O palácio da Maróca

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O palácio da Maróca

Em 2010, por Helena Teston


O palácio da Maróca[1]

Helena Teston[2]

Nas décadas de 40 e 50 quem nunca ouviu falar da Maroca, Olívia, Maria Bigode, Maria Preta, Seu Flores... Eles eram personagens importantes da noite passo-fundense. Na rua XV de novembro se localizava a área do meretrício, um lugar de alto nível e muito organizado. Não era qualquer homem que poderia desfrutar de seus atrativos.  Nessa mesma rua, entre a Independência e a General Osório era onde se encontravam as melhores casas para se divertir. Na esquina da General Osório, nº 1231 funcionava o Cassino da Maroca.

Ele era o melhor lugar para passar a noite. Tanto para os homens da cidade, como os que passavam por aqui devido aos negócios. Passar a noite em Passo Fundo e não conhecer a Rua XV de novembro era intolerável. Dona Maroca não se descuidava quando o assunto eram os atrativos oferecidos: havia roleta, sala de jogos, carteado, salão de danças, palco para os shows, restaurante. Apesar de ser um lugar considerado imoral por toda a sociedade, vale ressaltar que gerou empregos para a cidade, pois precisavam de garçons, cozinheiros, músicos, faxineiras, lavadeiras, cabeleireiros, modistas... e é claro os taxistas. Eles deveriam ter tantas histórias pra contar, de homens da alta sociedade que se perdiam por ali, dos forasteiros que precisavam ser carregados de tão alcoolizados que estavam e até mesmo dos homens que se apaixonavam pelas lindas mulheres da casa. E em relação a elas, todas as recordações descrevem mulheres estonteantes. Elas eram em sua maioria vindas da Argentina e do Uruguai e seu contrato era renovado de 30 em 30 dias (contratadas como auxiliares do lar) para que não criassem vínculos com os freqüentadores. Isso ajudava na fama do Cassino, pois sempre havia novas mulheres. Vestiam-se muito bem e usavam jóias que não deixavam nada a desejar se comparadas com a das mulheres de família da alta sociedade. O lugar era tão requintado que para embalar as noites, grandes orquestras se apresentavam lá, vindas de Buenos Aires. Em especial a famosíssima orquestra do maestro Estevão Zabalias. O Cassino inspirava curiosidade não só das moças de família, mas como dos homens delas também. Tanto é, que de ouvir sua avó contando sobre os acontecimentos de lá, a artista plástica Ruth Schneider fez uma série de quadros em homenagem ao lugar. O auge do Cassino foi no período do fim e pós Segunda Guerra, quando havia forte contrabando de pneus na região.

Em 1946, Dona Maroca alugou o lugar, e os novos administradores não devotaram ao lugar os mesmos cuidados que ela, e aos poucos o brilho foi se perdendo.

Em 1955 às vésperas do centenário da cidade, toda a sociedade passo-fundense apoiou a campanha para que a área do meretrício saísse do meio urbano. Em 1956 as casas começaram a se mudar, já que novos alvarás não foram expedidos, dando seu lugar para que famílias residissem ali. De tal modo teve fim o Palácio da Maroca.

Durante a época da Ditadura Militar funcionou no prédio o DOPS (Departamento de Ordem Política e Social), passou mais alguns anos sem utilização para depois servir de sede ao CIST (Comunidade Internacional de Saúde aos Trabalhadores). Nos últimos anos vem sendo habitado por usuários de drogas, que amedrontam a vizinhança.

O Cassino da Maroca foi um lugar de grande importância na vida social passo- fundense. Seu prédio, hoje abandonado, deveria ser tombado como patrimônio histórico da cidade. Mas, nós bem sabemos qual é o seu destino, como o de tantos outros prédios antigos e importantes desta cidade: a demolição.

Referências

  1. Fonte e Imagem: Acervo AHR - * O AHR destaca que os artigos publicados nessa seção expressam única e exclusivamente a opinião de seus autores.
  2. Acadêmica do 5º nível do Curso de História.