O desagravo
O desagravo | |
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Descrição da obra | |
Autor | Marco Antônio Damian |
Título | O desagravo |
Assunto | História |
Formato | E-book (formato PDF) |
Editora | Projeto Passo Fundo |
Publicação | 2019 |
Páginas | 86 |
ISBN | 978-85-8326-424-8 |
Formato | Papel 15 x 21 cm |
Editora | Projeto Passo Fundo |
Publicação | 2019 |
O desagravo Quando se noticiou que a seleção brasileira de futebol havia concordado em jogar um amistoso contra a seleção gaúcha, formada por jogadores da dupla grenal, o mundo esportivo do Rio Grande do Sul se alvoroçou. A seleção tricampeã do mundo, prestes a disputar a Copa Independência, estaria se apresentando em solo gaúcho. E mais, passou-se a fomentar um clima hostil à seleção e principalmente ao técnico Zagallo, pela não convocação do lateral-esquerdo Everaldo, o único e o primeiro gaúcho a se sagrar campeão mundial, até então. Dizia-se que o jogo era um desagravo a Everaldo, por ter sido preterido entre os convocados para a Copa Independência.
Aqui em Passo Fundo, como não poderia deixar de ser, o falatório sobre futebol era também sobre este jogo. Eu tinha 16 anos de idade e procurava ler os jornais e ouvia os noticiários esportivos sobre o jogo e principalmente sobre nossa seleção. Na semana da partida eu estava com casa quando meu saudoso irmão mais velho, João Romeu Damian comentou que iria a Porto Alegre assistir ao evento e perguntou se eu gostaria de ir junto. Não precisou convidar duas vezes. Além de assistir ao maior jogo de futebol da história, visitaria meu pai, internado no Instituto de Cardiologia, fazia pouco mais de uma semana.
Por que Everaldo não foi convocado para a Copa Independência? Por que os jogadores gaúchos ficaram de fora? Essas perguntas desencadearam uma reação da gauchada que culminou na realização do maior jogo de futebol da história do Rio Grande do Sul.
Apresentação
Primeiro Capítulo, pelo Autor
O Tricampeonato Mundial de 1970
Após tornar-se bicampeão mundial, em 1958 e 1962, com um time descomunal, formado por craques fantásticos, como Didi, Nilton Santos, Pelé e Garrincha, os protagonistas, o Brasil imaginou que jamais perderia outra vez. Mas, a desorganização e a soberba, afundou a seleção na Inglaterra, em 1966.
De volta à terra, com os pés firmes no chão, a Confederação Brasileira de Desporto (CBD), resolveu, para 1970, no México refazer ao passos de 1958, quando formou uma comissão técnica completa e um tempo de preparação adequado.
Mas, para chegar ao México o Brasil teve que passar por fase eliminatória, contra outras seleções sul-americanas. A preparação, pós-1966, começou efetivamente, em 1968, tendo como comandante Aymoré Moreira, técnico campeão mundial de 1962. Porém, antes da fase eliminatória para a copa do mundo, Aymoré deixou o cargo, e, foi convidado substituí-lo, o jornalista gaúcho, radicado no Rio de Janeiro, João Alves Jobim Saldanha. Botafoguense, polêmico e militante comunista, em plena ditadura militar. João Saldanha montou sua seleção, numa espécie de combinado Santos-Botafogo, com alguns reforços e passeou pelos seus adversários, Colômbia, Venezuela e Paraguai, ganhando todos os seis jogos, marcando 23 gols e sofrendo apenas dois. Entretanto, em março de 1970, dois jogos contra a Argentina, com uma derrota, no Gigante da Beira-Rio e uma vitória, no Maracanã, balançaram o cargo de Saldanha. A gota d’água foi o empate em 1 x 1, contra o Bangu, em Moça Bonita, num jogo-treino. Saldanha passou a ser questionado e respondeu, como era seu costume, de forma agressiva. A lenda conta que o Presidente da República, o gaúcho de Bagé, Emilio Garrastazu Médici, se encantara com os gols de Dario, centroavante do Atlético Mineiro, e pediu a Saldanha a sua convocação. O técnico da – 16 – seleção teria respondido: “Ele manda no ministério dele e eu mando na convocação da seleção brasileira”.
Antônio dos Passos, Coordenador da seleção, demitiu Saldanha às vésperas da preparação efetiva para a copa. Especulou-se Dino Sani, então técnico do Corinthians, como novo treinador. Mas a amizade da comissão técnica, formada também pelo preparador físico Admildo Chirol e pelo médico Lidio Toledo, com o técnico do Botafogo Mário Jorge Lobo Zagalo, foi preponderante para que o técnico bicampeão carioca, de 1967 e 1968, voltasse à seleção brasileira. Ele que já tinha uma história dentro dela, como bicampeão mundial, jogando como titular as duas competições, pela ponta-esquerda.
