O Argeu Santarém que conheci
O Argeu Santarém que conheci
Em 31/05/2011, por Luiz Juarez Nogueira de Azevedo
O Argeu Santarém que conheci
LUIZ JUAREZ NOGUEIRA DE AZEVEDO[1]
Conheci Argeu Santarém lá pela década de 1960,quando veio de Marau para militar no rádio e na imprensa de nossa cidade. E certo que principiou no rádio, logo depois passando para as fileiras da imprensa. Juntamente com Ivaldino Tasca, chegou a ser meu aluno na Faculdade de Direito, deixando o curso lá pelo terceiro ano, com o que se perdeu também um grande advogado.
Seu primeiro trabalho na imprensa foi no Diário da Manhã. Já então gostava de frequentar a redação de O Nacional. Sob o comando de Tarso de Castro, nela havia um ambiente permanente de confraternização e alegria, descontraí- doe irreverente. Lá estavam naquela época, entre outros. João Freitas. Paulo Pires, Décio Ilha e Ivaldino Tasca, que vieram a se tomar verdadeiros ícones do jornalismo local.
Em seguida, por inspiração de Tarso de Castro egarantido pelo apoio incondicional do velho Múcio, contratado como repórter de O Nacional. Santarém tornou-se titular de uma coluna permanente no jornal. Desde o começo, em textos primorosos. - inspirado no exemplo de Tarso - revelou toda a ironia, o talento, a irreverência e bom humor que sempre caracterizaram seus escritos. Seni nenhum temor, profissional corajoso e independente que era, não hesitava em comentar assuntos de interesse da comunidade, fustigando quando fosse preciso a injustiça e o erro. Fazia isso ainda que a matéria pudesse melindrar os poderosos de então, políticos, empresários ou mesmo militares. Por isso mesmo, volta emeia causava descontentamentos entre aqueles que eram alvo de seus comentários. Alguns até o levaram á barra dos tribunais. Mais de uma vez, devido ao que escrevia e publicava, tentaram enquadrá-lo na famigerada Lei de Imprensa. Como advogado — à época também advogado de O Nacional —sempre o defendi nos tribunais, tendo meus argumentos de defesa acolhidos. Em todas às vezes saiu absolvido e de cabeça erguida. Mesmo com a censura que, de tempos em tempos, era estabelecida, a liberdade de expressão encontrava brechas e conseguia ser assegurada pela atuação de jornalistas destemidos, de advogados que não se deixavam amedrontar e de juízes conscientes, que, malgré tout, exerciam suas prerrogativas com imparcialidade e independência.
Acompanhei e sempre aplaudi sua trajetória como político, quando vereador em Passo Fundo. E depois, quando assessorou a bancada do PDT na Assembléia, e o Governador Alceu Collares. no serviço de imprensa do Palácio Piratini. Muito me diverti com os causos que relata em sua obra prima — A República dos Coqueiros — e com os que constantemente contava nas mesas do Bar Oásis.
Aposentado, retomou à terra e tomou, mais uma vez a escrever em seu amado jornal, agora prestigiado por Múcio Filho e por Múcio Neto. A Coluna do Santa, apreciada e lida avidamente todas as semanas, continuou a ser a demonstração eloquente do talento do inexcedível jornalista que ele foi.
Ao elenco de seus grandes amores — os filhos, a esposa, o Inter e o PDT—somavam-se o Bar Oásis e a Confiaria da Mesa 1,da qual ele se tomou entusiasta e tuna espécie de permanente repórter e porta-voz, chamando-a de "Academia da Mesa 1" Não havia encontro a que não comparecesse, irradiando alegria e bom humor, edocumentando em imagens as presenças e os acontecimentos, como experiente fotógrafo que era. Sua partida causou muita comoção evai deixar muita saudade. Essa admirável figura humana, com sua ética exemplar de amor ao próximo e à vida. foi o Santarém que nos deixou, foi o Santarém que conheci.
Referências
- ↑ Luiz Juarez Nogueira de Azevedo é membro da Academia Passo-Fundense de Letras