Poetas Farroupilhas Exemplo para poetas de hoje
Poetas Farroupilhas Exemplo para poetas de hoje
Em 31/08/2014, por Paulo Domingos da Silva Monteiro
Entre setembro de 1835 e março de 1845 o atual Estado do Rio Grande do Sul esteve envolvido pela mais lona das revoluções liberais brasileiras: a Revolução Farroupilha. Milhares de vidas foram ceifadas e o governo central mobilizou milhares de homens e até mercenários estrangeiros para evitar a sessão da Província.
Enquanto lutavam por aquilo que entendiam serem seus direitos poetas - não apenas rio-grandenses de nascimento - empunhavam aramas numa das mãos e a pena na outra, escrevendo poemas como este, de Sebastião Xavier do Amaral Sarmento, descrevendo um "caramuru", epíteto atribuído aos imperiais:
Oposto sempre ao justo bem geral,
Sem caráter, sem brio e sem valor,
Com os olhos fitos num cruel senhor,
Do qual à sombra fazer possa o mal;
Atrevido e cobarde, sem moral,
Indiscreto, estouvado palrador,
Acérrimo feroz caluniador
De qualquer patriota liberal;
Errando sempre no sistema seu,
Sempre com medo de que leve "um vu",
Pelo mal que mil vezes cometeu:
Eis aqui o retrato nu e cru,
Que a verdade utilíssima nos deu
De um corcunda, ou servil caramuru.
Ou este outro soneto de Antônio Manuel Corrêa da Câmara, outro farroupilha, firme no combate e firme como poeta: Soneto
Esbraveje a calúnia; a inveja ardida,
Os olhos vesgos seus torça raivosa;
Que a palma do triunfo gloriosa
A Pátria te conceda agradecida.
Tinta da cor do Inferno, a face infinda,
O vil caramuru mande aleivosa,
Contra o Fado teu abominosa,
Cruel imprecação aos céus erguida.
Da seva, imperial escravatura;
(Do pérfido galego sócia dina)
Teu Gênio insigne os Planos desfigura.
Removes da Nação sorte mofina;
Crias valor, que o crédito assegura;
Salvas o Povo c'uma Lei Divina.
Quando releio esses poemas, escritos há mais de sento e sessenta anos, por poetas armados, no sentido literal da expressão e comparo com certas publicações de poetas contemporâneos, neste período eleitoral, entristeço-me. Homens - e mulheres - que criticam a corrupção que a si mesmo se consideram luminares das letras pátrias - que não usam sua arte para defender suas ideias, mas acabam se nivelando nos mesmos vícios que combatem. É triste, é muito triste, ver tanto desperdício de talento!