O padre que nunca foi pároco

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O padre que nunca foi pároco

Em 30/04/2012, por Paulo Domingos da Silva Monteiro e Gilberto Rocca da Cunha


Entrevista Padre Alcides Guareschi - O padre que nunca foi pároco


“O período, entre 1970 e 1980, foi o da construção da Universidade de Passo Fundo, que se consolida em 1982. Entre este último ano e 1998, fui reitor, sempre com eleição direta da comunidade escolar. Enfrentei a oposição de grupos que queriam administrar a Universidade, o que é legítimo. Os mandatos eram de quatro anos. Só não enfrentei oposição em uma eleição, porque racharam. Quando deixei a Reitoria, fiquei mais dois anos na UPF. Apesar de toda a competição entre universidades e faculdades isoladas, na região, a UPF está crescendo. Não diminui o número de alunos. No futuro, em Passo Fundo, permanecerão as instituições de ensino que têm qualidade.”

E lydo Alcides Guareschi é um padre católico, por vocação e formação. Não obstante, no auge dos seus 81 anos de existência, ter vivido na plenitude da sua fé religiosa, como educador religioso de base, sacerdote, vigário capitular e membro de tribunal eclesiástico, esse homem, que exerceu tantas funções ligadas à Educação e à Igreja Católica, em Passo Fundo, nunca foi um pároco, na essência da palavra. Foi professor, dirigente universitário, e o magnífico reitor que, por mais tempo, dirigiu a Universidade de Passo Fundo (quatro mandatos), além de ter sido secretário municipal de educação e executivo de um complexo de comunicação.

Para falar um pouco da sua vida, mas acima de tudo do seu legado, o padre Elydo Alcides Guareschi, ou simplesmente padre Alcides, como é mais conhecido pelos passo-fundenses, recebeu, no final da tarde do dia 26 de fevereiro de 2012, na casa onde atualmente reside, nos altos do Bosque Lucas Araújo, os acadêmicos Paulo Monteiro e Gilberto Cunha. O resultado dessa conversa, de quase quatros horas, foi uma entrevista histórica, reveladora da construção do desenvolvimento atual de Passo Fundo que, sem qualquer dúvida, está muito atrelado à Universidade de Passo Fundo.

E, depois de lidas estas páginas, ninguém mais ignore que, para gozar do status atual, de instituição modelar em educação, a Universidade de Passo Fundo contou, entre os seus artífices, com a dedicação, o entusiasmo, o trabalho e a competência do padre Elydo Alcides Guareschi.

APL – Fale-nos sobre sua família e sua infância...

Padre Alcides – Meu nome de batismo é Elydo Alcides Guareschi. Nasci em Colorado, no dia 26 de fevereiro de 1931. Na época, era Boa Esperança, distrito de Passo Fundo, que, logo depois, foi incorporado ao município de Carazinho. Mais tarde, se emancipou e mudou o nome para Colorado. Não sei o que havia de fascismo, em Boa Esperança, para mudar de nome. Meus pais tiveram dez filhos (cinco homens e cinco mulheres). Toda a nossa família era de agricultores do norte da Itália, de onde veio meu bisavô, Pietro Di’Stéfano, que se estabeleceu em Garibaldi, onde permaneceu ao redor de 30 anos. Depois veio para Passo Fundo, que era tudo naquela época. Aqui fundou Garibaldina, hoje Linha Garibaldi, que pertencia a Não-Me-Toque. Na Itália ficaram irmãos do bisavô. Lá existe um centro cultural que preserva a obra do escritor Giovannino Guareschi. Ele ficou famoso, contando a história de Dom Camilo e Giuseppe Bottazzi, vulgo Peppone. O primeiro é um padre e o segundo um prefeito comunista, vivendo em constante briga. Mas, no fundo, eram bons amigos. Alberto Guareschi, filho de Giovanino, continua a tradição de escritor. Até hoje mantemos contato com nossos parentes na Itália.

APL – O Senhor é o único de sua família que seguiu a carreira religiosa?

Padre Alcides - Eu sou padre e minha irmã, Maria Alcídia Guareschi, pertence à Congregação de Notre Dame, da qual é vice-superiora geral. Atualmente mora em Roma e viaja pelo mundo todo, onde a Congregação está presente.

APL – E sua formação educacional? Como foram seus primeiros estudos?

