Micos & Microfones Resenha
Micos & Microfones Resenha
Em 26/11/2011, por Paulo Domingos da Silva Monteiro
Micos & Microfones
Paulo Monteiro[1]
Em 1984 o jornalista Argeu Santarém publicou A República dos Coqueiros: Histórias e Estórias de Passo Fundo. O livro constituiu-se num best-seller local, obtendo mais de uma edição em poucos meses. Entre as quase quatro dezenas de causos, alguns dos quais andavam, andam e andarão na boca do povo estão alguns envolvendo radialistas locais.
Pela amplitude social alcançada pela radiofonia ao longo de décadas, as indiscrições involuntárias cometidas por profissionais do ramo, adquirem ampla e imediata repercussão. E como em todas as atividades há pessoas que entram para o folclore por suas atitudes não é diferente no rádio.
A disputa de mercado entre empresas do setor radiofônico contribui para que alguns profissionais adorem um estilo escandaloso para garantir ouvintes. No Brasil, via de regra, os trabalhadores recebem baixos salários. Nas emissoras de rádio, isso não é diferente. Assim muitos radialistas, para aumentar os ganhos mensais, dedicam-se à venda de publicidade, sob comissão. A disputa, entre profissionais, às vezes da mesma empresa, para manterem e ampliarem sua carteira de anunciantes, também colabora para o escândalo.
Um dos aspectos mais tumultuosos é a narração de futebol. Em Passo Fundo, as torcidas de Gaúcho e 14 de Julho divertiam-se com os bordões “raspa a trave”, “tirou tinta da trave” e “passou raspando”. A bola, na verdade, passara a metros de distância das goleiras. Poderiam emocionar os “rádio-ouvintes”, mas nós, os torcedores, que estávamos nos estádios, em especial atrás das traves, ríamos e até gritávamos os nomes dos narradores. Era um espetáculo erguer os volumes dos rádios a pilha.
Helena de Moraes Fernandes, jornalista e radialista, além de professora dessas disciplinas em cursos técnicos e superiores, publicou, recentemente, Micos& Microfones: relatos humorados sobre rádio e televisão (Passo Fundo: Bertheir/Aldeia Sul/ Projeto Passo Fundo, 2011). Em vez de reunir causos aleatórios, como o fez Argeu Santarém, acolhe doze profissionais, formando um número correspondente de capítulos, em sua maioria com mais de um causo. Além de radialistas comparecem apresentadores de televisão, como Paulo Ricardo e Angélica Weissheimer.
São histórias que se tornaram estórias, para fazer um trocadilho entre o bom português e o neologismo, dispensável, que nos veio do inglês. Escritos com a leveza de quem produz um texto radiofônico, os causos contados por Helena de Moraes Fernandes, prendem a atenção, segurando o leitor. Essa é a primeira característica que se exige de um bom narrador.
Li Micos & Microfones: relatos humorados sobre rádio e televisão de um só fôlego, dando belas gargalhadas. Em cada historieta eu via passar ante meus olhos tanto personagens principais quanto secundários. Muitos deles conheço há vários anos. Espero que Helena de Moraes Fernandes, logo, dê a lume, novas histórias sobre radialistas passo-fundenses para que possamos desopilar nossos fígados com a suavidade do seu estilo narrativo.
Referências
- ↑ (*) Paulo Monteiro pertence a diversas entidades literárias do Brasil e do Exterior. Publicou os livros: “A Trova no Espírito Santo – História e Antologia –”, “Combates da Revolução Federalista em Passo Fundo”, “O Massacre de Porongos & Outras Histórias Gaúchas” e “A Campanha da Legalidade em Passo Fundo”, além de centenas de artigos e ensaios sobre temas históricos, literários e culturais.”