Zagalo fez nova convocação de jogadores para levar ao México. Na relação dos 23 chamados estava Everaldo, lateral-esquerdo do Grêmio, gaúcho de Porto Alegre, para a reserva de Marco Antônio, do Fluminense. Everaldo era um lateral marcador. Era exímio no desarme ao adversário, algo que treinava a exaustão. Conta-se que Everaldo colocava uma pequena toalha em cima da bola e dava o bote. A bola saía do lugar, mas a toalha simplesmente caia no gramado, no mesmo lugar em que a bola estava.
Na verdade desde 1967, nos primeiros amistosos do recomeço da seleção, após o desastre de 1966, Everaldo era chamado. Ás vezes atuava na lateral-direita e, em outras, na esquerda. Sua estréia se deu na Copa Roca, em 1967, contra o Uruguai, junto com Altemir, Alcindo e Volmir, também do Grêmio e Sadi, do Internacional. Embora fosse um excelente marcador, Everaldo não tinha o mesmo desempenho no apoio ao ataque. A bem da verdade, a maioria dos laterais da época, eram mais marcadores. Foi nesse período que apareceram os laterais apoiadores, como Carlos Alberto Torres, na direita, Rildo e Marco Antônio, na esquerda.
Fora do futebol Everaldo era uma pessoa afável, introvertido, educado, de fino trato e trânsito com todos. Em campo também um gentleman, dificilmente apelava para a jogada mais brusca. Violência, então, nem pensar.
Everaldo então foi convocado para a reserva de Marco Antônio, do Fluminense. O Brasil realizou amistosos contra o Chile (duas vezes), Paraguai, Bulgária e Áustria, antes de viajar para o México. Em terras mexicanas realizou jogos-treinos contra o Combinado de Guadalaraja, Combinado de León e Combinado de Irapuato. Em todos os jogos oficiais e jogos treinos, o titular foi Marco Antônio, e, com exceção do treino contra o Combinado de Irapuato, Everaldo não entrou em nenhum momento no decorrer da partida. Nesse treino, Everaldo atuou no segundo tempo.
Foi então uma absoluta surpresa a escalação do Brasil, na estréia do mundial, contra a Tchecoslováquia, no dia 3 de junho de 1970, no Estádio Jalisco, em Guadalajara. Everaldo na lateral-esquerda titular e Marco Antônio, fora. O Brasil venceu por 4 x 1, com show de bola e atuação segura do jogador gremista. Como em time que ganha não se mexe, o Brasil continuou vencendo com Everaldo, o Gauchão, como apelidou o narrador Geraldo José de Almeida, impávido e colosso no lado esquerdo daquele magnífico e insuperável time.
Após golear a Itália, também por 4 x 1, na final, o Brasil vencia o tricampeonato mundial. Everaldo jogou todas e Marco Antônio desapareceu. Pouco antes do primeiro jogo, a imprensa especulou e divulgou várias possibilidades do por que o titular deixara o time. Uns disseram que ele tremeu, teria tido um ataque nervoso. A informação oficial dizia que Marco Antônio se lesionara. Anda não se sabe direito o que aconteceu, mas hoje se tornou irrelevante.
Everaldo, por sua vez, brilhou. Tornou-se o primeiro gaúcho a ser campeão mundial de futebol. Chegou a Porto Alegre, que parou para vê-lo desfilar em carro aberto, com uma verdadeira multidão a ovacioná-lo. Gremistas, principalmente, mas também os colorados se curvaram diante de um herói do futebol.
Índice
- Agradecimentos 7
- Dedicatória 9
- Homenagem 11
- Apresentação 13
- O Tricampeonato Mundial de 1970 15
- A Copa Independência 19
- O Desagravo 23
- Os Dias que Antecederam ao Jogo 27
- A Preliminar 35
- Pós-Jogo 47
- Nossos Craques 51
- LUIZ CARLOS SCHNEIDER 53
- VALDIR ATAUALPHA RAMIREZ ESPINOSA 55
- ATILIO GENATO ANCHETA WEIGUEL 57
- ELIAS RICARDO FIGUEROA BRANDER 59
- EVERALDO MARQUES DA SILVA 61
- JOSÉ LUIZ CARBONE 65
- TOVAR ROMARIZ MACHADO 67
- VITORINO LOPES GARCIA (TORINO) 69
- VALDOMIRO VAZ FRANCO 71
- CLAUDIOMIRO ESTRAIS FERREIRA 73
- ALFREDO DOMINGO OBBERT 75
- ALVIMAR EUSTÁQUIO DE OLIVEIRA (MAZINHO) 77
- APPARICIO VIANA E SILVA 79
- Fontes de Pesquisa 81