Os imigrantes de Sarandi
Os imigrantes de Sarandi
Em 30/04/2004, por Santo Claudino Verzeleti
Os imigrantes de Sarandi
SANTO CLAUDINO VERZELETI
A história das migrações é um romance de vida, de lutas e sacrifícios humanos, porém revestido de alegria e amor.
Um dos mais expressivos valores comunitários entre os migrantes era o de se ajudarem gratuitamente, quando necessário, especialmente na construção de suas moradias. Inácio Giordani foi o primeiro grande incentivador da colonização de Sarandi, junto com o Pe. Eugênio Medicheschi. A Companhia Colonizadora Gomes, Silva e Cia assumiu a responsabilidade de colonizar aquela região com o respaldo do intendente de Passo Fundo, Dr. Nicolau de Araújo Verguerio, homem de confiança do Presidente do estado, Antônio Borges de Medeiros, líder dos chimangos. Enquanto isso, um dos primeiros moradores da Linha Lajeado Seco, Antônio Delarmelin, em 21 de janeiro de 1928, através de recibo da "Colônia Sarandi", adquiriu, em nome de Guerino Verzeleti, uma colônia de terras para seu filho Herculino. Em 15 de abril de 1939, Guerino Verzeleti, solicitou a Delegacia de Polícia de Santa Tereza, autorização de salvo-conduto, com destino a Júlio Mailhos (Sarandi), para visitar um de seus filhos e as terras adquiridas.
Quando o fluxo dos povoadores das novas terras de Sarandi começou a tomar vulto, os Maragatos de Palmeira, que faziam oposição ao governo de Antônio Augusto Borges de Medeiros, iniciaram uma "guerra sem quartel" contra a Companhia Colonizadora e os agrimensores. Houve muitos choques entre maragatos e chimangos.
Aqueles eram partidários de Assis Brasil, e estes, de Borges de Medeiros. Os maragatos agiam como "posseiros". Perseguiam os colonos, invadiam as terras, matavam, saqueavam e espalhavam o terror. Os chimangos, por sua vez, não se intimidavam e revidavam os ataques dos adversários. Eles tinham o respaldo do intendente de Passo Fundo, Nicolau de Araújo Vegueiro, e da Brigada Militar. Já o intendente tinha a proteção do Presidente do estado, Antônio Augusto de Medeiros.
O setor que nos interessa é a Coluna Norte, comandada pelo General Leonel Rocha. Ela abrangia Palmeira, Cruz Alta, Passo Fundo e Erechim. Entre Palmeira e Passo Fundo situava-se Sarandi que foi palco das lutas dos maragatos de Palmeira e, outras vezes, da Brigada de Passo Fundo. A companhia Colonizadora tinha a proteção do prefeito de Passo Fundo, o Dr. Vergueiro, e do Presidente do estado que dispunha da Brigada Militar. Assim Sarandi ficava entre dois fogos, o de Palmeira e o de Passo Fundo. A briga era entre maragatos e chimangos, e os italianos no meio dessa refrega política de caciques, uma vez que os maragatos de Palmeira defendiam os posseiros e intrusos que ocupavam e invadiam parte das terras da Fazenda Sarandi, que eram as colônias que estavam sendo vendidas pela empresa colonizadora. Os maragatos chegaram a oferecer duas colônias para quem matasse um agrimensor. E a melhor maneira de ficar neutro, para os italianos era não se meter em briga de posseiro. "Beati i ultimi se i primi gavesse un bon schopeton" (os últimos se os primeiros não tivessem uma boa espingarda).
Com a Revolução de Trinta, muitos boatos surgiram entre as façanhas e estripulias lá pelas bandas da Palmeira. Todos temiam quando se mencionava ou dizia que alguém da Palmeira estava de passagem pela região. Na certa haveria encrenca da grossa. Todos conheciam a fama de Valzomiro Dutra, em Barreirinho, Lajeado Seco, Cachoeira Branca, Rondinha, Beira Campo, no caminho entre Sarandi e Passo Fundo.
Quando Getúlio Vargas tomou posse no Rio de Janeiro, como chefe de governo provisório, na vitória da revolução de 1930, no episódio paulista, todos pensavam que o grande vencedor era Valzoviro Dutra, da Palmeira, isso porque alguém, para confirmar, mostrou uma foto de um grupo de soldados, que atava os cavalos no obelisco da Avenida Rio Branco. A idéia se espalhou por toda a região, dando ênfase à fama do homem. Foi daí que tiveram origem a fama e o respeito do pessoal da Palmeira, muitos dos quais fizeram uso de tais bravatas para se promover como valentões e impor respeito aos pobres migrantes daquela região.
Foi assim que filhos das terras velhas povoaram o Planalto Médio. As dificuldades não eram diferentes daquelas dos primeiros imigrantes, só com a vantagem de terem melhores recursos e estarem mais próximos das pequenas cidades que possuíam todas as condições de auto-sustento.
Os transportes eram precários, mas com estradas em condições razoáveis de atingir os centros comerciais, propiciando o deslocamento dos produtos agrícolas.
As famílias, com numerosos filhos, proviam condições para o desmatamento, o amanso da terra e o plantio dos cereais.
As casas, construídas, aproveitavam a araucária abundante na região, erguendo cada colono sua casa com a ajuda da vizinhança. O trabalho compreendia desde o alicerce de pedra, que propiciava um bom porão para os dias quentes e frios, até a cobertura feita com tabuinhas lascadas. A natureza lhes proporcionava todas as condições de sobrevivência, tanto frutos silvestres como peixes, em abundância em nossos rios. A caça na região era variada: pacas, tatus, veados e aves de milhares de espécies.