O retorno de Brizola: em busca da restauração do legado trabalhista (1979)
O retorno de Brizola: em busca da restauração do legado trabalhista (1979)
Em 2019, por Alex Antônio Vanin e Roberto Biluczyk
Alex Antônio Vanin[1]
Roberto Biluczyk[1]
Durante a história republicana brasileira, a configuração dos partidos políticos se deu de maneira distinta. Enquanto na Primeira República (1889-1930), eles estavam organizados no âmbito dos Estados, após o fim da ditadura do Estado Novo (1937-1945) as agremiações apresentavam caráter nacional, na forma conhecida nos dias de hoje.
Entre as diversas siglas, três se destacavam: a União Democrática Nacional (UDN) trazia um discurso contrário às políticas implantadas ao longo de quinze anos por Getúlio Vargas (1882-1954). Por sua vez, o Partido Social Democrático (PSD) e o Partido Trabalhista Brasileiro (PTB) buscavam a defesa do legado do presidente de origem sul-rio-grandense.
Como o próprio nome sugere, a principal bandeira do PTB estava diretamente relacionada ao trabalhismo, conjunto de medidas utilizadas por Getúlio Vargas enquanto presidente para conquistar o apoio da classe trabalhadora urbana. Foi por esse partido que o mandatário reassumiu as funções presidenciais, em 1951, dentro do jogo democrático, sendo assim eleito pela maioria da população.
Após a morte de Getúlio, em 1954, outros políticos buscaram defender o ideário trabalhista, dentre os quais João Goulart, o Jango (1919-1976), que exerceu a função de Ministro do Trabalho e garantiu duas eleições para Vice-presidente, em 1955 e 1960. Cabe salientar que, naquele período, Presidente e Vice eram eleitos separadamente pelo voto.
Com a renúncia do Presidente Jânio Quadros em 1961, o direito de Goulart assumir a presidência foi contestado pelos ministros militares. Assim, Jango, que se encontrava em viagem oficial à China, ganhou uma rede de apoiadores pela legitimidade de sua posse: o Movimento da Legalidade, comandado por Leonel Brizola, então governador do Rio Grande do Sul.
Leonel de Moura Brizola, nasceu em 1922 na localidade de Cruzinha, então pertencente a Passo Fundo – hoje, parte do município de Carazinho. Com a Legalidade, ganhou projeção nacional, mudando-se mais tarde para o Rio de Janeiro a fim de continuar sua carreira política na antiga capital. Casado entre 1950 e 1993 com Neusa Goulart Brizola, era, portanto, cunhado de Jango. Após o golpe de 1964, que depôs Goulart e instalou a Ditadura Militar no Brasil, exilou-se em três países diferentes: Uruguai, Estados Unidos e Portugal.
Em 23 de agosto de 1979, O Nacional noticiava a aprovação pelo Congresso da Lei da Anistia, a qual seria sancionada pelo presidente João Figueiredo, cinco dias mais tarde. Dessa forma, seria possível ao político retornar ao país. A volta de Brizola causou intensas movimentações, uma vez que ele buscava reorganizar o PTB. Entre 1965 e 1979, o Brasil contou com apenas dois partidos: a Aliança Renovadora Nacional (ARENA), atuante na defesa da Ditadura Militar, e o Movimento Democrático Brasileiro (MDB), o qual reunia opositores ao regime.
Correligionários já manifestavam apoio a Brizola junto à sociedade. O contexto era de greves de trabalhadores nas mais diferentes áreas. Em 06 de setembro daquele ano Brizola voltaria ao país, iniciando caravana pelo Rio Grande do Sul. Com previsão inicial de vir a Passo Fundo no dia 11, o político não esteve na cidade naquela ocasião, em razão de contratempos.
Diante de uma disputa política que envolvia a reorganização do PTB, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) concedeu os direitos da sigla, em maio de 1980, para Ivete Vargas, uma sobrinha-neta de Getúlio Vargas que liderava um grupo independente, pouco afinado com o ideário sustentado por Brizola.
Anos após sua extinção, a sigla continuava dotada de capital simbólico junto ao povo brasileiro. O fato de Brizola não ser o reorganizador do partido foi interpretado pelo político como a efetivação de uma manobra governamental, uma vez que os militares não se interessavam pelo retorno político do trabalhismo. Após isso, Brizola decidiu fundar um novo partido, o Partido Democrático Trabalhista (PDT), o qual liderou até a sua morte, em 2004.