O Contrabaixo e a Bossa, entrevista

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O Contrabaixo e a Bossa, entrevista

Em 12/12/2011, por Gadiego Carraro


Entrevista ao CLic RBS[1]

1)   Quando surgiu a ideia de escrever o livro?

Gadiego Carraro: Tinha alguns esboços de meus estudos no contrabaixo e também ideias que foram amadurecendo com o tempo. A experiência acadêmica juntou-se ao desejo da pesquisa e com isso nasceu este trabalho do qual tenho muito orgulho.

2)      Quando tempo você levou para produzi-lo?

Gadiego Carraro: Já são alguns anos de reflexões e experiências que nestes dois últimos anos  foram intensificados,  ganhando uma formatação de livro que contém um cd com exemplos musicais que trata de demonstrar auditivamente aquilo que foi estudado teoricamente.

3)   Como foi a fase de pesquisa? Como foi a fase de procura por bibliografia sobre contrabaixo?

Gadiego Carraro: Fiz um levantamento e percebi a falta de bibliografias teórico-práticas que unissem elementos tanto reflexivos como estilísticos para o contrabaixo, isso despertou o meu desejo de direcionar um livro para esta ótica, contemplando também meus anseios como instrumentista e educador. Por isso esta pesquisa bibliográfica une elementos técnicos, práticos, históricos e educativos, retratando a minha experiência e formação musical que é bastante diversificada e transita do erudito ao popular, buscando diminuir uma lacuna que considero existente.

4) Na obra, você aborda a música em diálogo com outras disciplinas. Com quais disciplinas sua música dialoga mais e por quê?

Gadiego Carraro: A proposta de inserir o diálogo da música com outras disciplinas faz parte da ótica de pesquisa em música na contemporaneidade, como área de conhecimento que hora trabalha interdisciplinarmente sendo observada por vários ângulos de estudo e hora transdiciplinarmente, propondo diálogo com outras disciplinas, como por exemplo a história, educação, filosofia, entre outras. Isso faz parte de um olhar amplo e profundo  da música nos dias atuais.

5) Como você enxerga a fronteira entre erudito e popular para a prática do contrabaixo, tanto historicamente como na atualidade?

Gadiego Carraro: Percebo que hoje em dia está muito mais aberto a visualização da música, seja ela com cunhos eruditos (no qual me refiro a música de concerto) e popular (neste caso música que tem sua base construída no folclore e também na fundamentação tanto prática como teórica, que também pode ter alto nível de erudição). Antigamente o estudo era restrito e consequentemente, manifestações populares não possuíam o mesmo valor artístico, isso também ocorreu no estudo do contrabaixo, algo que atualmente está mudando, sendo a música popular objeto de estudo acadêmico, adentrando a Universidade. Isso é o que proponho neste livro, a união de elementos eruditos e populares, que enriqueçam a prática do estudante sem desconsiderar a formação teórica do mesmo.

6) Na obra, são expostas algumas questões referentes às principais formas de inserção do contrabaixo na Música Popular Brasileira. Podes dar exemplos destas questões?

Gadiego Carraro: Então, proponho um estudo do contrabaixo na MPB, que demonstra sua atuação inicialmente no choro (primeiro gênero que o contrabaixo se insere na MPB), passando pelo samba e chegando na Bossa Nova, estilo estudado mais aprofundadamente , todos demonstrados auditivamente. Posterior a isso, apresento o contrabaixo na sua multiplicidade de funções, seja como instrumento solista e harmonizador, seja como acompanhante e improvisador, propondo visualizar o contrabaixo na diversidade de atuação na música atualmente.

7) A obra é um excelente material para estudantes de música, mas pode ser apreciada pelo público em geral. Quais os temas presentes na obra que mais interessariam quem não é músico, mas aprecia a Música Popular Brasileira e sua história?

Gadiego Carraro: Este material torna-se interessante por vários motivos. Além de focar o contrabaixo na performance da MPB, possui boas orientações a instrumentistas diversos, também propõe a experiência prática sem deixar de possuir uma boa fundamentação teórica, o que sugere sua utilização tanto para músicos letrados como para aqueles que não possuem formação teórica, neste caso poder obtê-la. Para aqueles que desejam interar-se mais profundamente em vários aspectos da MPB, em especial da Bossa Nova e do contrabaixo acústico e elétrico, este material com certeza é um bom começo de leitura e pesquisa.

8) Quanto tempo você passou fora do país? Como foi a temporada pela Europa para divulgar “Influências”?

Gadiego Carraro: Fiquei quase um ano fora do País, tive a oportunidade de experiênciar muitas coisas e afirmar outras, entre elas: o valor da nossa "música". Ao apresentar meu trabalho em vários locais recebi muitos elogios e respeito por ser um músico brasileiro e possuir um trabalho próprio. Isso foi muito relevante, me proporcionou retornar novamente a Itália este ano (agosto de 2011) para novas apresentações e participações em shows de artistas italianos, rendendo-me convites para futuros trabalhos musicais na Europa.

9) A saída para quem quer trabalhar com música instrumental continua sendo sair do Brasil?

Gadiego Carraro: Olha, não necessariamente, mas que o fato de você estar fora ajuda a empreender seus trabalhos aqui, isso é inegável. Penso que lá existe uma valorização mais coesa da arte e da cultura, mas espero e quero fazer o que estiver ao meu alcance para que também aqui no Brasil cheguemos a esse patamar, parece pretensão, mas acho que cada um de nós artistas pode fazer um pouco para que isso aconteça.  Veja bem, sempre que chego em minha cidade natal (Passo Fundo), faço um esforço tremendo para viabilizar algum evento musical que agregue valor artístico e novidade cultural para a cidade, as vezes consigo, as vezes não, infelizmente ainda carecem apoiadores para eventos que gerem cultura e não apenas renda. É necessária a conscientização de que quando se faz “cultura”, é importante haver condições adequadas e boa remuneração ao artista, proporcionando ao público a diversidade cultural . Isso na maioria das vezes não acontece, porém não desanimo, sigo em frente tentando fazer minha parte.

10) Quais os seus planos para 2012?

Gadiego Carraro: Sinto-me realizado por estar cursando mestrado em performance musical na Universidade Federal Goiás, estudando e pesquisando sobre assuntos que tenho o maior interesse, “o contrabaixo e a Música Popular Brasileira”, visando a carreira acadêmica. Além disso, pretendo continuar com meu trabalho como compositor e instrumentista, produtor e arranjador musical, outras paixões latentes em minha vida.

Referências

  1. Entrevista concedida ao Clic RBS – 12/12/2011.