos picaços todos mansos e tão bem ensinados que obedeciam sua voz de comando e formavam fila para comer açúcar na mão de seu dono, quando lhes ordenasse.
Desincumbia-se, com excelência, na música, cantando e tocando diversos instrumentos. Era dotado de invejável habilidade na trova, na poesia crioula e em danças folclóricas. Onde quer que se encontrasse, cercava-se de amigos, pois que, com seu modo de ser, suas músicas e poesias sabiam cativar a todos que o rodeassem.
De outra parte, nas lides de campo era de fato "um cuera mui guapo". Exímio cavaleiro, ginete, domador, laçado r tanto com a mão direita como com a esquerda, e trançador de primeira, executando verdadeiras obras de arte com couros de animais diversos para apeiragens das mais variadas.
A par disto, no manejo de um revólver e na esgrima não encontrava concorrente. Mas por um capricho e acerto da natureza estava impedido de usar armas em briga. Só podia usá-las para caçar e para brincar como, por exemplo, para tramar a "dança dos facões" e fazer tiro ao alvo", etc.
Em briga não podia usá-las por razão muito simples. Porque todos que com ele se defrontavam eram seus amigos e, assim, lhe faltava adversário para pelear.