Padre Alcides - Fiz o curso primário no interior de Boa Esperança. Era uma escola unidocente, com todas as séries estudando juntas, e com a mesma professora. O seu nome era Fernanda, uma excelente professora. Um dia me chamou no intervalo e perguntou se eu não queria ir para o seminário. Dei a entender que sim. Falou com meus pais e fui para o seminário da Diocese de Santa Maria. Eram padres vindos da Alemanha e da França, com excelente nível cultural. Ensinavam-nos a ser disciplinados. Gostei do ensino de francês, que me valeu muito quando comecei a lecionar na Faculdade. Não vejo formação desse mesmo nível, nas escolas de hoje, mesmo nos seminários. Estudávamos latim e os professores ensinavam em latim. As missas também eram rezadas em latim. Quem veio com a experiência desse idioma estranhou quando passaram a ser rezadas na língua nacional. Ginásio e colégio, correspondente ao atual Ensino Médio, era o Seminário Menor. O professor de Português cobrava redação e leitura. No tempo da guerra (Segunda Guerra Mundial), tinha um mapa grande no pátio onde acompanhávamos a evolução da guerra, diariamente.

APL – Houve perseguição aos descendentes de italianos e alemães durante a II Guerra Mundial?

Padre Alcides - Em Santa Maria, uma cidade de ferroviários, com sindicatos atuantes, sentíamos perseguição, por causa dos padres, que eram professores alemães. Uma noite enchemos de pedras nossos quartos, que ficavam num andar superior, para nos defendermos de algum ataque. Todos recebemos um comunicado: Armando Câmara e Adroaldo Mesquita da Costa, apoiados pela Liga Eleitoral Católica, estariam em Santa Maria, e deveríamos participar do comício. Gritávamos, liderados por um seminarista alto, palavras de ordem. Foi a primeira vez que estive presente num comício.

APL – Como foram os seus demais estudos?

Padre Alcides - Depois fui para o Seminário Central de São Leopoldo. Fomos a última turma, antes que ele se transformasse na UNISINOS. É uma Universidade interessante, que ainda conserva um museu com livros e materiais didáticos dos tempos antigos. Ali concluí o Seminário Maior. Foram três anos de Filosofia e quatro de Teologia.

APL – E a maturação que tornou padre aquele menino do interior de Colorado?

Padre Alcydes - Essa maturação do menino acontecer ao natural. Havia alguns que entravam em crise, e boa parte abandonava o seminário. Naquele tempo, não tínhamos muito contato com o mundo. Não era como hoje, que os seminaristas moram em casas distantes dos seminários, e estão inseridos nas comunidades. A mim me parece que essa definição do sacerdócio foi muito natural. Os jesuítas que trabalhavam com os teólogos falavam, livremente, das dificuldades do sacerdócio. O modelo atual é melhor, até porque não tínhamos muita liberdade de conviver com a sociedade. Nossos seminaristas de hoje convivem com a sociedade. O importante, na formação dos jovens para o sacerdócio, é que a preparação de hoje é correta. Minha opção pelo sacerdócio também foi correta. Se eu tivesse esposa, não teria tido a oportunidade de fazer as coisas que fiz. A decisão pelo sacerdócio era tomada no último ano do Seminário. Daqueles que iniciaram no Seminário Menor, apenas 30% devem ter chegado ao sacerdócio. Foi pena, porque a maioria empobreceu culturalmente. Reencontrei muitos deles trabalhando como simples colonos.

APL – O Senhor teve uma das participações mais destacadas, na história do ensino e dos movimentos católicos em Passo Fundo e região. Como tudo isso começou?

