Os 90 anos da Revolução de 1923 (Final)
Os 90 anos da Revolução de 1923 (Final)
Em 03/05/2013, por José Ernani de Almeida
Os 90 anos da Revolução de 1923 (Final)[1]
por José Ernani de Almeida[2]
No momento em que Borges de Medeiros assumiu o cargo em Porto Alegre, pela quinta vez consecutiva, em janeiro de 1923, os oposicionistas iniciaram o movimento armado, que teve inicio na serra, liderado pelo deputado Artur Caetano. Logo foi seguido pelos caudilhos Felipe Portinho, Leonel Rocha, Zeca Neto e Honório de Lemes. Despreparado para enfrentar a revolução, o governo mobilizou os contingentes da Brigada Militar e procurou formar os “Corpos Provisórios”, que foram chefiados por Flores da Cunha, Oswaldo Aranha, Getúlio Vargas, Paim Filho e Firmino de Paula, entre outros. As forças legalistas, segundo relatos da época, não abraçaram a causa com muito entusiasmo. Afinal, era grande a simpatia do povo para com os rebeldes. Certa vez, segundo uma piada corrente na época, o coronel Francelísio Meireles, chefe legalista de Encruzilhada, tentou organizar um “Corpo Provisório”. Reuniu os oficiais e sargentos e lhes deu ordem de arregimentar a tropa. Uma noite depois, chegou um dos argentos e disse: “Coronel, os voluntários estão aí fora”. “Mande-os para o pátio da Prefeitura, que amanhã providenciaremos o engajamento”. E o sargento perguntou: “Desamarro os homens ou os deixo mesmo amarrados?”.
Diante do pouco empenho das tropas gaúchas, Borges de Medeiros contratou o caudilho uruguaio Nepomuceno Saraiva e quinhentos mercernários. A participação dos “orientais” como legalistas aumentou o ódio da oposição, que denunciou nacionalmente: “A pata do cavalo castelhano viola o solo riograndense”. A animosidade contra os uruguaios chegou a tal ponto que, quando um soldado de Nepomuceno era preso,os revolucionários o obrigavam a falar a palavra “pausito”. Se o som saísse gutural, com a pronúncia castelhana, o prisioneiro era degolado. Assim de janeiro a julho, os rebeldes fizeram uma grande ofensiva. Cidades do interior, como Piratini, Canguçu, Camará, Alegrete, Pelotas e Passo Fundo caíram nas mãos dos libertadores. Aqui em Passo Fundo Borges tinha grandes aliados.
Entre eles, Nicolau de Araújo Vergueiro e Armando de Araújo Annes. O primeiro foi chefe político e intendente de Passo Fundo no período em questão. Seu grande prestígio pode ser confirmado nas páginas de O Nacional da época. O jornal, em várias edições, noticia a atuação do político. Numa delas, encontramos a noticia da visita do presidente eleito Washington Luis (1926) a Passo Fundo, como agradecimento pelo apoio recebido de Nicolau Vergueiro na região. Aqui as vitórias do PRR sempre foram esmagadoras. Aliás, o norte gaúcho foi a região responsável pela manutenção do poder do Partido Republicano Riograndense no Estado. O governo federal, embora oficialmente tenha tomado uma posição de neutralidade, às escondidas repassou armamentos e munições aos legalistas.
Os historiadores são unânimes em afirmar que a revolução de 1923 não repetiu o barbarismo que houve na de 1893. Havia um pacto de respeito e as famílias eram poupadas quando os maragatos tomavam uma cidade. Ao tomarem uma cidade, empossavam um novo intendente, queimavam todos os documentos e tiravam da parede o retrato de Borges de Medeiros. Prefeituras de vários municípios do estado ficaram sem nenhum registro anterior a 1923. Em outubro de 1923, aproveitando-se da situação favorável aos revolucionários, o ministro da Guerra, Setembrino de Carvalho, viajou a Porto Alegre, a fim de conseguir que as partes beligerantes firmassem um acordo de paz.
O que acabou acontecendo no dia 14 de dezembro de 1923, quando na fazenda de Pedras Altas, residência de Assis Brasil, chefe dos libertadores, foi assinado um tratado que reformou o artigo 9 da Constituição Estadual, proibindo a reeleição do presidente para o período seguinte. Assim, mesmo sem vencer militarmente, os libertadores conseguiram impor todas as suas exigências, exceto a demissão imediata de Borges de Medeiros. Nem todos os revolucionários ficaram satisfeitos com a barganha. Sabia-se que Zeca Neto, líder revolucionário no sul do estado, deixara crescer a barba e as unhas, e assim como ele outros rebeldes haviam feito o mesmo juramento de não mais se barbear enquanto Borges não renunciasse ao governo. Com o pacto, tiveram de rever a promessa. As especulações sobre quem seria o próximo presidente do estado começaram em seguida. Getúlio Vargas logo se destacou no topo da lista dos aspirantes ao cargo, o que acabou se confirmando.