Nascimento e crise da universidade

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Nascimento e crise da universidade

Em 31/05/2011, por Dilse Piccin Corteze


Nascimento e crise da universidade

DILSE PICCIN CORTEZE[1]


A Universidade surgiu como contemporânea de uma transição, no momento em que a Europa dos dogmas e do feudalismo iniciava seu rumo ao renascimento do conhecimento, e à racionalidade científica, do feudalismo ao capitalismo. Redescobrindo nos conventos, por obra de judeus e muçulmanos, o conhecimento da filosofia clássica dos gregos, a universidade foi instrumento da criação do novo saber que serviria ao novo mundo, que surgiu entre o fim do feudalismo dogmático e a consolidação do liberalismo capitalista.

De certa forma, a universidade retomava a experiência das “academias” platônicas da Grécia clássica, quando, a partir do século VI a C., o pensamento começou a fazer uma transição do pensamento mítico para a racionalidade.

A inquietação humanista, que fez surgir a lógica na Grécia e, quase dois mil anos depois, o racionalismo na Europa, não é suficiente para criar uma maneira de pensar que responda às exigências do momento. Com isso, o final do século XIX apresentou à humanidade o desafio de imaginar utopias alternativas, ou de sacrificar valores consolidados nos últimos séculos, como a igualdade e a liberdade. Acrescentando-se a isso, a ciência começa a manifestar dúvidas sobre o caminho à certeza. Desta forma, as artes perdem os alicerces dos valores estéticos, e, sobretudo a técnica reconhece a necessidade da ética.

A cidade portuguesa de Coimbra é sede de uma das Universidades mais antigas de que se tem noticia a Universidade de Coimbra, criada em 1288. Para seguir seus estudos superiores, era para lá que iam os filhos de brasileiros abastados, durante o período do Brasil Colonial e Imperial. Os cursos mais procurados eram Direito e Medicina. Ainda nos dias atuais, a universidade é bastante procurada por estudantes de vários países, pelo seus exigentes programas acadêmicos e um elevado número de unidades de investigação acreditadas, sendo assim considerada a mais internacional das universidades portuguesas.

No Brasil, o termo ‘Universidade’ é utilizado, frequentemente, em referência ao conjunto das IES brasileiras, abarcando um conglomerado de instituições com diferentes características quanto ao desenvolvimento das atividades de ensino, pesquisa e extensão, além de tamanho, fontes financiadoras, sistemas jurídicos. Ou seja, denomina um sistema heterogêneo e complexo.

Na década de 1930, no Brasil, o ensino superior passou por grandes mudanças. Universidades foram criadas e organizadas de tal maneira a permitir autonomia didática e administrativa, com ênfase na pesquisa e na difusão da cultura. Em 1934, surgiu a primeira Universidade no país sob estes moldes, a Universidade de São Paulo (USP).

No final da década de 60, a Reforma Universitária de 1968 (RU/68) determinou que as instituições de ensino superior (IES) brasileiras adotassem, via de regra, o modelo de Universidade moderna, que associa ensino e pesquisa e contempla diversas áreas do conheci- mento. A introdução de pesquisa na Universidade, naquele momento, aspiração de diversos segmentos da sociedade, era tida como via para o desenvolvimento científico e tecnológico autônomo. Mas, em menos de uma década, a produção acadêmica e periódicos informativos eram pródigos em abordar a crise da Universidade pública brasileira, focando a discussão nas (im) possibilidades e (des) vantagens do Governo Federal manter o modelo moderno.

Nos anos de 1980, em crise em todo o mundo ocidental (tanto nos países centrais quanto nos periféricos), a instituição acadêmica apresentava-se como custo para os Estados que assumiam configuração neoliberal. Esta temática perdurou até meados da década seguinte, quando a Lei de Diretrizes e Bases de 1996 (LDB/96) e legislação complementar não mais definiam a Universidade como instituição pluridisciplinar que associa ensino e pesquisa. Deste modo, a partir de então, passou-se a debater, mais fortemente, as causas e implicações desta política para a estrutura de pesquisa do país.

Todo o cenário se prepara para viver as inovações trazidas pelo século XXI, mas a universidade, acomodada, reage contra, ou seja, limita sua luta à repetição, à defesa dos currículos, ao monopólio do diploma, à reivindicação de direitos e não raros privilégios, ao cumprimento de normas e planos de carreira. Cristovam Buarque afirma que: “A comunidade universitária esquece que sua grande aventura está em inventar-se outra vez, para ser um instrumento de ruptura, de invenção de um pensamento para conviver com o presente e construir o futuro”.

Apostando nesta reinvenção, os cursos técnicos surgem como instrumento para suprir a urgente demanda do mercado de mão-de-obra especializada, e com isso preencher espaços que os profissionais com cursos superiores, formados por estas universidades, não estão conseguindo suprir.

As mudanças constantes que vêm ocorrendo na sociedade moderna se associam ao processo científico-tecnológico, valorizando as inovações e definindo novas relações de produção e novas regras de convivência entre os indivíduos.

Referências

  1. Dilse Piccin Corteze é membro da Academia Passo-Fundense de Letras