Padre Alcides - Toda a Teologia orienta o candidato, para a atividade pastoral como padre. Fomos educados para viver praticamente sozinhos, cada um por si, numa paróquia do interior. Não tínhamos muita oportunidade de decidir, porque quem decidia era o Bispo da diocese. Dom Cláudio Colling determinou que eu trabalhasse na Catedral, com o padre José Gomes, que depois foi bispo, e a seguir que lecionasse na Faculdade de Filosofia. Encontrei dois padres que me ajudaram muito, padre José Gomes e padre Jacob Stein. Nunca fui pároco. Fiquei cinquenta e poucos anos na Catedral, ministrando os sacramentos. O padre José Gomes me disse que havia necessidade de introduzir o ensino religioso nas escolas públicas. Fiz algumas visitas, me entrosei e passei a dar aula na EENAV e no Protásio Alves, da forma que hoje se chama atividade comunitária. Também ajudei a organizar os movimentos de ação católica: JOC (Juventude Operária Católica), JUC (Juventude Universitária Católica), JAC (Juventude de Ação Católica), JEC (Juventude Estudantil Católica, secundarista) e JIC (Juventude Independente Católica). Comecei com a JEC, e acabamos mobilizando todas as escolas. Não havia cinema na cidade. E a JEC organizou cineclubes, especialmente com filmes italianos, que eram apresentados, seguindo-se de debate. Em Passo Fundo, no começo da década de 70, quando Dom José Gomes foi para Bagé, assumi a JUC e a direção da Faculdade de Filosofia. Nessa época, fui para um congresso da JUC em Natal. A entidade se caracterizava por uma mobilização católica. Betinho era um dos líderes. A discussão sobre as reformas de base foi bastante acalorada. Todos eram contra as injustiças. Revolução, para muitos, era a transformação da sociedade, por métodos pacíficos. Fidel e Chê eram os grandes ídolos do momento. Depois vimos que muitos defensores e3 ações violentas foram para a AP/ML. Esse período, de grandes discussões, também discutiu sobre o divórcio.

APL – Fale sobre seu trabalho como professor e dirigente da Universidade de Passo Fundo...

Padre Alcides - Fui lecionar na Faculdade de Filosofia. Precisei rever minha Filosofia (a escolástica), que aprendi no seminárior, estudando para ensinar na Faculdade. Foi então que estudei Maritain, Jasper, Jolivet... O francês que aprendi no seminário me salvou. Acabei envolvendo-me com a Filosofia. Algum tempo depois, o Consórcio Universitário Católico e a Sociedade Pró-Universidade de Passo Fundo (SPU) acabaram envolvidos numa crise política. Reyssoli José dos Santos usava a SPU para fazer sua campanha para deputado federal. O filho dele, promovendo campanha no interior, sofreu um acidente com o carro da SPU.

Pouco depois do golpe de 1964, houve intervenção na Sociedade, o que significou um atraso para a evolução do ensino superior. Dirigentes foram afastados e as verbas foram cortadas, entre outras medidas. Então surgiu o projeto para a estadualização da SPU, e a criação de uma universidade estadual em Passo Fundo, que acabou barrada pelo Conselho Federal de Educação. O governador Ildo Meneghetti chamou D. Cláudio Colling, para assumir o ensino superior em Passo Fundo.

O bispo não aceitou, mas se predispôs a negociar com os grupos envolvidos. Essa atitude levou ao diálogo entre as partes, o que fez com que todos se unissem, culminando com a criação da Universidade de Passo Fundo. Assim sendo, vinclulei-me ao Curso de Direito. Como ali houve mais resistência à união entre o Consórcio e a SPU, a fim de quebrar o gelo, decidimos que alguns padres iam cursar Direito. E foi altamente proveitoso, pois conseguimos aparar as arestas.

APL – Muito se fala, à boca pequena, que a Maçonaria teria suscitado o movimento pela criação da Universidade de Passo Fundo. O que o Senhor pensa sobre isso?

Padre Alcides - Não há documento ou testemunho sério sobre a influência da Maçonaria da época, na criação da Universidade. Falei até com o Dr. Murilo Annes, que era maçom, e ele negou qualquer ação maçônica organizada, objetivando a criação da instituição.

APL – Quando houve a unidade entre a Sociedade Pró-Universidade de Passo Fundo e o Consórcio Universitário Católico, o processo de fusão foi tranquilo?

Padre Alcides - Nós, padres, fomos bem recebidos em toda a região. O próprio Walter Graeff, de Carazinho, recebeu-nos muito bem, o que favoreceu a integração. Foi preciso reorganizar tudo. Houve uma grande mobilização. Assumi a presidência da Sociedade Pró-Universidade de Passo Fundo (que mantinha a Faculdade de Direito), a convite do professor Murilo Annes. Foi muito trabalhoso. Com a criação da Fundação Universidade de Passo Fundo, em 1967, e a criação da Universidade em 1968, as coisas praticamente serenaram.

APL – Dom Cláudio Colling é uma verdadeira esfinge na história recente de Passo Fundo. O Senhor, que conviveu muito com ele, e que até o substituiu, temporariamente, como vigário capitular, como o vê?

