Primeiro centenário de Passo Fundo

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Primeiro centenário de Passo Fundo

Em 07/08/2007, por Marco Antônio Damian


Marco Antonio Damian[1]


Depois de 100 anos de progresso, o ano de 1957 foi efusivamente comemorado pela população passo-fundense. Era o centenário de emancipação política e econômica do nosso município. A cidade se vestiu de festa e vários eventos marcaram a passagem do centenário.

O prefeito Wolmar Antonio Salton criou diversas comissões para a organização desses eventos e o mais importante deles foi a 7ª Festa Nacional do Trigo, que reuniu em Passo Fundo as mais altas autoridades nacionais e estaduais. A Comissão Principal Pró-Festejos era assim constituída: prefeito Wolmar Antonio Salton, presidente; Dionísio Lângaro, representando a Associação Comercial; Vitório Dinardo, representando a Associação Rural; Reyssoli José dos Santos, representando o ensino superior; irmão Gelásio Maria, representando o ensino secundário; Armando Lima, representando os sindicatos; capitão Geraldo Majela Monteiro Bernardes, representando o 1/20º R.C.; Carlos De Danilo Quadros, representando os jornalistas e general Geisel, representando a Cooperativa dos Triticultores de Passo Fundo.

A efeméride começou com o concurso para eleger o hino do centenário, onde foram vencedores o senhor Arthur Sussenbach, que compôs a letra, e a professora Irene Wagner Teixeira, que produziu a música.

Naquele ano, Passo Fundo escolheu, entre suas milhares de beldades, três rainhas, belas e intelectuais jovens, que representaram o município nos muitos eventos. A primeira foi Célia Ferreira, Miss Passo Fundo, que representava o Centro Acadêmico das Faculdades de Passo Fundo. Ela teve a incumbência de representar a cidade no concurso de Miss Rio Grande do Sul. Depois foi eleita por voto popular, por meio de cupons depositados em urnas espalhadas pela cidade, a Rainha do Centenário. Cinco concorrentes receberam mais de cem mil votos e ao final foram submetidas a um júri especial, composto por autoridades e personalidades representativas do município. A escolhida foi Márcia Kozma, de tradicional família passo-fundense. As demais competidoras ganharam o status de princesas. Finalmente, em outro evento no Clube Comercial, o Baile do Centenário escolheu a Rainha da 7º Festa Nacional do Trigo e os jurados escolheram Gládis Maria Marson.

Entre os muitos eventos esportivos, a Rústica Centenário de Passo Fundo, cuja largada e chegada se deu na Rua Moron e foi vencida por Churchill Juarez Dall’Oglio, representando o São Paulo do Bairro Boqueirão. A prova hípica aconteceu nas raias do quar tel do 1/20º Regimento de Cavalaria e o vencedor foi o tenente João Edi Kraemmer, montando o cavalo Garoto. A corrida automobilística Primeiro Centenário, realizada nas ruas centrais da cidade, cujo percurso ficou apinhado de assistentes, teve mais uma consagração de Orlando Menegaz, que estreava sua carretera com motor Corvete. Na prova preliminar, entre os motociclos, o ganhador foi Flaviê Silva. No futebol, aconteceu o campeonato citadino e o 14 de Julho suplantou o Gaúcho, no Estádio da Baixada, por 1 x 0, gol de Caíco, e ficou com o inédito título de Campeão do Centenário, que muitos anos após ainda orgulhava os rubros.

O ponto maior das festividades do centenário foi inegavelmente a 7ª edição da Festa Nacional do Trigo. Reconhecida como a Capital Nacional do Trigo essa referência serviu de inspiração para uma frase da música “Gaúcho de Passo Fundo”, do compositor e cantor Teixeirinha, hoje o hino oficial do município. Nos canteiros das Avenidas Brasil e Presidente Vargas, foram plantados trigo mourisco e feijão soja, para mostrar aos visitantes da feira a pujança agrícola do município.

No dia 19 de outubro de 1957, o vice-presidente da República, João Belchior Goulart, solenemente fez a abertura da festa. Entre as autoridades estavam o prefeito Wolmar Salton, Mário Meneghetti, ministro da Agricultura, Percival Barroso, ministro do Trabalho, Leonel de Moura Brizola, prefeito de Porto Alegre, Jorge Lacerda, governador de Santa Catarina e vários deputados estaduais e federais, entre eles Victor Loureiro Issler, Vitor Graeff e Elpídio Fialho, todos com fortes vínculos com Passo Fundo.

Os quatro pavilhões construídos para abrigarem a feira eram denominados: Agroindustrial, Trigo, Cultural e Festas e se localizavam atrás da atual Prefeitura Municipal, proximidades do Rio Passo Fundo. Nas duas semanas da feira, milhares de pessoas visitaram os pavilhões. Shows artísticos abrilhantaram a festa, entre eles o Trio Nagô, cantando inesquecíveis boleros e o pianista Arnaldo Rebello, professor da Escola Nacional de Música.

O desfile dos carros alegóricos seria o ápice das festividades não fosse um lamentável acidente que por sorte não teve um fim trágico. A carreta que levava a rainha Márcia Kozma e suas princesas se desprendeu do trator que a puxava na subida da Rua Coronel Chicuta e desceu desgovernada atravessando a Avenida Brasil em alta velocidade.

Duas princesas atendendo aos gritos da população pularam da carreta, que felizmente foi desviada em um poste de luz e parou contra a parede da sapataria de Jorge. Apenas um grande susto e algumas escoriações.

Nem tudo foi festa e homenagens. Durante o Congresso Nacional dos Triticultores, severas divergências entre os produtores e representantes do governo federal, especialmente com o ministro Mário Meneghetti, quase resultou em vias de fato. O problema era o baixo preço da saca em relação aos custos de produção. Comparando aos dias atuais, essas reivindicações não são meras coincidências.

Comentários

De:  marcoadamian@yahoo.com.br     Enviado em: 19/08/2014  às 22:27:06  horas

Muito útil para a História do RS e do Brasil a presente matéria. Para contribuir, sugiro a inserção no texto do deputado Hermes Pereira de Souza, que enviado pela Câmara Federal como representante da casa, para a Sétima Festa Nacional do Trigo.

Referências

  1. Historiador; Membro da Academia Passo-Fundense de Letras