Povinho Velho de Passo Fundo

Povinho Velho de Passo Fundo

Em 29/08/2009, por Welci Nascimento

Povinho Velho de Passo Fundo

Passo Fundo, lá pelos anos de 1700, início de 1800, era considerado um lugar remoto, coberto de gigantescas florestas, oferecendo ao povo indígena, forte meios de subsistência, tornando-se um dos pontos de concentração.

Com o tratado de demarcação de limites entre Portugal a Espanha, em 1700, em que os limites se estabelecia pela Coxilha Geral, a região de Passo Fundo ficava entre os dois fogos, de um lado os portugueses, procurando impor o tratado e do outro lado os Índios Coroados, a saquear, causando terror e dificultando a entrada dos tropeiros paulistas.

A historiadora Delma Rosendo Gehm, recentemente falecida, membro da Academia Passo-fundense de Letras, anotou que:

“O território de Passo Fundo com a Redução de Santa Teresa já extinta (essa redução contava com índios Guaranis), oferecia o perigo dos índios Coroados, que garantiam duas frentes: a norte, frente de Vacaria e a sul, frente de Passo Fundo”.

Diz ela que

“historiadores vários afirmam de que o chamado limite oriental do território missioneiro e o que as cartas geográficas assinalam como zona do atual,  Mato Castelhano teve participação ativa, como palco ora a ofensiva, ora defensiva dessa demanda de limites...”

Por que havia uma grande campina mais tarde denominada de “Campo do Meio”. Segundo o historiador Francisco Antonino Xavier e Oliveira ela media seis léguas de comprimento, de leste a oeste e três de largura, de norte a sul, cortadas pela velha estrada das tropas, outrora tão freqüentada pelo comércio de muares entre o Rio Grande e São Paulo, para o qual havia então importante feira em Sorocaba... (Passo Fundo-História e Geografia).

Em tal campina também chamada de Porteira Grande dos jesuítas fora fixada uma guarda na entrada de um bosque chamado de “Mato Castelhano”. Ali foi erguida uma capela.

Mesmo assim os paulistas bandeirantes alcançam o lugar, colocando uma guarda portuguesa. Estava bipartido o território de Passo Fundo.

Só em 1801, com a façanha de Borges do Canto, Passo Fundo é incorporado à região missioneira, sob o comando militar de São Borja.

Povinho Velho era um pequeno núcleo de moradores que estava situado na estrada velha que seguia a Vacaria e Lagoa Vermelha, em direção a Mato Castelhano e Campo do Meio.

Havia também outro núcleo chamado de Povinho da Entrada, ao sul do Povinho Velho. Segundo a historiadora Delma Rosendo Ghem esse núcleo também era chamado de Povinho Baixo e Povinho de Cima, nascentes do Rio Passo Fundo, Jacuí e outros arroios.

Pelo que se conclui, havia entre a campina chamada de “Campo do Meio”, Mato Castelhano e, hoje a cidade de Passo Fundo, dois povoados o “Povinho Velho e o Povinho da Entrada. Este desapareceu de memória, enquanto que o Povinho Velho, por conservado marcos (cemitério, igreja, casas e núcleos familiares) ainda existe.

Em 1979 tive a oportunidade de conhecer o Povinho Velho, na qualidade de Secretário Municipal da Educação de Passo Fundo, juntamente com o então vereador Delmo Alves Xavier, e construir uma escola primária, em substituição do velho educandário que ruiu pela a ação do tempo. Na ocasião constatei a existência de uma velha capela da igreja católica, quase caindo, um cemitério em estado de abandono, vestígios de uma rua calçada com pedras irregulares e uma família descendente de escravos negros.

Com o decorrer do tempo, a campina chamada de “Campo do Meio” foi elevada a Distrito de Passo Fundo, quando da sua emancipação em 28 de janeiro de 1857. Mato Castelhano, mais tarde, foi elevado, também a Distrito e, posteriormente, emancipado, ou melhor, dizendo desmembrado do Município de Passo Fundo, em função da sua emancipação política.

O Povinho da Entrada, pelo que sei, desapareceu como núcleo populacional.

O Povinho Velho, localizado a esquerda da BR 285, entre a cidade de Passo Fundo e Mato Castelhano, seria o núcleo mais antigo do território de Passo Fundo, existindo, antes mesmo da chegada do paulista Manoel José das Neves, o Cabo Neves, que chegou com sua família e seus pertences La pelo Ano de 1827, quando levantou a sua morada sendo o primeiro possuidor de terra em cuja área assenta, hoje, a cidade.

Sabe-se que foi no Povinho da Entrada que se situava a taba do Cacique Guaraé.

Tais povinhos (Velho e da Entrada) têm estreitas relações com a Redução de Santa Teresa, que desapareceu pela a ação nefasta dos bandeirantes paulistas, em 1637.

O Vocabulário do Estado do Rio Grande do Sul, publicado em 1940, registra. “Povinho - lugarejo na nascente do rio Capigui” (município de Passo Fundo).

O historiador Francisco A. Xavier e Oliveira, quando faz uma análise sobre o Município de Passo Fundo no ano de 1908, descrevendo os rios existentes no território, ao rio Taquary disse:

“O rio Taquary nasce na Coxilha do “Povinho da Entrada” e logo depois entra na serra de seu nome...”

Portanto as denominações Campo do Meio e Mato Castelhano, estas pertencentes ao município de Passo Fundo, até bem pouco tempo, juntam-se ás denominações Povinho Velho e Povinho da Entrada (este desaparecido), constituindo os lugares mais antigos, que se tem notícia, do primitivo território de Passo Fundo.