Padre Alcides - Dom Cláudio enxergava na frente. O Consórcio Universitário Católico foi criação dele. Depois, foi para a Alemanha atrás de apoio para a Faculdade de Medicina. Tinha imensa habilidade política. Certa feita, estavam presentes em Erechim, o presidente Juscelino Kubitschek e seu vice, João Goulart. Dom Cláudio pegou o processo de criação da Faculdade de Filosofia. Foi à cidade vizinha e disse para o presidente da República que precisava da assinatura dele naquele processo. Juscelino assinou e depois enviou-o, pelo então deputado federal Daniel Dipp. O bispo não era de tomar decisões atropeladas. Ouvia muitas pessoas, mas se queria brigar, brigava.

APL - Murilo Annes, Bruno Markus e Alcides Guareschi... a impressão que se tem é que formavam uma tróica...

Padre Alcides - Éramos uma equipe: Dr. Murilo Coitinho Annes, Dr. Bruno Edmundo Markus e eu. Fomos uma geração. Na Universidade, uma geração se mede por trinta anos. Foi a geração que comandou o movimento de criação e consolidação do ensino superior, da década de cinquenta até o ano dois mil.

E essa geração só se manteve, graças ao apoio dos professores, que decidiram afastar qualquer interferência político-partidária, na UPF. A nossa união foi consequência do sofrimento que enfrentamos nesses anos. Enquanto as cidades da região começavam a crescer, nós regredíamos, devido à concentração de poder. Saímos da crise mais fortes.

APL – Todo começo é difícil. Como foi, depois da unidade, a consolidação da Universidade de Passo Fundo?

Padre Alcides - A fase mais complicada foi a da implantação da Universidade. Nunca criamos tantos cursos quanto na década de setenta, totalizando trinta e dois. Nessa época, começamos a discutir um novo modelo de universidade: a universidade comunitária. Até então havia dois modelos: público e privado. Com o apoio de filósofos, começamos a pensar junto com outras universidade, que nos ajudaram a discutir um novo modelo. Iniciamos elegendo os dirigentes e aproximando-nos da comunidade.

A URI (de Erechim) surgiu a partir do campus da UPF. Era a materialização de universidades nascidas da comunidade, como a própria UPF, que surgiu a partir do Consórcio Universitário Católico e da SPU. Esse modelo nos aproximava da universidade federal. A agilidade administrativa aproximava da universidade privada. Envolvemos na proposta, o Ministério da Educação e Cultura (MEC), que acompanhou a ideia.

APL – E as ligações das universidades comunitárias com os órgãos governamentais?

Padre Alcides - Nós chegamos à conclusão que o MEC pode não ter dado recursos, diretamente, às universidades, mas apóia o ensino por meio do FIES e do Pró-Uni. O Pró-Uni está trazendo para dentro das universidades uma classe social que antes não tinha acesso. O período entre 1970 e 1980 foi o de construção da Universidade de Passo Fundo, que se consolida em 1982. Entre este último ano e 1998 fui reitor, sempre com eleição direta da comunidade escolar. Enfrentei a oposição de grupos que queriam administrar a Universidade, o que é legítimo. Os mandatos eram de quatro anos. Só não enfrentei oposição em uma eleição, porque racharam. Quando deixei a Reitoria, fiquei mais dois anos na UPF.

Apesar de toda a competição entre universidades e faculdades isoladas, na região, a UPF está crescendo. Não diminui o número de alunos. No futuro, em Passo Fundo, permanecerão as instituições que têm qualidade.

APL – E a educação brasileira nos últimos dez anos?

Padre Alcides– O modelo criado pelo governo Lula é o modelo cubano. Se possível, coloca-se todo mundo na universidade. Quando eu era secretário de Educação do município de Passo Fundo, recebi reclamação de que professores formados em Pedagogia, de uma “universidade à distância” estavam-se inscrevendo em massa no concurso para o magistério. Disse que, se os diplomas deles estivessem devidamente registrados, não havia problema algum. Encerrado o concurso, pedi uma única informação: quantos formados no ensino à distância foram aprovados. E a resposta foi simples: nenhum.

APL – Como o Senhor vê a evolução da UPF, desde aqueles pequenos prédios no centro da cidade, até a enorme cidade universitária de hoje?

Padre Alcides - Eu vou lá, no Campus, dou uma volta, fecho os olhos. Imagino como era. Abro os olhos e fico admirado.

