O Brasil cai no Real

From ProjetoPF
Jump to navigation Jump to search

O Brasil cai no Real

Em 05/10/1988, por Aldo Luciano Raffaele Alessandri


Após 621 anos de existência, o REAL, que foi moeda forte dos portugueses, pode ser ressuscitada pelos brasileiros como sendo um meio de paulatinamente retirar o cruzado de circulação, evitar a retirada de mais 6 zeros de nosso dinheiro e favorecer a exportação brasileira, Mercado Comum Europeu.

Aldo Alessandri, Cônsul Italiano em Passo Fundo e colecionador de moedas, faz uma avaliação das mudanças ocorridas no setor econômico brasileiros nos últimos anos, ou seja desde o cruzado até chegar ao REAL, a nova moeda que está em estudo pelos economistas Chico Lopes e o também Deputado Osmundo Rebouças, autor de projeto enviado ao governo, e que após ganhar simpatia deverá ser encaminhado ao Congresso Nacional.

TUDO SE COPIA

Alessandri, fala inicialmente sobre a moeda, lembrando que desde os primórdios tempos, a mesma tem um instinto de conservação e foi idealizada para favorecer a troca. Lembra que no início a troca era feita por alimentos, ou ferramentas além de outros utensílios de necessidade. “Inclusive foi nas escavações de Pompéia que encontraram uma Casa da Moeda, com o que podemos comprovar que logo após o nascimento de Cristo, ou até mesmo antes, a moeda era o veículo usado para se comprar cavalos, bois, armas e mercadorias em geral”, afirma Alessandri.

Lembrou que “o cruzado foi uma moeda lançada por Dom João I, Rei de Portugal, e que foi cunhada de 1409 até 1415, e era denominada de meio Real cruzado devido haver no reverso da moeda flores de Liz conjugadas de maneira vertical e horizontal que deixavam a imagem de uma cruz. Com isto fica provado que a atual moeda corrente no Brasil existe há 577 anos”.

Ainda falando sobre a história de nossas moedas, afirma que na época do lançamento do Cruzado, “a mudança ocorreu porque o cruzeiro no último ciclo histórico ficou desmoralizado e por uma questão psicológica precisava o governo realizar a troca por outra moeda”. Lembra que Getúlio Vargas em 1942, havia realizado a troca do mil réis pelo cruzeiro, alternando a nossa moeda. Mais recentemente o Presidente Castelo Branco, depois de 1964, tirou três zeros do cruzeiro, numa tentativa de recuperar a imagem da moeda.

O CRUZADO NO BRASIL

O certo é que realmente o cruzado parece estar caminhando para o seu final, e então Aldo Alessandri, lembra que no tempo colonial e no Reino Unido do Brasil, mais precisamente no ano de 1724, houve uma cunhagem do cruzado aqui em nosso território que foi até 1726. Essa moeda, pesava uma grama de ouro e chamava-se cruzado porque o 400 réis teve, na época uma desvalorização. O cruzado já era uma moeda forte, mas novamente em 1743, o cruzado voltou com o nome de cruzado novo e se constituía em moeda que passou de 0,36 gramas de ouro por 1,05 gramas na revalorização, e valendo então 480 réis.

Esse cruzado novo foi cunhado na Casa da Moeda de Minas Gerais, instalada na cidade de Vil. Rica, hoje denominada Ouro Preto numa casa de pau-a-pique que, posteriormente foi remodelada por iniciativa do governador Gomes Freire para servir de Palácio dos Governadores, o mesmo prédio que hoje é ocupado pela Escola de Minas da Universidade de Ouro Preto.

Mas o cruzado retornou pela terceira vez no Brasil, e isto ocorreu durante o reinado de Dom João V de 1743 a 1750, quando a moeda continha menos ouro que na vez anterior e valia 400 réis. Em 1831, o cruzado sofreu desvalorização e foi transformado em moeda de prata, que mantinha o valor de 100-200-400-800 e 1200 réis, e durou a impressão até 1848, denominados nessa época de um, dois e três cruzados. Essas moedas, acrescenta Alessandri, foram criadas pelo Reino do Brasil para ter validade apenas dentro do território brasileiro, e no exterior só valia o peso da prata.

HISTÓRIA DO REAL

Aldo Alessandri fala que no período de 1129 a 1383 (300 anos antes de o Brasil ser descoberto), começou em Portugal a Dinastia Afonsina ou de Borgonha com o Rei chamado Dom Afonso I que viveu de 1128 a 1185.

Na época desde primeira dinastia estava cunhada nas moedas das ALFONSUS REX PORTUGA. Na frente uma cruz tipo Bizantina e no reverso algo parecido com a estrela de David. As moedas eram somente de metal, e chamadas de DINHEIRO. Finalmente o seu sucessor Dom Sancho I em 1185 subindo ao trono cunhou uma moeda de outro chamada MORABITINO. E outras várias em prata e cobre.

Passaram-se vários reinados e no ano de 1367 subiu ao Trono Dom Fernando I e lançou a moeda de ouro chamada de GRANDE DOBRA, a média DOBRA GENTIL e a pequena MEIA DOBRA.

Finalmente a moeda de prata denominada REAL, cujo governo brasileiro através do projeto do deputado e economista Osmundo Rebouças quer lançar agora foi também cunhada. A chamada moeda REAL na frente tinha um R e em maiúsculo estilo Romano e em cima uma coroa de Portugal. Apresentava em seu reverso cinco Brasões em forma de cruz (regiões de Portugal que formavam o Reino).

O sucessor de Fernando I, da Dinastia de JOANINA ou de AVIS em 1385 continuou com o Real porém devido a “INFLAÇÃO”, que era tão grande quanto agora aqui no Brasil, transformou o REAL de prata em cobre e no final de seu reinado, já em 1433, o REAL era somente de metal escuro e chamado de “real preto”. Com o passar dos anos veio o cruzado, porém, o REAL continuou sempre de metal.

Foi com a entrada da IV Dinastia de BRAGANÇA que o REAL foi eliminado totalmente, aparecendo somente agora em 1988, conforme está sendo noticiado. Afirma Alessandri, que agora “esperamos que o Real não repita a sua história do passado”.

FUTURO

Aldo Alessandri fala que “se der certo o REAL não deixará de ser a formação de uma nova moeda, pois pelos cálculos atuais, todos sabemos que em 1990, o dólar que hoje é de 530 cruzados, estará valendo 14 mil cruzados e em 1992 e em 1992, estará valendo 50 mil cruzados, a persistir a atual escala”.

Fala que “o Brasil aceitando a proposta do Real baseado na OTN, no dia que estourar a bomba no cruzado, ela passa a oficializar o Real sem a necessidade de eliminar 3 ou 6 zeros como ocorreu nos últimos anos”.

MCE

Fala ainda que “O Mercado Comum Europeu (formado por 12 países) possui moeda somente nas transações comerciais, não utilizada portanto na rua. Trata-se do ECU – Europa Comunidade Unida -. Em metal já foi lançada mas somente para colecionadores. Esta moeda deverá passar a vigorar oficialmente em 1992 quando caírem as barreiras alfandegárias: Ex. qualquer produtor poderá pegar sua produção em Roma e comercializar livremente em Paris. É o comércio livre que todos querem.

Finalizando acrescenta que no seu modo de ver “o REAL seria uma preparação para o Brasil ter condições de exportar no Mercado Comum Europeu, onde em 1992 não haverá mais o dólar, pois o Mercado Comum Europeu é um grupo econômico forte, igualando-se aos Estados Unidos”.