Para ler o texto de Raschin Amelê

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Para ler o texto de Raschin Amelê

Em 29/09/2014, por Raschin Amelê


A primeira frase engana. Não há pornografia e nem mesmo erotismo em Demônio de Mulher.  Raschin Amelê reduz o que deveria ser um romance de centenas de páginas a uma curtíssima novela. Para tanto, retrata através de fragmentos a vida de uma bela mulher criada em abandono numa favela.

O que fazer? Entregar-se como prostituta aos muchos machos hombres? Ou lutar com pedra na mão como os meninos da vila?


Evolução da Personagem

No Posto

O texto inicia bombástico, bizarro, bélico. Porém, finaliza com “...vontade de chorar. Muita vontade”.

Na Noite Escura

A personagem enfrenta homens com soqueira, dorme com faca embaixo do travesseiro. À noite, sozinha na sua meia-água, noite escura com garoa, sente a indiferença do mundo e questiona seu comportamento.

No Acampamento

Precisa ainda se afirmar como capaz de enfrentar todo e qualquer bando de homens machos. E enfrenta! Depois, identifica-se com o cavalo correndo “encharcado, perdido, sem rumo”.

Na Estrada

Numa lancheria à beira da estrada, da estrada da vida, verbaliza seu drama. Sua vida tem sido, até então, apenas e somente uma luta para não se tornar prostituta.

Na Ponte

No lugar mais distante de sua cidade,  e de sua vida, percebe estar no caminho e na posição errada. “Fique embaixo de uma macieira na primavera e não verá nenhuma maçã. Nem conseguirá uma balançando ou subindo na árvore”.

Na Barca

A personagem percebe em si o desejo de se apaixonar. Como Tomagra, personagem de Ítalo Calvino que acaba de ler, sonha um encontro. Timido encontro, com gestos separados da consciência. O ambiente reflete seu quase pânico interior: as ondas batem fortes nas vidraças da barca. A chuva cai torrencial e há um assustador ratabraam!

No Pesadelo

No sonho revela o desejo de superar a fase (necessária) do enfren-tamento. A Kninana é degolada (as cobras não são mortas assim?). Porém, sente pânico ao ver-se sem essa identidade. Mas segue em sua evolução e enxerga um homem com outro olhar. E quem sabe, pela primeira vez, percebe vantagem em ser vista como “mulher tão linda”.  Os doces que havia comprado em Pelotas? “Deu todos para as crianças da vila”.

Na Praça e Na Festa

Ela mesma se enfeita para o seu casamento. Aprendera a ser só. Festa sem convidados. Pode confiar que o marido não é um mucho macho? Encontrou finalmente “um cara com pau grande de verdade?!” Poderá se chamar de Nana e não mais Kninana?

Tranquiliza-se: “Ninguém abre mão de habiliddes aprendidas”.

O EDITOR