Em 1967, eu e Murilo visitamos várias universidades americanas. Admiramos bibliotecas e trabalhos comunitários. Não copiamos. Mas nos inspiramos no que vimos. O que nos chamou a atenção foi o estilo horizontal das construções. E a preocupação com a natureza. Algumas pessoas, como o Dr. Paulo Fragomeni, o Antonio Pretto e alguns funcionários, tinham uma preocupação ecológica. O Dr. Mutilo trazia sementes e mudas de árvores e ia plantando pelo campus.

APL – Como foi sua experiência de vigário capitular?

Padre Alcides - Houve dois problemas na Diocese, que enfrentei como vigário capitular. O primeiro foi a ocupação da Fazenda Anoni, uma fase difícil. Não me envolvi muito, mas me incomodei. Cheguei a ser até convidado pelo comandante do I/20, questionando-me sobre o que fazia em determinada data e horário, na área ocupada. Neguei o caso, dizendo que ele estava muito mal informado. Depois chamou-me para dizer que tinha recebido informação errada. Com a chegada de Dom Urbano Algayer, foram conseguidos recursos na Alemanha, para comprar uma área de terras. A Igreja tem responsabilidade social e fez sua parte.

APL – O Senhor sempre teve participação comunitária, desde os movimentos de Ação Católica. Na direção da UPF, o Senhor sempre esteve ao lado e até à testa de conselhos comunitários...

Padre Alcides - Como Reitor, procurei estar presente, cumprindo a função de apoiar iniciativas, como o Conselho de Desenvolvimento de Passo Fundo, e depois, apoiando a organização do CONDEPRO – Conselho de Desenvolvimento da Região da Produção. Os governos sempre impuseram suas vontades.

Os conselhos ensinam a região a pensar seus problemas. Logo depois da Constituição de 88, foi a época boa para os conselhos, valorizando a participação das regiões, e as universidades foram chamadas a participar.

APL – E sua experiência como secretário municipal de Educação?

Padre Alcides - Como secretário municipal de Educação, o prefeito me deu um tratamento diferente. Os políticos sempre interferiram na administração do ensino. Foi uma experiência muito boa, e o prefeito sempre me apoiou.

APL – Temos hoje mais de uma dezena de instituições de Ensino Superior, inclusive com pós-graduação em áreas diversas. Como o Senhor vê o aumento dessas instituições de ensino à distância?

Padre Alcides - Curso de pós-graduação tem de ter qualidade. Na UPF fizemos um convênio com a Embrapa, para a pesquisa da aveia. O intercâmbio entre a UPF e a Embrapa foi muito importante. O que caracteriza uma universidade de qualidade é a pós-graduação, onde se firma a pesquisa. O crescimento da pós-graduação e da pesquisa constituem o ponto forte da UPF.

APL – O Senhor dirige o Tribunal Eclesiástico, na região. Qual é a função desse Tribunal?

Padre Alcides - O Direito Canônico, que disciplina as situações da Igreja, instituiu o Tribunal Eclesiástico, que é acionado em certos casos, como os de crimes cometidos por padres. Funciona como qualquer outro tribunal. A instância sediada em Passo Fundo abrange as dioceses de Passo Fundo, Frederico Westfphalen, Vacaria e Erechim. Temos perto de quarenta causas em andamento. Entre elas, os casos de anulação de casamento. Temos diversos casos onde as pessoas alegam que foram forçadas a casar. Geralmente, a decisão em primeira instância é confirmada. Na Justiça Canônica, o processo também é demorado. Tem de haver pesquisa. Os casos são acompanhados por advogados leigos reconhecidos pela Igreja.

APL – E sua participação na Academia Passo-Fundense de Letras, em anos passados?

Padre Alcides - No tempo em que o Dr. Celso da Cunha Fiori presidia a Academia Passo-Fundense de Letras, fui eleito para o sodalício. Participei algum tempo, mas depois me afastei, absorvido pelos trabalhos na Universidade. Escrevi os livros: A Construção da Universidade de Passo Fundo, em oito volumes; UPF: que horas são? contando minha experiência na Universidade; A Região que se assumiu - narrando minha experiência na presidência do CONDEPRO; e Diário de um secretário de Educação, sobre o período em exerci esse cargo no município de Passo Fundo. Atualmente, estou escrevendo um livro, mais para atender o médico que cuida de mim. É um olhar sobre a UPF, comparando o que acontece hoje com o que acontecia no passado.

Referências